Lucile estava convicta de que Anne nem notaria. Não era idêntico, mas similar o bastante e não era como se os convidados fossem fiscais de calçados para observar a diferença, honestamente. O sapato era perfeito. Era o que Lucile pensava, ao menos, antes da vendedora abrir a boca e estragar suas expectativas.
– Só há um problema – Lucile grunhiu baixo, de forma quase que inaudível. – Não são sapatos para dança.
A outra vendedora, ao lado de Benjamin soltou um riso baixo, mas todos a olharam.
– Como se saltos altos fossem feitos para nos deixar confortáveis, não é mesmo? – ela perguntou para Lucile, sorrindo ternamente e sussurrou: – Só foram feitos para dificultar nossa fuga de homens.
A garota riu alto, o que atraiu a atenção de Benjamin para ela. Havia achado extremamente engraçado a visão da própria vendedora acerca do produto que vendia. Lucile passou alguns segundos mirando o chão, ponderando se diria ao amigo o que ela dissera, mas a ideia fugiu da sua cabeça e preferiu guardar para si mesma, como um segredo.
– Bem, confortável ou não, são eles ou nada – ela disse e olhou para Benjamin, como se quisesse sua opinião para saber o que faria a seguir.
– Podemos dar mais uma olhada, se você quiser, Luci.
– Ahn... Não, está tudo bem, temos que voltar logo mais para o hotel, o céu está cada vez mais escuro e não acho que tenho tanta sorte para encontrar um sapato tão parecido quanto esse – ele assentiu e pressionou os lábios um contra o outro.
Ao saírem da loja, Lucile insistiu para que pedissem um táxi por estar com as pernas exaustas, mas Benjamin simplesmente se negou, visto que o hotel era relativamente perto. Lucile reclamou do tanto que tinham que andar, implorando para que, se ele insistia tanto em caminhar, ao menos a levasse no colo. Ele riu e a olhou de sobrancelhas erguidas, mas ficou sério ao ver que ela fitava distraidamente o local ao seu redor. Ela estava em sua frente, com os cabelos pretos e desgrenhados ondulando mais ainda ao ritmo do vento, um brilho curioso em seus olhos. Benjamin controla a vontade de estender a mão e tocá-la, permitindo sua razão falar mais alto e deixando apenas que um pouco da felicidade dela se derrame sobre ele.
– Pavard, vai chover.
O jogador leva míseros segundos para perceber que ela o encarava, apesar de parecerem séculos, mas não é o caso.
– Não se preocupe, temos tempo até chegar ao hotel.
– Você virou um profissional do tempo e não me avisou?
Ele espera até que seus olhos encontre os dele.
– Você vai derreter? É feita de açúcar, por acaso?
– De onde você acha que minha doçura vem?
– Você está mais para amarga, Deschamps.
– Deschamps?
Ele olha para o outro lado, balançando a cabeça e segurando o riso.
– É seu sobrenome.
– Mas você nunca me... – ela parou ao sentir pingos de chuva solitários tocarem suavemente sua pele e o encarou. – Eu avisei!
Benjamin se vira para ela, preparado para o olhar de raiva que certamente iria encontrar, mas ela não demonstrava nada disso. Em seu lugar, Lucile o observada com uma expressão divertida.
– Quem chegar por último paga um jantar! – ela gritou ao sentir a chuva mais forte e se apressou em correr. Apesar de Benjamin ter iniciado em desvantagem, treinamentos avançados na academia e treinos de futebol logo o fizeram ultrapassá-la. Embora Lucile tenha batido os pés para dizer que o hotel não seria perto o suficiente para não ir de carro, a impressão que teve foi de que haviam chegado em dois minutos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sponsored by Aphrodite
RomansaParis é mundialmente conhecida como a cidade do amor e está há 624 quilômetros de Stuttgart, mas foi na Grécia, há 2255 quilômetros de distância, onde tudo começou. Benjamin Pavard é o novo herói nacional da Seleção Francesa de Futebol e irmão de su...