Luto

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Marie estava fraca. Enfraquecera logo após o parto de Arthur. Vivia exausta; na cama, bebia muita água, sentindo sede o tempo todo. Também urinava muito; o penico sempre precisava ser esvaziado. 

Preocupado com a saúde da esposa, Connor chamou um médico. 

O doutor Hollens a examinou, e chamou Connor para uma conversa particular.

- O que ela tem?!- Connor indagou, contendo o impulso de pular de nervosismo.  Ele passava a mão pelo cabelo, e sentia suas pernas fraquejarem.

- Sr. Skelton, eu não acho que...

- O. Que. Ela. Tem?!- Connor fechou a mão que tremia. 

Hollens suspirou.

- Doença do açúcar. 

- Ela vai sobreviver?

Um tapinha no ombro e um silêncio mortal foi a resposta.

***

Marie estava imóvel na cama, respirando penosamente. Mal podia se mover, de tão fraca que estava. Connor segurava sua mão, tentando não chorar.

- M-marie... p-p-por favor... - Fungou e começou a chorar.- N-não se v-vá... n-não m-me d-deixe só...

- Eu sinto muito, Con... estou fraca, e sinto que não viverei por muito mais tempo...- Ela apertou a mão do marido.- Promete que não vai ficar se lamentando pela casa? Promete que vai cuidar dos nossos filhos da melhor forma possível? Promete que vai se reerguer?

- P-prometo...- Ele lutava para pronunciar as sílabas; sentia que cada palavra estava presa na garganta.- V-você... s-sempre... e-estará no meu coração...

Ela sorriu fracamente e virou a cabeça para o lado.

- Adieu, best of husbands and best of men...- Deu seu último suspiro. 

Connor começou a chorar e a soluçar alto. 

- Por que ELA?! Podia ter sido qualquer outra pessoa, mas ela?!- Ele não se conformava com aquilo. Queria poder tê-la salvado. Queria poder ter feito tantas coisas...

***

Connor não conseguia dormir. Era mais uma noite solitária, englobada pelo luto. Já fazia duas semanas da morte de Marie, e ele, por mais que tentasse, não conseguia dormir, comer ou sair do quarto. Apenas chorava durante boa parte do dia, lágrimas e soluços cheios de dor e desespero. 

Tentando se controlar para não chorar, ele mordeu com força o lábio inferior durante um bom tempo.

Quando viu, o gosto metálico do sangue já estava em sua boca.

O cansaço foi mais forte do que a depressão, e ele acabou dormindo algum tempo depois. No mundo de seus sonhos, viu Marie. Ela estava feliz. O sonho foi tão vívido que ele sentia que podia tocá-la, e que quando acordasse, a teria ao seu lado. Acordou, e o choque foi grande.

Sentindo que a insônia e a depressão se apoderavam dele outra vez, se levantou da cama e foi até a varanda de seu quarto.

Fechou os olhos calmamente, sentindo a noite acabar e o dia se iniciar.

Começou a sentir que tudo o que havia acontecido, desde seu nascimento até agora, fora sua culpa, e que podia ter evitado o exílio se tivesse deixado Charles no cargo. Sentia que merecia tudo de ruim que havia acontecido para com ele; a morte dos pais, os maus-tratos de Ernest, a revolta, o exílio e a morte de Marie. 



Viva La Vida: A vida de um rei exiladoOnde histórias criam vida. Descubra agora