No final das contas, Daniel conseguiu se salvar depois de passar quase 5 dias na UTI. Durante aquele tempo em que se dividiu entre o hospital e as crianças, Jessica contou com a ajuda também dos vizinhos. Para aumentar o seu terror, nenhum deles percebera uma mulher com as características de Madalena naquela fatídica noite. Quando Daniel acordou, a primeira coisa que ele fez foi perguntar por Madalena. Mas ninguém sabia dizer nada. Nem mesmo a polícia dera muita importância para Jessica quando ela relatou sobre a presença da mulher. Afinal, ninguém a tinha visto. O certo é que o casal ficou apavorado com a possibilidade de Madalena aparecer novamente na vida deles. Um mês depois, logo que Daniel conseguiu se recuperar totalmente do ferimento na cabeça, a família fechou a casa e não se ouviu falar mais neles.
− Nunca pensei que fosse dar tão certo...
Francine encarou a amiga. Ambas estavam sentadas na varanda da casa de Madalena tomando chá e comendo bolachinhas. A tarde de domingo estava perfeita para jogar conversa fora.
− Você se arriscou muito, Madi.
− Não sou do tipo que leva um pé na bunda e cruza os braços. Por óbvio eu teria que fazer alguma coisa. Ainda mais depois disto – e Madalena olhou para uma cicatriz recente que trazia no braço esquerdo.
− No final das contas, foi o seu atropelamento que lhe deu toda a ideia para destruir Daniel...
− Você vai me chamar de louca, mas o acidente veio na hora certa – sorriu Madalena. – Não me importei com os ferimentos. Quem mandou eu não olhar para os lados? Porém, foi depois disto que todo meu plano de vingança começou a fluir de verdade.
Francine deu uma gargalhada.
− Eu mereço um Oscar pela minha atuação. Aliás, não sei se o Daniel e esposa são muito burros ou eu que sou uma atriz em ascensão não descoberta por Hollywood.
− Ah, mas eu não fico atrás não. E aquela vez que passei por irmã de mim mesma? Achei que aquela imbecil da Jessica se daria conta da farsa daquela situação!
− Eu queria ter sido uma mosquinha – disse Francine mastigando uma bolacha – quando os dois pensaram que você era um fantasma, na madrugada em que o Daniel bateu com a cabeça no chão, lá no condomínio.
− Sabe que ali foi a única vez que senti medo?
− Medo de ser descoberta?
− Em absoluto. Temi pela vida dele. Embora desejasse muito que ele pagasse pelo que fez comigo, nunca desejei a sua morte. Nossa, a batida que ele deu com a cabeça no chão foi terrível. Pensei em assumir que estava viva e ajudar.
− Graças a Deus não houve nada. E você conseguiu se vingar.
− Sim, felizmente ele não sofreu sequela nenhuma. Então... me considero vingada. Vida que segue.
Francine olhou para Madalena e perguntou desconfiada:
− Mas… você superou o que sentia por ele?
Madalena olhou para frente e seus olhos se perderam no horizonte.
− Ah, sei lá. Quer dizer, superei. Acho que superei.
− Madi…
− Ei, não me arrependo de nada! E fique sabendo que se Daniel aparecesse aqui na minha frente, eu botaria aquele ordinário para correr!
− Esqueça aquele homem. Ele não vale nada. E é tão cagão que desapareceu com medo de um… fantasma!
As duas riram e deram por encerrado o assunto. Logo mais à noite Madalena já tinha combinado de conversar com um novo paquera via Facebook. Ainda não havia contado nada para Francine, pois queria ter certeza que o cara era legal e valia a pena um relacionamento. De qualquer forma Madalena estava muito empolgada. Não tanto quanto ficara com Daniel, mas já era alguma coisa. Uma nova perspectiva, pelo menos.
Eram nove horas quando Madalena saiu do banho. Pretendia comer alguma coisa e depois se acomodar na frente do computador e conversar com o seu gato. Foi quando a campainha tocou.
− Ué? Quem será a esta hora? Deve ser a dona Fátima querendo uma xícara de açúcar...
Madalena abriu a porta sem sequer conferir quem era pelo olho mágico. E deu um grito.
Daniel a encarava com seus belos olhos frios. Ela olhou por trás dele. O homem estava sozinho. O carro estava estacionado do outro lado da rua.
− Oh, Dani… − gemeu ela. Lentamente abriu seu robe lilás. – Você voltou para mim...
− Voltei – sussurrou ele empurrando-a gentilmente para dentro da casa. – Somente para matar você.
Dez minutos depois Daniel deu a partida no seu carro. Saiu da cidade calmamente sem olhar para trás.