sina

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eu abro os olhos e a luz está lá
me faz fechar os olhos novamente
paralisa e me faz querer voltar
para a escuridão

então eu viro para o lado
e o cobertor vira meu esconderijo
as sombras me tornam invisível
e eu não preciso ser alguém
porque nem ao menos sei quem sou

na minha cama eu não preciso
me forçar a suportar o caos
e as dezenas de quilos
do meu corpo
para me manter de pé

mas a vida lá fora não me permite
fugir para sempre
ficar instalada na minha toca
longe de tudo o que consome
a minha energia e a minha vontade

tenho deveres a cumprir
e que sempre estarão lá
esperando por mim

preciso abrir os olhos
e permanecer com eles abertos
pelo resto do dia

preciso levantar e tomar um banho
ainda que não consiga sair da cama
ainda que meu corpo seja um peso
maior que o de costume

preciso comer
preciso estudar
preciso viver

a vida é uma eterna
lista de obrigações
as quais não sou capaz de cumprir

chega a ser cômico
o jeito que eu não pedi para nascer
e apesar disso sobreviver
todos os dias

consumir o oxigênio do mundo
ocupar o espaço de qualquer outro ser
mais digno de existir
ou qualquer outro pedaço de matéria
inanimadamente mais útil que eu

chega até a ser engraçado
o jeito que eu peço todos os dias
para desaparecer
mas não me movo um milímetro
para fazer acontecer

decisões erradas
culpa e nó na garganta
aqui sintetizo a minha vida
a minha eterna sina
da qual corro todos os dias
mas nunca saio do lugar

gritos de identidade (poesia)Onde histórias criam vida. Descubra agora