Mais um clarão atravessou a grande janela do quarto, iluminando a madrugada escura e o som do trovão não demorou a vir. Ana não se mexeu, continuou deitada de bruços vendo a intensa chuva bater contra o vidro. Se fosse em algumas semanas atrás, ela estaria tremendo e se encolhendo na cama, mas no momento ela não sentia nada. Na verdade, o som da chuva estava começando a lhe transmitir certa "paz", como fazia antigamente.
Ana escutou o som da porta sendo aberta e fechada com cuidado. Ela fechou os olhos ao sentir aquele maravilhoso cheiro invadir o quarto novamente, era o mesmo cheiro que estava no travesseiro em que estava deitada. Só voltou a abrir os olhos quando sentiu o colchão se mexer e os dedos quentes de Vitória acariciarem sua nuca exposta.
- Helena dormiu de novo? – Ana perguntou se deitando de barriga para cima, apenas para encarar a esposa.
- Sim, dormiu.
- O que foi dessa vez? Pesadelo?
- Não, ela estava com medo dos trovões – Vitória respondeu se infiltrando entre as pernas de Ana mais uma vez naquela noite, mas dessa vez ela apenas se deitou, pousando a cabeça em seus seios – Ela disse que eles eram assustadores.
- Eles podem ser assustadores as vezes – Ana comentou mexendo nas mechas de cabelo da esposa enquanto olhava mais uma vez para a forte chuva – E sentir medo é ainda mais assustador.
- Eu aposto que sim – Vitória passou as mãos pela lateral do corpo de Ana até suas coxas, subindo novamente em um carinho suave – Mas vocês são sortudas. Eu estou aqui para acalmar as duas.
- Engraçadinha – Ana riu e olhou a sua volta, soltando um suspiro satisfeito.
- O que foi?
- O que?
- Você suspirou – Vitória levantou a cabeça para encarar os olhos verdes – Isso pode ser uma coisa boa ou ruim.
- É uma coisa boa.
- Posso saber o que é? – Vitória perguntou voltando a deitar a cabeça sobre os seios da morena.
- Você, algum dia, pensou que sua vida seria assim?
- O que quer dizer?
- Alguma vez você pensou que se tornaria o que é hoje?
- Não – Vitória fechou os olhos sentindo os dedos de Ana passearem por seu couro cabeludo – Pelo menos nunca imaginei ter exatamente tudo o que tenho hoje.
- O que você tinha em mente antes?
- Crescer no banco, comprar minha própria casa, me casar com uma mulher carinhosa que me amasse e ter minha própria família. Mas tudo mudou.
- E quando foi que tudo mudou? – Ana perguntou e Vitória levantou a cabeça para lhe encarar. Ela tinha um brilho diferente nos olhos, sem contar o pequeno sorriso.
- Tudo mudou quando você entrou toda estabanada na minha vida –Vitória respondeu sorrindo divertida e Ana bufou.
- Eu já disse que tropecei naquele dia. Eu não queria derrubar o vinho em você.
- Sim, e acabou sujando todo o meu vestido novo.
- Peço desculpas a quase dez anos, amor. Supera de uma vez – Ana revirou os olhos e Vitória riu.
- Não tem como superar, amor. Era um belo vestido. Eu fiquei realmente triste.
- Eu lembro, você quase chorou na minha frente. E você nem sabia o meu nome.
- E eu precisava? Você destruiu o meu vestido, acha mesmo que eu queria saber seu nome?
- Sim, você queria. Tanto que acabou se casando comigo e tendo uma filha linda – Ana respondeu arqueando as sobrancelhas convencida e foi a vez de Vitória revirar os olhos.
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Um Porto Seguro
Fanfiction"Síndrome do Pânico: é um tipo de transtorno de ansiedade no qual ocorrem crises inesperadas de desespero e medo intenso de que algo ruim aconteça, mesmo que não haja motivo algum para isso ou sinais de perigo iminente". Você já imaginou sentir medo...