CAPÍTULO 3- A MISSAO DO DESESPERO

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O jeito como o matagal balançava não era natural. As altas folhas de samambaia juntamente com as gramíneas que nasciam no chão eram bruscamente jogadas para frente quando uma bota de couro negro passava correndo sobre elas. Nos galhos das árvores pássaros e macacos marrons observavam de maneira curiosa os movimentos. Animais silvestres que corriam por perto daquela trilha agora se afastavam com medo de serem pisoteados. Ficara claro que naquele momento algo passava no meio de toda aquela vasta imensidão verde.

O ar cheirava a umidade e os raios de um sol nascente que ultrapassavam a folhagem das árvores batiam de forma suave nas plantas no chão, porém em certos momentos enquanto a estrela se movia para cima, acertava além da cor da clorofila, um feixe de macios cabelos vermelhos e algo branco que claramente pertenciam aos seres que corriam de forma descontrolada por ali. Lilly não tinha destino, simplesmente colocara seus pés e pernas para funcionar e correra quando vira aquilo, os pelos cor de neve, os olhos mais amarelos que a esfera dourada acima de sua cabeça, aquela linha rosa e volumosa que vinha desde o lado esquerdo de sua testa, passava pela pálpebra e terminava um pouco acima das bochechas, os lábios levantados exibindo os caninos, aquele que tinha a forma de um velho amigo seu, um lobo.

Aquele ser assustador a perseguia desde sua madrugada mal dormida. Ela aumentara sua velocidade, não sabia ao certo se ainda estava sendo perseguida pelo animal, Não, isso definitivamente não é um animal, pensara enquanto vasculhava sua mente em busca de palavras que pudessem definir o que de fato era aquilo. E com o crack de um galho se quebrando a resposta veio. Lobisomem.

Lilly estava correndo de um lobisomem, ela de certa maneira se sentiu burra, fora ingênua de perceber o que enfrentava antes. Rapidamente ela estendeu uma de suas mãos formando uma bola de eletricidade, rumou para a direita e, na árvore mais próxima, lançou-a mirando a raiz e correu com mais força ainda.

A árvore que fora acertada possuía um tronco grande e grosso, com toda a certeza atrasaria ao menos alguns segundos o bicho, os segundos que ela tanto precisava. Olhando para cima, Lilly procurou o mais longo cipó que podia encontrar, por um bom tempo isso foi em vão até que, por pura sorte, achou um não muito longe do local. Voltou a correr e antes mesmo que respirasse já estava escalando a estrutura parecida com uma corda, em meio caminho percebera o quão tola fora, não testara a resistência e com um estalo, caiu agonizada no chão.

De início uma chama de desespero se ascendera em seus olhos, e após, uma dor obtusa em seu cotovelo, seguida por uma pontada na coluna. Por poucos momentos aquilo a paralisou, mas bastou apenas isso para que um gigantesco lobo a deitasse na terra e ameaçasse desfigurar a sua garganta.

A fera rosnava de maneira ameaçadora enquanto passava a língua em seus lábios. Lilly tentava não demonstrar medo em seu rosto, afinal, havia histórias que diziam que essa sensação exalava um cheiro prazeroso a eles. Não que acreditasse, mas naquele momento tudo que ela queria era se manter viva.

– O que você quer lobisomem? – A ruiva perguntou enquanto virava o rosto por conta do hálito do lupino. Os caninos ficaram mais expostos como se ele estivesse se divertindo – Vamos saia de cima de mim. Agora! – corvos voaram dos galhos acima com o grito em que pronunciara a última palavra, porém um tom de medo era perceptível em sua voz.

Visto que o outro não iria sair daquela posição, Lilly levou, sorrateiramente, uma de suas mãos em direção à pata traseira do híbrido apertando os macios pelos e descarregando uma onda de energia no bichano. Automaticamente, seus pelos se eriçaram, porém foi só isso, nada aconteceu, ele continuou lá, impune, sem nenhum ferimento físico ou psicológico.

A face que estava sem expressão mudou para algo parecido com uma falsa fúria quando percebeu a intenção da jovem de eletrocutá-lo. Arreganhou sua boca e um rosnado alto, grosso e feroz escapou de sua garganta. Instantaneamente o rosto da garota se modificou e pavor se instalou, ela sabia que estava morta, sabia que aquele seria o seu fim. Ele atacou.

RAPUNZEL A HISTÓRIA NUNCA CONTADAOnde histórias criam vida. Descubra agora