Capítulo 1 - A Traição Branca

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∞ Scarlett Bones

Além do Cosmo, existe o Outro Lado. Toda uma existência exuberante, inalcançável para os Humanos em sua finita Terra. Eles se orgulham de um planeta nojento e de si mesmos a todo o momento. Mal fazem ideia do quão minúsculos são diante de nós. Inervam-me por todo esse orgulho sem motivo. O que eles têm? Capacidade? Também tenho. Inteligência? Tenho. Sentimentos? Não que importe, contudo, tenho. Um mundo inteiro? Eu tenho cinco. Não consigo entender o motivo pelo qual se põem em patamares tão altos. Eles têm nada! Ainda assim, não vou rebaixá-los tanto ao ponto de os chamar de imprestáveis. Conforme ao que todo o Equilíbrio dos Mundos (a entidade Balança) exige é que todos devem coexistir e trabalhar em prol um dos outros. Cada um tem seu dever. Os Humanos servem para que os Demônios tenham o que comer e castigar. Sem eles os Anjos não teriam o que proteger. A Morte e sua morada, o Limbo, não teriam sentido. O próprio Deus não teria o mesmo valor e as Entidades do Limiar precisam de todos nós para existir. Mesmo que eu não goste deles, é fato que temos um dever com o equilíbrio de tudo, senão... somente o caos ilimitado.

Apesar desta regra suprema e de sempre tentarmos manter a linha, é fato que vez em outra, a Balança pende, e nessas horas, somos todos obrigados a fazer algo. Não importa quem sejam. Demônios e Anjos se aliariam para a correção de qualquer erro. Todos os deuses emprestariam sua atenção e força. Soa estranho, contudo, apenas acentua o quão inenarravelmente importante é o Equilíbrio. De qualquer forma, como estava dizendo, vez em outra, situações que fazem nossa realidade correr risco acontecem. Tudo fica frenético. Todos se locomovendo para solucionar. Reuniões e mais reuniões... Enfadonhas reuniões!

Tempos atrás, houve um caso que despertou a todos nós pelos gritos histéricos da Morte. Thana exacerbou-se com uma traição, que jamais cogitaria um dia presenciar. Seus súditos... quero dizer, seus subordinados, são sempre muito devotos... digo, leais, e isso fez com que ela se afundasse nesse conforto, nunca se preparando para possíveis infortúnios. Mal fez em depositar toda sua confiança em alguém sempre desgostoso. Em ter o mimado com títulos e mais títulos importantes com toda a falta de interesse do mesmo. Sinceramente? Não me importo com o quão sofrendo ela está. Fico irritada em termos que todos nos submetermos às suas lamúrias e revoltas infantis.

Só que se não fosse pela atitude dele de se libertar da Thana, jamais teria o conhecido...

Engraçado em como o Destino lança as palavras de seu livro nas vidas alheias. Jamais teria cogitado tal fim para mim...

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Inferno de Belial, Área 1

Dia 4 de janeiro de 1937

Bordel...

- "Ele estava comigo e fitava-me com aqueles olhos perigosos. Queria que parasse. Queria que ele me olhasse com desejo, e não com repulsa. Senti-me acuada e precisava tomar alguma providência, porque eu sou Thana, a Deusa da Morte, e não poderia aceitar tal insubordinação! Mesmo que, naquele momento, eu só quisesse que ele me sentisse e se regozijasse comigo, tive de fazer o que deve ser feito para que ficasse em teu devido lugar... só que ele revidou. No momento que o arrastei para aquela cadeira e o prendi, senti os pelos do meu corpo levantarem quando mirei meus olhos nos dele. Pareciam um abismo tuas pupilas, e as íris eram como uma força esverdeada que me dragava. Meus leais Nilovich, Leonard, Berthold, Timothy e Cédric estavam lá. Eles que ficaram comigo durante o processo. Viram com os próprios olhos a criatura que Ankou ficou quando atado na cadeira. Ele se foi... ELE É UM DESERTOR MISERÁVEL E QUERO JUSTIÇA! CLAMO VÓS, ORDEM DO EQUILÍBRIO, PARA SOLUCIONAR ISSO!".

Finalizo. Todos do bar me encaram em silêncio. Entreolham-se e caem na gargalhada. Reverencio em meio aos aplausos. Quando as palmas vão cessando, Callidora Murk (terceira filha da Área 1 do Inferno de Belial, nosso pai) se levanta, balançando seus cabelos longos enrolados, dando uma leve puxadinha na mini blusa decotada que ostenta seus seios imensos. Diante de seus clientes que bebem sempre até cair no chão frio, diz com sua voz típica de prostituta, com uma boa temperada de bom humor:

Quedas ObscurasOnde histórias criam vida. Descubra agora