Jessica chegou em casa com Larissa e estranhou encontrar Daniel atirado no sofá aparentemente dormindo. A garotinha logo se jogou por sobre o pai aos gritos. Ele despertou meio assustado e levou alguns segundos para entender que já era quase noite e que Jessica estava parada ao seu lado com uma expressão muito estranha:
− O que você está fazendo em casa?
− Eu saí um pouco mais cedo.
− Por qual motivo? – ela perguntou com as mãos na cintura.
− Uma terrível enxaqueca.
Daniel se levantou com o propósito de ir tomar um banho e fugir das perguntas inconvenientes da esposa.
− Você? Com enxaqueca? Desde quando?
− Desde hoje – respondeu ele de má vontade, lembrando-se da foto que Junior havia lhe enviado. – Você me dá licença? Eu vou tomar banho.
Ela assistiu o marido subir as escadas lentamente. Enxaqueca? Mentira. Era algo muito maior. Tinha mulher na jogada. O desgraçado devia estar lhe traindo!
A confirmação veio meia hora mais tarde. Jessica estava na cozinha preparando o jantar com as crianças correndo e gritando a sua volta. Daniel não tinha saído ainda do banho. O telefone tocou. Junior correu para atender e veio em seguida com o aparelho na mão.
− Mãe, é a tia Valquíria.
Era a irmã mais velha de Daniel e que morava com a mãe em Santa Catarina. Será que havia acontecido alguma coisa com a sogra? Um pouco apreensiva, Jessica atendeu:
− Alô?
− Jessica? É Valquíria. Como estão as coisas por aí?
− Tudo bem – respondeu ela estranhando aquela ligação. – Como vai a dona Jandira?
− Ela vai bem. E quer saber por que o Daniel não vem visitá-la!
Jessica ficou muda por alguns instantes. Não entendeu direito o que Valquíria queria dizer.
− Ela… está com saudade do Dani?
− Claro! Faz seis meses que ele não dá as caras! Por que vocês não aproveitam o próximo feriado e dão uma passadinha aqui?
Jessica sentiu um calorão subir pelo corpo. Segurou com força o telefone enquanto respondia tentando manter a voz firme:
− Acho ótimo. Eu… eu vou falar com ele. Daniel está no banho agora. Chegou mais cedo hoje com uma enorme dor de cabeça.
− Deve ser consciência pesada. Ei, aguardo resposta, ouviu? Diga para ele me ligar!
− Claro, vou falar sim, Valquíria.
− Até mais, querida. Mande um beijo para os pequenos.
Furiosa, Jessica desligou o telefone bem devagar. Cretino. Onde ele se enfiara durante um final de semana inteiro? Quem era a mulher que o estava atormentando? Seria alguma amante? Naquele momento Daniel surgiu na cozinha vestindo um bermudão. Ao ver a cara da esposa e o telefone nas suas mãos, ele perguntou inocentemente:
− Alguém ligou?
− Sua irmã – e Jessica empurrou o telefone de encontro ao peito dele. – Parece que a minha sogra está com saudades de você.
Ela não voltou mais para a cozinha. A comida queimou e Daniel teve que improvisar sanduíches para as crianças. Quando foi dormir, Jessica estava em sono profundo.
*
O café da manhã no dia seguinte foi em silêncio. Jessica pouco abriu a boca e Daniel teve que fingir que estava de ótimo humor para as crianças não desconfiarem de nada. A van escolar passou em seguida e levou Junior. Jessica terminou de arrumar Larissa sem olhar para a cara de Daniel.
− Acho que devemos conversar mais tarde – disse ela por fim pegando a bolsa para sair.
− Sim – concordou Daniel. Na verdade ele não estava com a menor vontade de discutir a relação. A conversa seria tensa. Daniel seria obrigado a confessar que fora parar em outra cidade para transar com uma mulher que nunca tinha visto na vida.
Ela morrera. Era um fantasma. Estava lhe perseguindo.
Jessica o mandaria à merda.
Ela saiu de casa puxando Larissa pela mão e Daniel se viu sozinho. Seu dia prometia ser nervoso. Era melhor que fosse trabalhar e se preocupar com outras coisas. Pegou a pasta e foi embora. Amaldiçoou o dia que conhecera Madalena, tanto virtual como pessoalmente. Desgraçada!
