Daniel levou cerca de dez minutos para encontrar o que ele supôs ser o número do celular de Francine.
− Deve ser este aqui. Você vai mesmo ligar?
Ela nem respondeu. Arrancou o telefone da mão dele e fez a ligação. Francine não demorou muito a atender.
− Alô?
− Quem fala? É Francine?
− Sim, sou eu mesma.
Jessica percebeu que a voz dela ficara estranha.
− Boa tarde, Francine. Meu nome é Jessica e sou esposa do homem que a sua amiga vadia, a tal Madalena, teve uma breve relação há algum tempo.
Silêncio.
− Eu preciso do número da sua amiga. O novo número. O outro ela jogou fora.
−Desculpe, Jessica. Talvez você não saiba, mas minha amiga Madalena faleceu em um acidente de trânsito há algumas semanas.
− Não morreu coisa nenhuma! Ela está aqui na minha cidade atormentando meu marido e rondando a escola do meu filho! Exijo falar com esta puta!
− Jessica, por coincidência aqui do meu lado está a irmã de Madalena. Que tal você falar com ela?
Imediatamente uma voz clara e simpática atendeu ao telefone antes sequer de Jessica proferir alguma palavra.
− Olá, como é seu nome mesmo?
− Meu nome é Jessica – respondeu ela com a voz fria. Daniel observava a tudo quase sem se mexer. – E você é quem?
− Sou Marcia, irmã de Madalena. O que você precisa saber mesmo?
− A vadia da sua irmã manteve um caso extraconjugal com meu marido e está aqui na minha cidade infernizando nossas vidas. Me dê um número que eu possa falar com ela, por favor.
− Querida, sinto muito. Se você quiser conversar com minha irmã, terá que ir a um centro espírita.
Jessica sentiu o coração bater mais rápido.
− Eu quero…
− Amiga, ela morreu em um acidente de trânsito. Foi atropelada por um carro. Sim, ela estava muito triste pelo relacionamento ter acabado e acho que isto foi determinante para a distração dela ao atravessar a rua – a voz de Marcia assumiu um tom de tristeza. – Peço desculpas em nome da nossa família pelo transtorno que ela causou à estabilidade do seu casamento. Mas lembre-se. Seu marido veio até nossa cidade porque ele quis.
− Mas eu…
− Posso ajudar você em mais alguma coisa?
Jessica desligou o telefone muito pálida. Encarou Daniel e sussurrou:
− Falei com a irmã dela.
− Da Francine?
− Não, da Madalena. Ela confirmou que sua amante está morta.
Seguiu-se um silêncio estranho. Daniel murmurou:
− Eu não disse?
Ela ficou em pé, muito agitada e esfregando as mãos. Olhou para Daniel quase em estado de pânico.
− Viu o que você fez? Olha o mal que está fazendo para a nossa família!
Daniel se sentia arrasado. Toda a solidez da sua vida estava se desmoronando. Encarou a esposa procurando palavras para acalmá-la. Contudo, ele estava tão nervoso que não conseguiu dizer nada.
− Não podemos mais deixar o Junior sozinho em casa. Ela pode fazer mal ao garoto. A todos nós!
− Jessica, caso Madalena pretenda fazer mal a alguém será a mim – ele mostrou o braço para ela. – Aliás, ela já deve ter conseguido seu objetivo.
− Você… você acha que ela é… um espírito? Um fantasma?
− Acho sim, Jessica. Eu não vejo outra explicação.
− Meu Deus… − sussurrou ela sentando ao lado dele. – O que nós vamos fazer agora?
− Rezar.