Capítulo 5

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Apesar de todo o esforço de Francine, Madalena não conseguiu superar seu coração partido. Nos dias que se seguiram ela se arrastou da loja para casa e da casa para a loja como um zumbi. Em quinze dias perdeu 5 quilos. A família morava em outra cidade e Francine pretendia acionar algumas das irmãs de Madalena para tentar dar um jeito nela. Aquilo já estava demais. Era uma verdadeira obsessão.

Madalena não se dava conta o quanto estava realmente obcecada por Daniel. Para sua decepção, ele consumira com a conta no Facebook tornando impossível qualquer contato. Por celular era impossível. Tentara direto durante a primeira semana, mas ele não atendeu nenhuma vez. Por fim, desistiu. Aos poucos, porém, uma ideia começou a se formar na sua mente.

Francine percebeu de cara que a amiga estava diferente. Não que fosse uma mudança para melhor, mas algo se transformara nela. Os olhos brilhavam... mas seria de uma forma maligna? Até o sorriso modificara. Quando conversava com Madalena ela parecia estar com a cabeça em outro lugar. Muitas vezes Francine precisava chamar sua atenção para que escutasse o que ela estava dizendo.

Sim, Madalena estava aprontando alguma. E tinha a ver com o tal Daniel.

*

Era uma quinta-feira. O dia amanhecera claro e com céu azul. Madalena acordara com novo vigor e disposição. Seu plano de vingança contra Daniel estava pronto. Chegara a escrever metas para ficar mais fácil de seguir. Sabia que era loucura e nem comentara nada com Francine. Racional como sempre fora, a amiga certamente iria tentar demovê-la da loucura. Porém nada e nem ninguém a demoveria da sua brilhante ideia.

Satisfeita consigo mesma, Madalena pegou a bolsa e saiu para enfrentar um novo dia de trabalho. Tinha uma reunião com dois fornecedores e precisava se apressar. A uma quadra do trabalho, bem em frente à praça principal, Madalena atravessou a rua sem olhar para os lados. Sua mente estava concentrada em Daniel e como o trucidaria sem dó nem piedade.

De repente uma buzina frenética a acordou dos seus devaneios. Madalena olhou para a direita, assustada e surpresa. Um carro vermelho estava praticamente em cima dela.

Madalena não teve tempo sequer de gritar.

*

A vida de Daniel corria serena. Serena até demais. As ligações de Madalena haviam cessado e Jessica não desconfiara de nada. O trabalho também estava bem. Havia vendido dois apartamentos nos últimos 15 dias e uma graninha legal estava para entrar na sua conta bancária. Não precisava de mais nada.

O celular tocou logo depois do almoço. Daniel tinha deixado a esposa dentro de um táxi e se dirigia preguiçosamente para a imobiliária que ocupava um prédio inteiro bem no centro da cidade. Vinha planejando um final de semana glorioso com as crianças quando o aparelho vibrou dentro do seu bolso. Ele atendeu sem sequer olhar o visor. Só podia ser a Jessica.

− Alô?

− É Daniel?

− Sim, é ele mesmo – Algum cliente, pensou ele.

− Daniel, meu nome é Francine.

− Boa tarde, Francine. Em que posso lhe ajudar?

− Sou amiga da Madalena.

Daniel parou no meio da rua. Não esperava por aquela e logo se sentiu desconfortável. Que merda era aquela?

− O que você…

− Só queria lhe informar que Madalena foi enterrada esta manhã – disse ela com a voz fria. – Achei que você deveria saber.

Ele ficou branco.

− Mas… o que… o que aconteceu?

− Ela foi atropelada ontem. Foi tudo muito rápido. E… bem, ainda que o relacionamento de vocês tenha sido breve, achei que precisava lhe avisar. Madalena ficou muito abalada depois que você partiu daquele jeito, deixando só um bilhetinho. Eu tentei de tudo para ajudá-la, mas…

− Madalena… ela se deprimiu por causa daquilo?

O suor escorria pelas costas de Daniel. De repente todo o seu bem-estar fora por água abaixo.

− Demais. Andava displicente com a aparência e até com vida profissional. Não me surpreende que não tenha olhado para os lados ao atravessar a rua. Bem, é isto. Tenha um bom dia.

Ele ficou parado com o celular na mão. As pessoas desviavam dele sem desconfiar o quanto Daniel se sentia péssimo com aquela notícia. Madalena morta! Puxa, não desejava aquilo para ela. E tampouco imaginava que ela ficaria tão deprimida por ter levado um pontapé na bunda. Se pudesse voltar atrás, faria diferente.

Não teria jamais se encontrado com ela na vida.

Daniel foi para a imobiliária e se fechou no escritório. A culpa aos poucos foi tomando conta dele. Merda. Por que um dia resolvera se envolver com uma mulher carente e depressiva? Agora ela estava morta e por sua causa!

Não, não era por sua causa. Ele não tinha culpa se Madalena não tinha sido madura o suficiente para lidar com o fim de um relacionamento baseado apenas no sexo. Era isto, simples assim. Talvez mandasse rezar uma missa para ela.

O AMANTE DE MADALENAOnde histórias criam vida. Descubra agora