Capítulo: OITO √

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O caminho da casa de Lauren até o hospital era quase sempre feito em quinze ou vinte minutos, mas Priscilla bateu o Recorde e fez o caminho em dez minutos.

Priscilla sabia que a preocupação com Natalie era anormal para ela. Sim, ela se importava muito com seus pacientes, mas não do jeito que ela estava se importando naquele momento, com aquela paciente. Mas na cabeça da médica, aquilo era só porque Natalie era amiga de Camila.
Nada mais.

Ela entrou no hospital e foi rapidamente para o quarto da morena, onde Cecília acabava de sair.

- Dra. Pugliese, desculpa te chamar, mas eu vi você e sua afilhada nesse quarto e eu não sabia pra quem mais ligar. – A enfermeira tentava se desculpar.

- Tudo bem Cecília. – A morena ofereceu um sorriso fraco para a outra mulher. – Como ela está?

- Mais calma. Ela não parou de chorar totalmente, mas, está muito melhor do que quando eu entrei aqui hoje de manhã.

- E... Ela disse o que aconteceu?

- Eu não estava entendendo quase nada do que ela falava por causa dos soluços, mas ela disse alguma coisa sobre alguém que ligou pra ela da França... – Cecília respondeu confusa.

Priscilla assentiu.

- Eu vou ver como ela está. – Ela disse já abrindo a porta.

Cecília assentiu e seguiu seu caminho pelo corredor.

A morena entrou lentamente e o jeito que Natalie estava em cima da cama a fez sentir uma dor no peito.

A morena tinha lágrimas nos olhos, seus dedos encostavam o curativo na perna e seu olhar... Era um olhar vazio.

- Natalie? – Priscilla a chamou baixinho.

A mulher na cama levantou os olhos e a morena lhe mandou um sorriso fraco. Priscilla se sentou na poltrona, e descansou suas mãos na cama onde Natalie se encontrava.

O silêncio tomou conta do quarto por vários longos minutos, até que Natalie começou a falar.

- O Chris é um amigo meu lá da França e ele é dono do estúdio junto comigo... Ele me ligou hoje... – Natalie nem tentava lutar com as lágrimas que saiam de seus olhos. – Ele não sabe o que aconteceu, eu não queria preocupar ninguém... Ele estava falando sobre o estúdio... Ele disse que os alunos estão sentindo a minha falta, que eles disseram que o Chris é bom, mas eu sou a melhor dançarina... – Ela chorava.

Priscilla em um ato inconsciente, segurou a mão de Natalie e a morena não hesitou em segurar a mão da outra morena.

- Eu não vou poder mais dançar, eu não vou poder mais dar aulas pra eles... Dançar e ter meu próprio estúdio sempre foi meu maior sonho. E agora eu não vou poder mais fazer o que eu mais amo.

Priscilla não sabia o que dizer para a morena, ela não podia dizer que Natalie voltaria a dançar do jeito que ela dançava antes. A morena poderia voltar a dançar, claro, só não do mesmo jeito. Não era impossível, mas a chance era mínima.

- Eu sei que eu iria morrer se eu não tivesse amputado a minha perna, mas, eu não faço ideia do que eu vou fazer depois do casamento da Mila... Como é que eu vou voltar ao meu trabalho de professora de dança sem metade da minha perna? E eu fico imaginado os meus alunos... Eu treino crianças pequenas até dançarinos que fazem peças de teatro. Como eles disseram... O Chris é bom, mas, ele não consegue treinar dançarinos de teatro... – A morena parara de chorar, mas seu olhar era triste.

- Natalie eu... Eu não sei o que dizer... – Priscilla confessou.

- Você não precisa dizer nada só... Será que seria muito se eu pedisse pra você ficar aqui comigo? – A morena perguntou.

Priscilla sorriu fracamente.

- Não. Eu fico aqui. Não é pedir muito não.

- Obrigada. – Natalie falou com um sorriso fraco em seus lábios.

A morena assentiu, retribuindo o sorriso.

- Priscilla... – A morena chamou depois de alguns minutos de silêncio.

- Sim?

- Quando é que eu vou ter alta?

- Só mais alguns dias Natalie. – Priscilla respondeu sorrindo.

A morena abriu a boca para pedir uma coisa, mas desistiu.

- Fala. – Disse Priscilla.

- Eu estava pensando... Será que... Seria possível você me levar pra passear pelo hospital? Eu realmente não aguento mais ficar deitada...

- Humm. Acho que te tirar desse quarto um pouquinho não vai fazer mal nenhum. Eu posso sim, só espera que eu vou pegar uma cadeira de rodas ok? – A morena sorriu e levantou da poltrona em direção à porta.

Em poucos minutos Priscilla estava de volta, trazendo a cadeira de rodas e com Cecília ao seu lado.

A enfermeira ajudou a morena a colocar Natalie na cadeira e deixou as duas novamente sozinhas.

- Pra onde você quer ir? – Priscilla perguntou empurrando a morena para fora do quarto.

- Você disse noite passada que você ia ver as crianças... Eu quero ir vê-las. – Natalie respondeu virando a cabeça na direção da morena.

- Okay, mas deixa eu te avisar. É meio sofrido.

- Tá bom.

Elas seguiram até a ala infantil em silêncio.

A morena abriu a porta e Natalie viu um monte de crianças sentadas em cadeiras ou camas com aparelhos ligados aos seus braços, e outras em mesas espalhadas pela sala. O coração da latina se apertou ao ver que mesmo desse jeito, todas aquelas pequenas criaturas sorriram quando viram as duas mulheres entrarem pela porta.

- Tia Pri! – Uma das meninas que estava sentada na mesa veio em direção ás mulheres.

Priscilla saiu de trás da cadeira de rodas e abriu os braços para a menina.

- Lily!

- Quem que é essa Pri? – A pequena perguntou timidamente.

- Essa aqui é a Natalie, ela é uma amiga minha. – Priscilla explicou.

A menina virou sua atenção para Natalie.

- Você veio brincar com a gente igual a Pri faz?

A morena ficou sem resposta por um momento, mas depois assentiu.

Priscilla empurrou a cadeira de Natalie até o centro da sala e apresentou a morena para as crianças.

Elas ficaram um tempo brincando com as crianças. Natalie sorria com a interação de Priscilla com os pequenos.

Depois de um tempo, Priscilla resolveu que seria melhor levar Natalie de volta para o quarto, a morena já estava se sentindo cansada.

Chegando ao quarto, a morena ajudou Natalie a subir de volta na cama e se sentou novamente na poltrona ao seu lado.

- Você vai muito lá? Ver as crianças? Porque elas parecem tão familiar com você. – Natalie perguntou.

- Eu vou... Quando eu estou com raiva, ou chateada com alguma coisa. Ir lá me ajuda. – A morena respondeu.

- Por quê? – A morena perguntou curiosa.

- Ah, ir lá me lembra de que existem pessoas com problemas muito maiores que os meus. Ir lá e ver que mesmo naquela situação eles conseguem sorrir me fazem pensar que... As vezes eu sou tão egoísta sabe? Ficar brava com o mundo só por que meu trabalho está muito estressante ou por que minha vida não está como eu gostaria... – Priscilla explicou.

Natalie assentiu e ficou pensativa. O que Priscilla havia falado a fez pensar na própria situação.

Ficar sem uma perna não era fácil. Mas ela ia sobreviver. E algumas daquelas crianças tinham doenças que não tinham cura e mesmo assim elas estavam sorrindo. Não tinha motivos para ela ficar de mal com o mundo e chorar o tempo todo.

Natalie não percebeu quando pegou no sono, mas ela tinha certeza de que as mãos de Priscilla estavam acariciando seus cabelos quando ela o fez.

☆Nᴀᴛɪᴇsᴇ☆ ✓ M̲̅E̲̅ S̲̅A̲̅L̲̅V̲̅A̲̅S̲̅T̲̅E̲̅ Onde histórias criam vida. Descubra agora