Capítulo 10 - Dia primaveril

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∞ Heolstor Nithercott

   Nos últimos três meses as coisas passaram a ficar melhores. Violett estava, pouco a pouco, melhorando. Todos da pensão rodearam-na para fazê-la feliz (assim como seus colegas de trabalho). Ela aprendeu a sorrir de novo, e Deus sabe em como fiquei contente em ter conseguido tirá-la do quarto naquela noite! Aliás, após aquele dia, ela ficou mais amigável (um modo muito bem-vindo) e parece estar tentando ficar mais próxima de mim. Parece querer minha amizade. Mesmo que não seja minha intenção criar laços muito fortes aqui na América, eu não consigo, simplesmente, dizer "não".

   Eu estava indo melhor do que eu esperava na faculdade. Os métodos de ensino da Black são exemplares, até porque eu cheguei a frequentar algumas aulas extras junto a algumas turmas de medicina e era engraçado em como nenhum professor conseguia ser tão eficaz quanto ela (era difícil prestar atenção nas aulas com tanta gente me olhando ou rodeando, de qualquer forma). Foi essa visão e modo diferenciados sobre a matéria que a fez se tornar uma prodígio. É um fato. Entretanto, temo que eu vá superá-la em breve. Baterei o novo recorde da Universidade de Stanford como formando em apenas contáveis meses (e duvido muito que haverá alguém que me superará).

   Finalmente, o sentimento de orgulho!

***

30 de abril de 1937,

Sala de autópsias...

- Muito bem, Heolstor. Você trabalhou como funerário para a igreja, certo? Um tanto incomum, mas, tudo bem, não vem ao caso. A questão é que você fazia o preparo dos corpos sem saber os procedimentos forenses usados. Não quero nem saber que métodos usava para deixar o corpo apresentável, sendo um leigo no assunto! – Violett diz, enquanto veste o avental, máscara e as luvas de borracha.

   Visto-os também.

- Eu aprendi o básico com o funerário que estava se aposentando, no qual eu entrei no lugar. – Tento justificar.

   Ela faz que entendeu, porém:

- Duvido que esse senhor tinha diploma.

- Não tenho como argumentar contra.

   Ela sorri.

- Tudo bem. Se nenhum parente dos falecidos gritou ou desmaiou ao ver o estado do corpo no velório, então quer dizer que você estava navegando pelo caminho certo... mesmo sem saber velejar.

   Eu rio.

- Boa metáfora.

   Lett se aproxima calmamente do corpo, ainda coberto pelo pano, estirado na mesa metálica. Ela fecha os olhos, junta as mãos e abaixa o rosto levemente, rezando. Faço o mesmo no instante que a vejo silenciar-se. Após Ave Maria, digo amém, fazendo a cruz frente ao corpo, movimentando as mãos, contudo, Violett expressa com pesar:

- Que Deus o tenha. Amém.

   Ela é tão encantadora! Sua empatia é admirável.

   Tira o pano: um jovem rapaz. Há muito sangue em seu corpo sem quentura. Está cor cera, como todos os outros que já tratei.

- Heolstor. – Ela me chama.

- Sim?

- Quando recebemos os recebemos, devemos listar todos os detalhes possíveis. E quando digo todos, são, literalmente, todos mesmo!

- Certo.

- Você trabalhou numa igreja pequena, que cuidava de casos menores ainda, provavelmente. Os clientes não entendem sobre isso, então, não importava se haveria uma ficha técnica, contanto que o corpo estivesse limpo, vestido, com algodão no nariz, deitado em um caixão bonito e cheio de lírios, estava de bom tamanho. Mas se esta área é seu foco principal, então vai ter que aprender as regrinhas forenses.

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