Capítulo 9 - Dias de janeiro

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Janeiro de 1937,

Pensão da Sra. Rogers...

∞ Heolstor Nithercott

   Ela já chorou tanto, que sonhei com tal lamúria. Eu estava num túnel (o mesmo no qual me encontrei, misteriosamente, pelas areia de Oneiros, com a líder dos Demônios filhos de Belial [sonho tremendamente ímpar, que me causa desconfortos sempre que recordo... teria sido um pesadelo?]). Neste túnel, não havia aquela luz forte vinda do final, porém, as paredes tinham tochas com meu poder queimando e iluminando fracamente. Eu olhei em volta, procurando bifurcações, corredores para entrar, qualquer outro que não fosse onde estava. Comecei a correr, ansiando a ver algo diferente, até que eu esbarrei em alguém. A sensação foi estranha de cair no chão sendo que não tinha visto ninguém afrente, mesmo com os olhos vidrados no cominho. Não entendi, porém, não parecia a coisa mais esquisita, então eu levantei de imediato, desculpando-me incessantemente, ao mesmo tempo que ajudava a pessoa a se levantar, sem fitá-la, até que... sua voz ecoou lindamente:

- Pensei que nós estaríamos fadados a viver agradecendo. – E seu riso doce de porcelana, por fim.

   Meus ombros despencaram e meu coração acelerou, para que eu pudesse me deleitar em dobro. Devolvo um sorriso mais apaziguador.

- Quando necessário, devemos nos desculpar também, Violett – Afirmo.

   Ela abaixa o olhar encantador, resplandecendo em uma pose tão acolhedora.

- Ora... é mesmo? Sendo assim, quando as desculpas são verdadeiramente válidas, Heolstor?

   Não interpretei essa pergunta muito bem, eu recordo. Apesar do semblante adocicado, a questão narrada parecia tão... provocativa, de um jeito perverso.

- Temo não ter compreendido.

- Então, eu devo explicar... – Ela puxa fôlego e solta os cabelos sempre presos.

   Por uma fração de segundo, lembrou-me alguém. Engraçado... quem? Gostaria tanto de poder lembrar! Minha mente embaça sempre que penso no assunto.

- O perdão deve ser dado, incondicionalmente, àqueles que se dispuseram a embaralhar e destruir a vida alheia?

   Bufei uma risadinha debochada e negativa, estampando um semblante de obviedade.

- É claro que não, Violett! Que conversa é essa?!

   Ela achou graça, por algum motivo.

- Fato, não?! Então, diga-me, vais cumprir tua promessa?

   Eu encurvei a cabeça para o lado, desconfiando do novo assunto.

- Qual?

- Vai mesmo cuidar de mim?

   Exitei por uns segundos. Eu sabia a resposta, sentia a convicção nela também, entretanto, ela me fez pensar... duvidar, talvez. De qualquer forma, não me impediu de responder o que já sabia:

- Vou. Por que?

- Hmmm... então não aceitarei desculpas quando você abandonar suas palavras. – Disse em tom amargo.

   Senti-me ofendido e posso sentir tal sensação, mesmo agora.

- Não confia que eu vá cumprir com minhas promessas?

   Ela começa a tremer, como se já estivesse segurando as lágrimas já há um tempo e não aguenta mais fingir boas impressões.

- Ninguém nunca cumpriu com isso. Mas ainda fui imbecil de perdoá-los em meu coração. Não haverão mais vezes! Eu juro à Deus!

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