Você está estranho

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Lembro que depois do episódio da briga, Jair Bolsonaro e o grupinho dele não se meteram em confusão pelo resto do mês. A verdade era que nenhum deles gostava de apanhar do Ciro, pois o cearense não tinha dó de ninguém, e se visse qualquer baderna envolvendo proto-neoliberalismo chegava na porrada.

- Bater nos militantes nazistas era bom, mas a sua companhia era melhor ainda - disse o mais velho sorrindo de canto. - Se não fosse por você, seria impossível concluir o curso.

Encolhi os ombros e novamente voltei a brincar com os dedos. Detestava ficar com vergonha, principalmente quando era com o Ciro, já que com o Bolsonaro era algo completamente normal pelo simples fato de estarmos nos relacionando. Ainda tímido pelo comentário, apenas sorri como resposta. Não demorou muito para que os nossos pedidos chegassem. O garçom os deixou sob a mesa juntamente com a conta. O meu prato era incrivelmente colorido, e também parecia muito saboroso mesmo sendo uma mistura de sabores completamente antagônicos.

Ciro apenas me observava minunciosamente como se procurasse descobrir algo. Fiquei um tanto quanto incomodado com o seu olhar, não que seja desagradável, muito pelo contrário, aqueles olhos castanhos encantam qualquer pessoa, e não é atoa que ele está sempre rodeado de homens e mulheres o desejando. Sendo assim, me pergunto se ele desconfia de algo.

Toda essa situação é constrangedora para mim. Uma hora eu estou bem com o Jair me amando, cuidando de mim e prometendo mil e uma maravilhas, em outro momento estou completamente assustado com a noticia de que vou ter um filho do homem que amo, e no ultimo momento, o mais dramático da minha vida, Jair me engana.

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Olhava para o relógio em meu pulso a cada segundo, não estava mais conseguindo conter toda aquela inquietação que insistia em pulsar no meu coração. Balançava o pé freneticamente enquanto esperava um e-mail que estava quase meia hora atrasado. O e-mail era do Dr. Geraldo Alckmin, mesmo concorrendo a presidência, ele também exercia o cargo de médico clínico.

Manuela D'Ávila sentou-se ao meu lado deixando uma xícara de chá verde, já que a mesma sempre percebia meus ataques de ansiedade e tentava me ajudar. Agora, a causa da minha ansiedade resumia-se em descobrir o motivo pelo qual venho me sentindo mal durante as últimas duas semanas. Por observação, tenho uma possível resposta, mas espero que não seja isso.

Dez minutos depois, ouve-se um toque rápido e agudo vindo do computador, a garota de cabelos curtos deslizou a mão direita sobre o mouse do aparelho certificando-se que era a mensagem que eu tanto esperava. Ontem, fui junto à Manuela ao consultório de Alckmin, contei o que estava sentindo e ele receitou um simples exame de sangue, e agora, chegou o tão esperado resultado.

Nos olhamos por longos minutos. Então, D'Ávila pronuncia-se: - Quer que eu veja pra você?

- Acho melhor, certamente vou ler errado o resultado - sorri tentando disfarçar o nervoso.

A morena faz login em meu e-mail e logo começa a procurar pela mensagem de Geraldo Alckmin. Não demorando muito ela a encontra e, tão ansiosa enquanto a mim, começa a ler as informações contidas na carta eletrônica. Depois de alguns minutos, percebi que Manuela estava com uma expressão assutada em seu rosto, o que só confirmava as minhas dúvidas.

- Manu? O que está dizendo ai?

- Eu acho melhor você mesmo ver - Manuela se afastou um pouco para a esquerda deixando um pequeno espaço para que eu me pudesse ter acesso. Sendo assim, me sentei em frente ao computador e comecei a ler o e-mail.

Logo quando terminei de ler, Manuela perguntou: - Fernando, pode me explicar o que está acontecendo, por favor?

- A-Ah... Manu eu não sei como isso aconteceu... - respondi mais nervoso que antes.

Ela riu ironicamente. - Ah, mas eu sei! Fernando você disse que o seu lance com o Bozo, quer dizer, Bolsonaro não iria passar de beijos e abraços.

Abaixei a cabeça e deixei o ar sair pesadamente com um suspiro. - Foi bem mais que isso...

- Meu Deus, Nando! Você tem ideia do que isso significa? Não você não tem. Na primeira oportunidade Bolsonaro abandona você e o bebê, e ainda tem coragem, se por acaso vir a tona o relacionamento de vocês dois, de denegrir a sua imagem.

- Ah, Manu, eu não sei o que fazer agora. Eu não estava esperando por isso...

D'Ávila se aproximou um pouco mais a ponto de poder me puxar para um abraço confortável. Em seguida dizendo: - De qualquer forma Fernando, parabéns. Por mais que esse bebê seja filho daquele fascista, eu irei ama-lo assim como amo você - ela pôs uma de suas mãos sobre a minha barriga e fez um carinho.

Eu ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo, afinal foram poucas as vezes que eu e o Jair tivemos relações, diria que no foram no máximo duas. Agora, me via completamente perdido.

Deitei minha cabeça no ombro da minha vice enquanto ela ainda me abraçava com o seu braço esquerdo, já que sua mão direita ainda permanecia em minha barriga. Após soltar o ar mais uma vez, desabafo: - Manu, você sabe muito bem como essa questão é vista no Brasil. Agora que milhões de brasileiros resolveram ser conservadores da família tradicional, que no caso não inclui um homem gestante, serei ridicularizado.

- Eu não acho. O que acontece realmente é que as pessoas se importam muito com o que as outras vão pensar, e se eu fosse você não me envergonharia disso, mas vá logo se preparando porque o Bozo vai chutar a sua bunda.

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- Fernando, ômi volta pra terra - Ciro estalava os dedos em frente à minha face me assustando, pois eu estava distraído.

- Desculpa. O que ia dizendo mesmo? - perguntei envergonhado pelo ocorrido.

- Que no final das contas Sérgio Moro se deu bem.

- Ah sim, conseguiu o que tanto queria: condenar Lula.

Continuamos conversando. Comecei a comer a torta com o suco, que não estava tão ruim quanto imaginei, mas eu sei que em casa, o baldinho, meu grande amigo quando o enjoou aparece, está me esperando. Assim que terminamos, Ciro Gomes pagou a conta, mesmo eu insistindo em contribuir, e ofereceu-se para levar-me de volta ao apartamento. Aceitei.

O trajeto até o apartamento foi silencioso. Durante o percurso pude perceber que o cearense olhava muitas vezes para mim, mas fingi estar distraído. Eu sei muito bem que o Ciro desconfia de algo, mas por enquanto não vou contar nada a ele, pelo menos até reavermos nossa amizade.

Assim que chegamos agradeci sorrindo gentilmente. - Muito obrigado Ciro.

- Não há de que. Se precisar de ajuda, você tem o meu número.

O mais velho piscou para mim e deu partida no carro saindo em alta velocidade. Em seguida respirei fundo e entrei no edifício indo em direção ao meu quarto. Ao adentrar o ambiente suspiro aliviado me jogando no sofá.

As palavras de Manuela ainda martelavam em minha cabeça.

" O que acontece realmente é que as pessoas se importam muito com o que as outras vão pensar, e se eu fosse você não me envergonharia disso "

Tirei o casaco o jogando longe, pois não estava com a mínima paciência para pendurar. Olhei para a elevação em minha barriga, que por sinal já estava bem visível, e carinhosamente acariciei, dizendo num tom baixo: - Eu sinto muito por tudo isso, mas eu não estou preparado...

Com isso chorei a manhã inteira.

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Obrigada por lerem s2

Ignorem alguns erros, são 01:45 da manhã e o sono foi embora. De qualquer forma estou bastante animada com a fanfic.

Espero que estejam gostando, caso queiram deixar alguma sugestão, vou atender.





O meu amor não é você.Onde histórias criam vida. Descubra agora