O plano de Mourão

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Brasília

Bolsonaro desembarcou do avião presidencial. Seus eleitores, que ainda não haviam se arrependido, acenavam e faziam baderna ao olhar o presidente desfilando no aeroporto. Jair havia acabado de chegar da reunião do G20, onde passou muita vergonha por criticar todos os outros presidentes, além de se sentir excluído por não saber falar inglês.

Assim que entrou em seu carro de milhões de dólares comprado com o dinheiro público, Bolsonaro relaxou, algo que não fazia há alguns meses. O motivo era muito simples, o presidente não parava de pensar na confusão que havia se metido com Fernando Haddad, agora sua imagem e sua popularidade estavam nas mãos do petista, que se quisesse poderia publicar o caso deles dois.

Jair estava divorciado de Michele. O que culminou a separação foi a existência de inúmeros casinhos que o homem possuía. Mas a mídia não ficou sabendo disso, o único que sabia era apenas seu vice, Hamilton Mourão. Bolsonaro já havia se envolvido com vários homens, mesmo passando para seus eleitores uma versão completamente diferente, onde ele era um homem heterossexual e homofóbico.

- Chegamos senhor presidente.

O homem de sessenta e quatro anos saiu do veículo e foi andando rapidamente para dentro do palácio da Alvorada, no qual Mourão o esperava para uma reunião. Assim que adentrou o ambiente espaçoso e iluminado deparou-de com o vice-presidente, que esbanjava centenas de papéis na mão.

- Posso ao menos tomar um banho?- perguntou Jair desabotoando o terno preto que estava usando.

- Você nem liga pra higiene pessoal. Então senta aí que eu tenho uma bomba.

- Pode começar - disse Jair sentando-se em sua poltrona presidencial.

Hamilton organizou os papéis que estavam em sua mão direita, agora como se estivesse procurando por uma única folha, de maneira desastrada, com a mão esquerda. Enquanto isso, Bolsonaro suspira pesadamente passando as mãos ásperas sobre a testa, subindo logo em seguida para a franja lambida demonstrando estar preocupado.

- Que porra General! Vai demorar muito aí?

O vice-presidente apenas ignorou o comentário agressivo. Continuou procurando pelo que precisava, sem ao menos se importar se estava irritando Bolsonaro, ou não. Este por sua vez, esfregava as mãos contra o braço da cadeira, ora levando-as ao rosto, ora apertando os joelhos.

Hamilton Mourão percebeu toda a inquietação do outro, já sabendo o motivo de todo esse comportamento. - Você fez certo em se livrar do Haddad.

- Eu sei - Jair Bolsonaro respondeu simplista.

Depois de alguns minutos Mourão finalmente achou a folha que tanto procurava. Caminhou em passos lentos até o presidente, entregando-lhe a folha. - Conseguimos bolar um golpe para ficarmos no poder por mais quatro anos e expulsar todos os comunistas e petistas do país, sem falar que graças a Sérgio Moro e a turminha dele conseguimos um documento que condenará o ex-presidente Lula para sempre.

Bolsonaro estava aéreo de mais para escutar o que o General Hamilton estava dizendo. Sua mente viajava longe, especificamente para a Europa, perguntando-se como Fernando Haddad estava, ou que ele estava fazendo agora que estava longe de casa.

- Depois que aprovarem a pena de morte será muito mais fácil nos livrar dos comunas, principalmente do ex-presidente Lula e sua comitiva que serão sentenciados por corrupção e lavagem de dinheiro, que você e eu sabemos que nunca aconteceu, mas será melhor para o nosso governo.

A verdade doía, mas precisava ser dita. De todos os homens que já se relacionou, Haddad foi o único por quem desenvolveu algum tipo de sentimento. No entanto, agora que era presidente da República Federativa do Brasil não poderia jamais assumir o que sentia, primeiro porque todos os seus eleitores fanáticos pensavam que ele era heterossexual, homofóbico, machista, racista e xenofóbico, por esse motivo votaram nele. Segundo, seria uma vergonha para os militares, e ele tinha medo de ser morto por eles. Toda essa situação estava deixando Bolsonaro angustiado de tanta preocupação.

Precisava falar.

- Os comunistas que não conseguirmos matar, exilaremos na Russia ou Cuba. Ainda vamos destruir a Amazônia e aniquilar os indi... - o homem mais velho estava a compartilhar o plano maligno para os futuros dias de governo quando Jair o interrompeu proferindo uma frase inacreditável:

- O Andrade está esperando um filho meu.

Longos minutos de puro e inquietante silêncio. Talvez Mourão não tenha gostado da notícia, aliás, quem gostaria de saber disso? Uma notícia que pode afetar diretamente os planos do partido.

- E o que você fez em relação a isso?

Bolsonaro apoiou o lado direito da cabeça em sua mão direita, que estava sustentada pelo braço pressionado na mesa de madeira. O homem de olhos azuis coçou levemente a têmpora, em seguida respondeu com pesar:

- Tirei o Andrade do país.

O general suspirou aliviado. - Fez bem, se não ele não escaparia das mãos dos militares. Só não mando buscá-lo para que seja condenado, pois geraria uma enorme polêmica ao descobrirem que ele espera um filho do presidente da república.

- Não me importo com o que você fará aos petistas e aos comunistas. Apenas deixe o Fernando e o meu filho fora disso, tá ok?

- Como quiser, mas para garantir, tenho um pedido a fazer.

- O que? - Jair perguntou já esperando por algo não muito agradável.

- Case-se novamente com Michele. A sua popularidade precisa crescer novamente, para isso, precisamos mostrar aos brasileiros que você se importa com a família e luta por ela.

Bolsonaro deixou sua mão, que apoiava a têmpora, cair com força sobre a mesa fazendo um som alto que assustou o vice. - Não vou me casar novamente!

- Por que não? Por acaso se esqueceu que você defende a família conservadora, capitão?

- Não porra, não esqueci. Mas depois que vocês saíram espalhando por aí que a Michelle estava me traindo, vou ficar conhecido como corno manso.

- É só desmentir. Muito simples.

Jair Messias ao perceber que não adiantaria nada relutar com o seu vice-presidente, cedeu. - Tudo bem, mas não se esqueça do combinado.

- Não esquecerei. Todavia o Haddad é muito chegado ao Lula, certamente a morte do ex-presidente irá afeta-lo.

- Nesse caso, não divulgue nada.

- Certo, então assine os papéis para podermos dar início ao nosso plano.

Assim que Bolsonaro terminou de assinar todos os papéis, Mourão saiu do cômodo, deixando o presidente sozinho. O de cabelos castanhos claros levantou-se e caminhou até uma grande janela, onde observava a movimentação mínima do lado de fora.

Arrependia-se das palavras duras que dissera a Fernando, mas precisava seguir em frente. O Brasil a partir daquele momento trilharia o mais glorioso caminho de toda a sua história, finalmente os liberais estavam no controle, logo a petralhada seria fuzilada no Acre e nos outros Estados.

Enquanto Jair encontrava-se perdido em seus pensamentos sanguinários, uma pessoa adentra o cômodo, posicionando-se praticamente ao seu lado. - Olá Jair.

Bolsonaro sequer movimenta-se. - Eae Paulo Guedes.

O Ministro da Economia dá um sorriso pervertido. - Senti sua falta, meu bombonzinho.

Jair retribui o sorriso na mesma intensidade, logo passando a ponta da língua entre os lábios. - É uma honra recebê-lo, meu Porto Ipiranga.

Muitas pessoas desconfiavam da relação do presidente Jair Bolsonaro e do Ministro da Economia, Paulo Guedes. E não era para pouco, pois Jair sempre fazia questão de deixar algumas pistas no ar ao fazer comparações de sua relação política com o Ministro.

Talvez ele fosse apenas um conquistador barato, que no final das contas, não sentia nada por ninguém, nem se quer pela amada pátria que jurou respeitar.


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