CAPÍTULO 5- O PODER DE UM VELHO INIMIGO

2 0 0
                                    

Perante aquela horrível cena, pavor e incredulidade se instalaram no rosto da quimera, os olhos verdes ficaram mais abertos, as sobrancelhas elevaram seu nível e o coração acelerou. O rosto pálido com manchas vermelhas, ele reconhecia claramente aquilo. Naquele inverno nem tão antigo assim, a nevasca estava incrivelmente forte... não ele não queria se lembrar daquilo, utilizara todas as suas forças para esquecer aquele rosto, porém era inevitável, bastava um simples olhar e toda a sua tristeza voltava a habitar aquele órgão que bombeava líquido vermelho por seu corpo.

Encabulado com aquilo e continuando a encarar o rosto da jovem, mal sentiu as mãos de Ruby pressionando e cutucando seu ombro quimera, fora despertado somente pelo grito que a lobisomem soltara ao cortar a palma de sua mão nas escamas de Jonathan.

– Merda! – deixou escapar. O sangue saía do ferimento deixando um filete escarlate por onde passava, uma pequena gota escorreu e pingou de sua mão, rumando ao chão como a primeira gota de uma chuva vermelha. Em poucos segundos atingiu o solo sem nutrientes, mas não foi só aquilo, ao ser absorvido pela terra a névoa que os cegava foi embora, simplesmente subiu ao céu e dissipou-se por completo, como açúcar em uma tempestade intensa.

A dor que ia se esvaindo aos poucos instantaneamente parou de latejar por conta da surpresa de Ruby, com o campo de visão aumentado a lobisomem pôde ver mais detalhadamente a paisagem pútrida, como no local onde estavam, não havia muitas árvores, as poucas que haviam eram maiores e mais grossas do que as do campo onde anteriormente andavam com cautela.

O céu continuava negro, mas agora passava a ligeira impressão de ser natural, como se do lado exterior a Colina do Forcado um véu preto caíra por completo sobre os cidadãos de Waincrad. Voltando os olhos para frente ela podia ver poças de sangue, porém este era mais escuro, como se estivesse ali há mais tempo. Jogados sobre eles haviam corpos, pálidos e quase sem vida, inflando de vez em quando o peito em uma tentativa quase inútil de fazer oxigênio circular por suas veias.

Correu o mais rápido que pode até um deles, ajoelhou-se, não ligando para a mancha permanente que acabara de causar em sua calça de couro negro, os cabelos castanhos daquela jovem eram incrivelmente sedosos, um tom tão escuro que passava a impressão de ser ruivo, seus olhos fixavam-se na negritude salpicada de estrelas acima de sua cabeça. Mesmo com a obscuridade, era possível notar que as íris daquela garota eram verdes, porém estavam sem vida, desfocados e a beira do desespero.

Juntamente com o líquido rubro abaixo dela, enxergavam-se poucos, porém ainda muitos grãos de areia, pintados bruscamente de vermelho. Raciocinando e ligando as peças, ela pode ter certa opção de achar que a garota caída era uma dominadora, o que de fato era incrível, dominadores, mesmo não parecendo, tinham uma resistência notável e dificilmente cederiam em uma batalha.

Olhou mais a sua volta, ela queria poder ir em direção as outras silhuetas jogadas, mas suas expectativas foram por água abaixo ao escutar um zunido elétrico. Voltou o olhar para trás, e surpreendeu-se ao dar conta que Jonathan permanecia ajoelhado ao lado de outro corpo, as mãos segurando um objeto cintilante, fonte daquele som, passava a ligeira impressão de ser feito pelo mesmo material da adaga brilhante agora presa em seu cinto.

Murmurou palavras em uma língua estranha, desconhecidas por aquelas duas garotas ali e até mesmo para aquele jogados no chão, instantaneamente ele ganhou mais luminescência, mais, mais e mais. O artefato cristalino emanava uma luz pura tão ofuscante que a loira, juntamente com Lilly, tiveram que tapar os olhos. Ficou daquela maneira por um pequeno tempo e após isso virou pó, se desintegrou transmutando-se para nada mais nada menos que uma espécie de poeira brilhante, como um enxame de vagalumes voando com plenitude e calma pelo ar.

RAPUNZEL A HISTÓRIA NUNCA CONTADAOnde histórias criam vida. Descubra agora