Capítulo 13 - Venha preencher o vazio

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Dia 04 de maio de 1937, 8:30 p.m.,

Nocturne Dance Bar...

∞ Heolstor Nithercott

— Não precisava. Sabe disso, não sabe?

Eu mantenho os olhos abaixados, ouvindo sua doce voz ecoar frente a mim. Eu giro o copo de whisky na mesa, raspando-o na madeira com uma roda molhada em sua base, por causa do monte de gelo que colocaram. Não precisava de tanto. Nesse quesito, os Demônios são melhores. As bebidas feitas por eles são... divinas! Só mais uma golada e acabo com o resto. Mal cheguei aqui e... já é meu terceiro copo.

— Obrigado por ter... — Interrompo a mim mesmo, fungando o nariz com um resto de catarro nele. — ...enviado o presente dos gêmeos para mim...

Ela fica me olhando. Sei que está. Sinto seus enormes olhos violetas me compenetrando... não de forma graciosa, como geralmente faz. Eles me oprimem, de alguma forma.

— Heolstor. Responda minha pergunta. — Seu tom oprime também. É raro esse tipo de coisa vir dela.

Só deixa as coisas mais tensas.

Viro o resto da bebida. Não a fito. Recosto as costas na cadeira estofada, quase como me espreguiçando da postura cabisbaixa de antes. Miro o garçom e balanço o copo vazio, indicando que deve encher. Não a fito. Ele se aproxima e completa com sorriso simpático no rosto. Olha-a, querendo saber se ela deseja algo também. Não a fito. Black responde "não". Miro-a momentaneamente de soslaio. Por que raios me sinto acuado desta forma? Ela é doce! Eu não devia... não devia me permitir sucumbir desta maneira. Não mais! Não mais!

Fito-a nos olhos. Não consigo expressar sorriso algum.

— Vamos só... — Inicio, mas paro para puxar fôlego. Parece até que me esqueci de respirar nesse meio tempo entre pedir mais bebida e falar. — ...Vamos aproveitar a noite, tudo bem? Não é a melhor forma de demonstrar o quão dolorido está sendo a informação de que o padre vai... morrer... — Murmuro esta palavra, e abaixo o olhar por um único segundo, não imperceptível. — Não quero mais pensar nisso. Eu não deveria, mas é o que quero. Eu... vou beber... — Viro metade do copo numa golada.

Ela dá um gole em seu drinque doce... extremamente doce. Não sei como consegue beber isso, mas não esperava algo diferente.

Viro minha atenção para o salão. O jazz está alto, as pessoas dançam sorridentes e muito animadas. Têm um ritmo e um gingado tão fluído e de um jeito natural que chega até ser admirável. Dançar desse jeito me soa tão estranho. Desde que me conheço por gente, a dança era algo muito mais travado. Era bem mais formalizada. Lembro dos grandes e nobres salões da alta realeza em lugares como Inglaterra, França, dentre outros, lá para meados do século dezoito – ainda até século dezenove, eu arrisco afirmar –, onde havia uma coreografia específica, um modo menos balançado e exorbitante. Geralmente passados, rodados, com mãos que tocavam os parceiros de dança e trocavam conforme quando um circuito se completava. Agora, mulheres balançam seus quadris e movimentam as saias, seus pés em sincronia com o par a sua frente. Os homens batendo palmas, batendo seus pés, girando e se soltando. Ambos sorridentes, ambos deixando as vontades fluírem sem ressentimentos.

— Gostaria de tentar?

Ouço a voz dela, agora mais açucarada. Levo minhas íris verde brilhante da maldita Morte para a Black.

— Eu não sei dançar. — Digo, voltando a observar. Parece bem complicado. Provavelmente eu passaria ridículo!

— Eu te ensino. E o importante é se divertir. Com o tempo você pega o jeito, afinal, a prática leva à perfeição. — Ela dá mais um gole em sua bebida, pega a taça, se levanta e estende a mão para mim. — Não é usual uma dama chamar um cavalheiro para dançar, mas esta noite exige uma exceção, em prol do bem estar dele. — Abre um sorriso completo, radiante, em conjunto com um olhar meigo e especial.

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⏰ Última atualização: Jun 15, 2020 ⏰

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