Capítulo 8

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Daniel rumou para a imobiliária tentando colocar os pensamentos em ordem. A ida para o shopping na noite passada ainda estava mexendo com seus nervos. Estacionou o carro na garagem e foi para o escritório. Teria uma reunião à tarde e era importante que até lá os nervos já estivessem no lugar.

De qualquer forma a manhã passou rápida. Ao meio dia saiu para almoçar, optando por fazer isto sozinho. Não era comum fazer isto, gostava de ter companhia para comer. Sabia que os colegas já haviam reparado sua mudança de comportamento. Gostaria de ter alguém para contar suas angústias, mas lhe faltava coragem. Parecia tão idiota tudo o que vivera com Madalena, a sua morte estúpida e depois a visão que tivera dela no shopping. Quem poderia entender tudo aquilo?

A reunião começou pontualmente às três horas da tarde. Daniel fez todo o possível para se manter focado. Ele era um dos melhores corretores da imobiliária, tanto que recebia propostas de outras incorporações para trocar de emprego. Pelo menos na vida profissional tudo corria bem. E assim deveria permanecer.

O celular havia ficado na sua sala, para onde ele voltou depois de uma hora. A cabeça doía e Daniel precisava urgente de um café. Antes de sair para ir até a copa, percebeu que havia uma mensagem no whatsapp. Era do filho.

Daniel parou tudo para ver a foto que o garoto de 10 anos havia lhe mandado. Ele estava sorridente na frente da escola, acompanhado de mais dois amiguinhos. Daniel sorriu, encantado. O garoto era a sua cara e como dizia Jessica, em uma versão melhorada. Uma pessoa posicionada mais à direita da foto lhe chamou atenção. Era uma mulher e não tinha nada a ver com as crianças. Não era professora ou mãe de qualquer colega dele.

Era Madalena. E encarava diretamente a câmera.

*

Ele se sentou pesadamente na cadeira, pálido. Naquele momento um colega entrou na sala e presenciou a cena. E se assustou:

− Dani, o que aconteceu?

Daniel custou a responder. Olhou para o colega sem entender direito o que ele estava dizendo:

− Hein? Como?

O celular jazia sobre a mesa.

− Você recebeu alguma mensagem perturbadora? Cara, você está branco feito um fantasma!

Sim, havia um fantasma o encarando na foto que o filho lhe enviara.

− Na verdade estou com um pouco de dor de cabeça. E acho que me levantei muito rápido.

− Tudo bem, você quer alguma coisa? – o colega se aproximou da mesa ainda preocupado com Daniel.

− Eu estava me levantando para pegar café…

− Certo, eu mando alguém trazer.

Com um simples telefonema, em menos de um minuto a moça do cafezinho já havia aparecido trazendo uma xícara de café puro para Daniel. Aquela altura já havia cinco colegas rodeando-o, acreditando que ele estava prestes a ter um ataque cardíaco. Não tinha sequer coragem de pegar o celular e olhar a maldita foto novamente. Porém sabia que precisaria fazer isto. O filho talvez tivesse visto alguma coisa.

E não fosse fantasma nenhum.

Por fim, o gerente recomendou que Daniel fosse embora para descansar, o que ele fez imediatamente. Não avisou Jessica para não preocupá-la e, com as pernas fracas, se dirigiu até o carro e rumou para casa. O celular foi dentro do porta-luvas, desligado. Aos poucos, o medo foi dando lugar à raiva. Podia muito bem ter parado em um centro espírita e ter colocado o nome de Madalena por lá. Mas a sua ira era tão grande que desejava que ela ardesse no fogo do inferno durante toda a eternidade.

Quando estacionou o carro na garagem, o filho veio correndo recebê-lo. Estava surpreso pelo pai ter chegado tão cedo. Os dois se encontravam sozinhos em casa. Jessica trataria de pegar a pequena na escolinha mais tarde.

− Ei, pai! Você chegou cedo hoje!

− Preciso fazer algumas coisas aqui e resolvi fugir do meu chefe – disse ele tentando rir.

− Viu a foto que eu mandei para você hoje?

− Claro que sim, meu filho – respondeu Daniel querendo dar um tom normal a sua voz.

Junior pegou seu próprio celular para mostrar a foto. Fez com que Daniel sentasse ao seu lado no sofá e apontou:

− Veja. Este é o André. Ele vai fazer aniversário no próximo domingo e me convidou. Eu disse que iria. Você me leva?

Daniel mal olhava para os garotos na foto. Seus olhos novamente se cravaram na mulher que encarava a câmera.

− Quem é esta mulher, Junior?

− Quem, pai?

− Esta aqui, de camisa lilás.

Ele apontou, pousando o dedo bem sobre ela para que o garoto não tivesse dúvidas a quem se referia. Junior aproximou os olhos do visor como se estivesse vendo aquilo pela primeira vez.

− Que engraçado… − murmurou o garoto.

− O que é engraçado, Junior? – indagou Daniel assustado com o tom de voz do filho.

− Não havia ninguém na frente da escola quando tiramos a foto.

− Como assim? E esta mulher aqui?

− Ela não estava lá.

Daniel sentiu um frio na barriga. Aquilo era apavorante.

− Bem, mas a mulher está aqui. E saiu na foto nos encarando!

Mais uma vez ele tentou fazer graça e não conseguiu. Junior o olhou estranhamente.

− Você conhece ela, pai?

− Eu? Nunca a vi. Só achei esquisito. Pensei que fosse a mãe de algum dos seus colegas.

− Não é não.

E dizendo isto, Junior saiu saltitante pronto para ir brincar nas ruas do condomínio. Daniel sentiu a dor de cabeça piorar. Deitou-se no sofá sentindo-se a pessoa mais infeliz do mundo. O fantasma de Madalena estava rondando sua vida e a da sua família. Precisava dar um jeito naquilo antes que ficasse louco.

O AMANTE DE MADALENAOnde histórias criam vida. Descubra agora