Quem é você?

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Lá vai, chegou o momento em que eu me explico.

Então, é que eu não sou exatamente como qualquer garoto sul-coreano de 17 anos. Quer dizer, acho que eu até pareço bastante normal. Não uso drogas, nunca agredi alguém - vivo -, não bebo a ponto de dar PT, nem fumo - tudo bem, só daquela vez em que o Jake me pegou.  E Não tenho nenhuma tatuagem – por enquanto.

Estou sempre mudando cor do meu cabelo, afinal isso é bem comum na maioria dos adolescentes na Coreia do Sul. À parte, minhas botas e meu estilo de roupas despojadas, não sou do tipo que exagera no preto. Nem uso esmalte escuro nas unhas. No final das contas, sou um adolescente sul-coreano perfeitamente normal e comum.

A diferença, bem pequenina – pra não dizer enorme – é que eu falo com os mortos.

Talvez eu não devesse dizer assim. Talvez devesse dizer que os mortos é que falam comigo. Quer dizer, não é como se eu saísse andando por aí procurando esse tipo de conversa. Na realidade, tento evitar ao máximo essa coisa toda o mais que posso.

Mas o negócio é que às vezes eles não me largam.

Estou me referindo aos fantasmas.

Não acho que eu seja maluco. Pelo menos não mais maluco que qualquer outro garoto no auge da sua adolescência. Digamos que talvez eu posso parecer maluco para certas pessoas. Pelo menos a maioria do pessoal no bairro onde eu morava certamente achava isto: Que eu era um garoto perturbado.

Mais de uma vez puseram os conselheiros da escola para cuidar de mim. Às vezes chego a pensar que talvez até fosse mais fácil simplesmente deixar que me trancafiassem.

Mas mesmo que me mandassem para o nono andar de Bellevue em Nova York- que é onde eles internam os "loucos" – eu provavelmente ainda não estaria a salvo dos fantasmas.

Eles me achariam.

Eles sempre me acham.

Ainda me lembro do primeiro. Lembro-me dele com a mesma clareza das minhas outras lembranças daquela época, o que significa que não me lembro muito bem, pois tinha apenas cerca de três anos. Acho que me lembro tão bem quanto me lembro de ter livrado um camundongo das garras do nosso gato, mantendo-o protegido em meus braços até que minha mãe, horrorizada, o arrancasse das minhas mãos.

Puxa vida, eu só tinha 3 anos, tá? Na época, ainda não sabia que a gente devia ter medo de ratos. Nem de fantasmas, por sinal. Por isto é que, quatorze anos depois, nenhum dos dois me assusta. Talvez me espantem, às vezes. E certamente me chateiam um bocado. Mas me dar medo?

Nem um pouco.

A aparição, exatamente como o camundongo, era pequena, cinzenta e desprotegida. Até hoje não sei quem era. Mas eu falei com ela, alguma blablação de bebê que ela não entendeu. Um fato: Os fantasmas não entendem crianças de três anos, como aliás ninguém entende. Ela só ficou me olhando tristemente do alto da escada do nosso prédio. Acho que eu estava com pena dela, assim como tivera pena do camundongo, e queria ajudá-la. Só não sabia como. De modo que fiz o que qualquer criança de três anos faria. Corri para a minha mãe.

Foi então que aprendi minha primeira lição a respeito dos fantasmas: só eu sou capaz de vê-los. Quer dizer, é claro que outras pessoas também podem vê-los. Caso contrário, não teríamos casas mal-assombradas, histórias de fantasmas, seriados de mistério e tudo mais. Mas existe uma diferença. A maioria das pessoas que veem fantasmas só veem um. Já eu vejo todos os fantasmas.

E quando eu digo TODOS, é todos mesmo. Qualquer um. Qualquer pessoa que tenha morrido e por algum motivo ainda esteja por aí, em vez de ir para onde deveria ir, eu sou capaz de ver.

A Terra das Sombras - Taekook Ver. - [REVISADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora