Capítulo 6 - É o que há no passado das obras-primas

19 2 15
                                    

10 de Janeiro de 1937...

∞ Heolstor Nithercott

- Angela, minha querida, poderia ir com a Lett até o antigo quarto da Mary-Ann? Pode vestí-la com o que ela quiser. – A senhora na cadeira de rodas volta-se à mim com semblante alegre. – E o senhor? Perdão não ter me apresentado antes! Meu cãozinho acabou com toda a recepção, não foi mesmo? Hahaha!

   Dou um riso simpático.

- Não tem problema. Digo, não para mim. Em compensação, à Srta. Black...

- Ah, ela vai ficar bem. Ela já passou por estresses maiores, isso eu lhe garanto!

   Está me soando um assunto mais profundo que, com certeza, não me interessa.

- Imagino que sim. – Suspiro.

   Ela aponta para o sofá na sala de estar, para que eu me sente, e eu o faço, já agradecendo com uma puxada de meu Fedora. O pequeno menino que estava rindo da Srta. Black - quando o cachorro urinou nela - passa correndo e a senhora a minha frente o interrompe.

- Tim, seja um bom menino e pegue o casaco e chapéu do nosso convidado! – Seu tom é adorável, mesmo que ainda queira dar uma bronca.

- Sim, vovó Denise.

   O menino dá a volta pelo estofado e lhe entrego as coisas.

- Quantos anos têm, meu jovem?

   Ele me fita com certa timidez.

- Oito, senhor.

   Abro um sorriso de ponta a ponta. Não tenho minhas memórias de antes de morrer. Não me lembro do que é ter oito anos de idade, mas me parece apreciável!

- Daqui a pouco será um homem, hein! Obrigado pelo casaco, garoto.

   Ele faz um sinal de agradecimento com um movimento rápido da cabeça, já se retirando. Ele é um rapazinho sério.

- Assim que Angela voltar com a Lett, pedirei que façam chá para nós. O senhor tem cara de europeu, espero que meu palpite de que prefira chá, ao invés de cerveja, esteja correto.

   Fico uns segundos focando nela, até soltar uma gargalhada.

- Hahahaha! Eu prefiro drinques mais requintados, senhora. Apesar dos pesares, não tenho convivência com vikings bárbaros! Fora que passei um tempo considerável na Inglaterra. Eu, realmente, prefiro chá.

   Ela alegra-se.

- Agora, ouvindo-te falar, fica claro teu sotaque britânico! Mas, perdão, o senhor não tem cara de britânico!

   Amenizo os risos e inclino a cabeça para o lado, em dúvida.

- Não? Creio não parecer com muita gente! – Brinco.

- Ah, porém, suas feições não são britânicas.

   Franzo o cenho.

- E com qual nacionalidade eu aparento, madame?

- Uma bem próxima. – A voz da Srta. Black ecoa, junto aos seus passos chegando.

   Viro o rosto para trás para encará-la. Está com um longo vestido rodado cor salmão. Apesar de apreciar vê-la com a roupa mais escura de antes, este rosa cadenciou tão bem. Ele contrasta seu comportamento e traços fortes... bem que o Sr. Bloomfield disse que ela era encantadora! Receio que esta seja a mulher mais linda que já vi dentre todos os anos de pós-vida!

- Próxima do que, meu bem? – Sra. Rogers questiona sem entender, e isso me sintoniza de volta à conversa.

- Uma nacionalidade próxima da Inglaterra. – Ela mede meu rosto.

Quedas ObscurasOnde histórias criam vida. Descubra agora