Jessica e Daniel observavam o casal de filhos correrem no parque. O casal se alojara na grama aproveitando o dia de sol quente.
− O que você tem?
Daniel olhou para a esposa. Respondeu tentando disfarçar:
− Eu? Como assim?
− Desde ontem você está estranho. Mais quieto, pensativo... Aconteceu alguma coisa no trabalho?
− Claro que não. Lá está tudo bem. Tenho até outra venda a caminho. Estou normal.
Mas não estava. Daniel só não sabia que o seu péssimo estado de espírito estava tão evidente. A ligação da tal Francine o deixara abalado.
− Parece que tem alguma coisa perturbando você – insistiu Jessica.
− Não há nada – devolveu Daniel já irritado. – Estou bem. Talvez um pouco cansado. Esqueça isto, entendeu?
E para encerrar o assunto, ele se levantou e foi atrás das crianças. Jessica deu de ombros e resolveu deixar por aí. Com o tempo iria passar.
*
Mas não passou. Por mais que Daniel tentasse tirar Madalena da cabeça, os momentos que passaram juntos iam e vinham a todo o momento. Desgraçada. Raiva, pena e culpa. Estes eram os sentimentos que tinha por Madalena. Precisava parar de pensar nela ou ficaria louco.
Eram três horas da manhã quando despertou suando de um sonho com ela. Quando abriu os olhos a impressão que teve foi que a encontraria ao lado da sua cama, pronta para levá-lo para o inferno ou onde mais ela estivesse morando agora. Sentou na cama escutando as batidas do próprio coração, olhou para os lados e não viu nada.
Não era para haver nada mesmo, disse Daniel para si mesmo. Madalena estava morta e enterrada e fim de papo. O resto era coisa da sua cabeça. Jessica se mexeu na cama, se virando para o outro lado. Somente este movimento foi o bastante para dar um susto em Daniel. Gostaria de jamais ter atendido a ligação de Francine. Sinceramente, ele não precisava ter sabido da morte de Madalena. Eles não tinham mais nada a ver. Por que ser avisado então? Tenso, Daniel levantou e foi tomar um copo d’água. Jurou para si mesmo que tiraria aquela mulher da mente. Não aguentava mais viver daquele jeito.
A promessa que fizera a si mesmo durou cerca de três dias. Durante este tempo, Daniel conseguiu levar a vida com mais tranquilidade, recuperando até mesmo o sorriso nos lábios e o bom humor característico. Naquela tarde Jessica ligara perguntando se a noite não poderiam ir até o shopping comprar a televisão nova para as crianças, prometida há mais de um mês. Ele concordou prevendo uma noite agradável em família. Depois que analisara todos os riscos que correra em ir atrás de Madalena, Daniel estava dando um tempo para suas escapadas. Por isto, momentos como aquele ele vinha valorizando bastante. Compras, cinema, lanches. Sem dúvida uma ótima maneira de encerrar o dia.
Eram sete horas da noite quando todos os quatro chegaram ao shopping. As crianças adoravam ir até lá. Antes de qualquer coisa, Daniel e Jessica foram a algumas lojas pesquisar os preços das televisões. Era um pouco difícil de concentrar com os pequenos dando palpites e correndo em volta. Jessica anotava os preços e as condições de pagamento em um bloquinho para depois analisarem juntos. A intenção era sair do shopping já com o aparelho. Depois de passarem em três lojas, foram até a praça de alimentação comer um lanche e verificar as anotações. Daniel fez as contas e viu que seria possível comprar mais outro notebook. O seu já estava defasado e seria interessante adquirir um mais moderno. As crianças estavam quietas comendo cachorro quente enquanto ele fazia alguns cálculos no celular. Sem querer Daniel olhou para frente.
Madalena o encarava do outro lado do shopping.