20:30 horas...∞Scarlett Bones
Desço as escadas, já pronta para ir, e estendo a palma até o chaveiro na cozinha para ter as chaves do carro. Fui como um ato automático, até encarando outra coisa, mas ao meter a palma com tudo e não senti-las lá, lancei meus olhos opressores. Mas que merda?! Onde está?! Fito em volta, afoita, mirando cada canto.
Za'Reon... onde está?
Quer adivinhar?
Franzo o cenho e cerro as pálpebras.
Sério mesmo? Caralho! A Balança sabe mesmo como dançar conforme a música, não acha, meu caro cerne?!
Concordo, minha dama.
Viro-me e vou até a sala de estar, que já lançava uma iluminação esbranquiçada que se movimenta do ambiente escurecido. Paro no batente da porta, movida pelo desgosto, cruzo os braços para meu pai, fumando feito uma chaminé, enquanto toma uma garrafa de whisky. Encara sem interesse e tolerância a maldita televisão.
Se ele não gosta de Betty Boop no inferno, por que ele ligou a tevê, então?! Esse homem é um caso perdido, Za'R...
Ele ergue a outra palma e roda a chave do carro no indicador. Vira seu rosto de soslaio para mim e diz, em tom baixo e tentando ser amedrontador:
- Acho que isso aqui é demais. Quero dizer... sempre foi...
Suspiro.
Droga... sabia que a Balança não os controlaria para sempre, mas precisava ser agora?!
- Já viu alguma mulher dirigindo, Violett?
Balanço a cabeça, negativamente.
- Onde aprendeu a fazer isso?
Dou de ombros. Ele desliga o televisor e vira o resto da garrafa. Levanta da poltrona e o modo como qual virou-se para mim, nessa escuridão que se fez, apenas vindo luz do corredor, tornou-se ele uma silhueta escura. Teria amedrontado qualquer um, então terei de fingir medo.
- Como e quando conseguiu aprender a usar um carro, Violett?!
Abaixo a cabeça.
Que vontade de matá-lo! Mas vou tremer meu corpo. Za'R, dispare meu coração!
- Eu via você saindo com o carro, mas, estranhamente, não tinha dado-me conta de tamanha humilhação. Vou ser sincero... não sei onde estava com a cabeça... como não havia percebido?! Pareceu, até, que eu estava num estado de transe, sabe? Coisa do diabo, mas agora eu não estou mais com os olhos vedados. É como se a luz de Deus tivesse recaído sob mim para que eu percebesse tamanha petulância...
Começo a fingir que estou tremendo.
- Você anda por aí de cabeça erguida, achando que pode fazer isso no meio dos outros...
Engulo saliva.
- Acha que já não comentaram lá na empresa? Disseram para mim o quão atrevida você é. Consegue imaginar a minha vergonha?
Começa a vir para minha direção com o corpo tenso e os punhos fechados, preparados para qualquer agressão.
- "Uma mulher", disseram, "dirigindo"! "Quanta petulância dessa sua vadiazinha", eu ouvi... e não pude discordar. Se sente muito livre, não é? Mas acha que eu não sei o motivo?
Ele se inclina e põe os lábios perto do meu ouvido.
- Você deve estar dando bastante para o Sr. Bloomfield para ter conseguido se formar em um ano e ser secretária dele, não é? Afinal, sabe o que dizem sobre secretárias, não sabe?
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Quedas Obscuras
Fantasy- Tomada 1 do espetáculo que é nossas vidas! Que os holofotes Hollywoodianos e as cortinas vermelhas sejam nossos adornos, para iluminar com cadência misteriosa o que há do Outro Lado. Pode-se ouvir o som de asas pesadas batendo, mas não se incomode...