CAPITULO 9- UMA PORÇAO DE ESPERANÇA

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Trix levantou a cabeça e quase gritou enquanto a dor disparava por seu pescoço rígido. Os músculos se contraindo e esticando rapidamente fora resultado de uma noite desconfortável e mal dormida. Raios diurnos vazavam por entre os furos irregulares causados por traças nas cortinas velhas e opacas, iluminando seu rosto e fizessem com que piscasse uma ou duas vezes.

Tateava cegamente os móveis ao seu redor, sentindo a superfície de cada um; a quase maciez do amontoado de panos que fora obrigada a dormir, a aspereza da madeira antiga da parede e uma deslizada súbita que seus dedos sofreram ao tocarem o criado encerado a poucos centímetros de distância da cama.

Reconhecendo a sensação que o seu tato identificara na noite anterior, soube que seus óculos estavam delicadamente dispostos sobre o objeto como deixara anteriormente – pelo menos esperava -, mas felizmente lá se encontrava tal.

As hastes simples encaixaram-se perfeitamente atrás de suas orelhas, fixando as lentes em frente a seus olhos juntamente com o apoio do nariz, tornando o borrão que enxergava antes um mundo mais detalhado. O quarto no qual fora designada – por incrível que pareça – tinha aspectos parecidos com o seu quando ainda possuía um lar fixo, antes de ser raptada pelo vulto, como – o tão pouco conhecido - Jonathan descrevera na noite anterior, sendo forçada a reviver um grande trauma.

Por uma fração de segundo, uma saudade incondicional passou a tomar conta de seu interior, apertando seu coração como cipós apertavam uma árvore, ao mesmo tempo em que um calafrio percorria sua espinha ao lembrar-se do frio que fora submetida pelo encapuzado antes de ser encontrada no estada de quase morte.

Dispersando-se dos pensamentos e encarando o espelho a sua frente, percebeu o quão seu cabelo se encontrava desgrenhado, fios frisados e despenteados mesclavam-se em pequenos nós. Não que sua aparência fosse o primeiro tópico em sua lista de preocupações, no entanto, causar uma boa impressão aos responsáveis por seu treinamento seria, pelo menos na opinião da garota, uma coisa importante.

Com um tanto de insegurança, despiu-se, atenta – mesmo que tal coisa fosse improvável de acontecer – a olhos curiosos que resolvessem espiona-la, a garota sempre tomava muito cuidado, mesmo estando em lugares propriamente seguros a ela. A roupa cuidadosamente dobrada e deixada sobre a escriva se encontrava agora com uma tênue camada de poeira por cima, mas nada que algumas espanadas com a mão não resolvessem.

Esticando-a, era possível perceber que não passava de um tecido bem fino, costurado com um pano flexível que se alongava com os movimentos do corpo, no entanto, a delicadeza de sua aparência passava a impressão de que com um mínimo passo a peça fosse se rasgar por completo, desfiando e passando a ser somente um monte de trapos inúteis. Mas ao que parecia, o tamanho fora adequado a seu corpo, ajustando-se em suas poucas curvas e disponibilizando conforto.

Virando-se para o lado, enxergou uma pequena centelha, vinda de outras roupas, cuidadosamente penduradas na penumbra da noite enquanto a garota dormia sobre o fraco efeito das ervas medicinais dada a ela pelas curandeiras, tais remédios haviam também disponibilizado que seus machucados, cortes ou quaisquer outros danos fossem rapidamente curados. A blusa e calças de tecido bege refletiam um pouco a luz do sol. Certamente não usaria somenteaquela vestimenta para o treinamento, no entanto, temia que fosse algo como couro, que pesasse seus ombros e desse, em parte, mais desconforto a seus movimentos.

Ajustando as peças a seu corpo e torcendo para coloca-las da maneira correta, sentiu o pouco peso de ambas sobre seus ombros, o tamanho era um pouco maior que a mesma, porém com uma ou duas ajustadas – dobrando as mangas -, ficara ideal para um melhor uso, encarando novamente seu reflexo e percebendo o quão estava mudada de uns poucos dias para o atual, seguiu em frente.

RAPUNZEL A HISTÓRIA NUNCA CONTADAOnde histórias criam vida. Descubra agora