nublado

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joguei a tarde fora
para dar lugar às estrelas
que me abandonaram
por um céu nublado
e sem cor

perdi a luz que em mim habitava
a qual me convidava gentilmente
para longe da lava
que me corrói a cada passo
e sem brecha

me perdi no meio da multidão
solucei por uma resposta em vão
diante da incerteza
e do medo
de não me encontrar mais

vivi até perder o fôlego
e perceber que a única coisa que me restava
desprendia-se dos meus dedos
e tomava a mais fragmentada forma
de cinzas

meu âmago derramou sangue
e se desfez em pedaços
na busca por respostas
que jamais quiseram se expor
tampouco me perfurar

o vulcão se revelou ativo
e se mostrou em sua verdadeira forma
tão intensa e fervorosa
que destrói cada milímetro
da minha alma amedrontada

e consigo trouxe um monstro covarde
que insiste em alimentar-se
de um ego deteriorado
de perspectiva
e de vontade

como se esse monstro não fosse eu
como se no fim da linha
de todas as vezes que o limite vem
ainda não guardasse em si
um resquício da lembrança

a lembrança do desejo
da companhia de um propósito
e de quando não sufocava existir

de quando podia respirar
de quando não somente existia
de quando ainda persistia
em viver

gritos de identidade (poesia)Onde histórias criam vida. Descubra agora