Capítulo 33

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Mais um clarão atravessou a grande janela do quarto, iluminando a madrugada escura e o som do trovão não demorou a vir. Ana não se mexeu, continuou deitada de bruços vendo a intensa chuva bater contra o vidro. Se fosse em algumas semanas atrás, ela estaria tremendo e se encolhendo na cama, mas no momento ela não sentia nada. Na verdade, o som da chuva estava começando a lhe transmitir certa "paz", como fazia antigamente.

Ana escutou o som da porta sendo aberta e fechada com cuidado. Ela fechou os olhos ao sentir aquele maravilhoso cheiro invadir o quarto novamente, era o mesmo cheiro que estava no travesseiro em que estava deitada. Só voltou a abrir os olhos quando sentiu o colchão se mexer e os dedos quentes de Vitória acariciarem sua nuca exposta.

- Helena dormiu de novo? – Ana perguntou se deitando de barriga para cima, apenas para encarar a esposa.

- Sim, dormiu.

- O que foi dessa vez? Pesadelo?

- Não, ela estava com medo dos trovões – Vitória respondeu se infiltrando entre as pernas de Ana mais uma vez naquela noite, mas dessa vez ela apenas se deitou, pousando a cabeça em seus seios – Ela disse que eles eram assustadores.

- Eles podem ser assustadores as vezes – Ana comentou mexendo nas mechas de cabelo da esposa enquanto olhava mais uma vez para a forte chuva – E sentir medo é ainda mais assustador.

- Eu aposto que sim – Vitória passou as mãos pela lateral do corpo de Ana até suas coxas, subindo novamente em um carinho suave – Mas vocês são sortudas. Eu estou aqui para acalmar as duas.

- Engraçadinha – Ana riu e olhou a sua volta, soltando um suspiro satisfeito.

- O que foi?

- O que?

- Você suspirou – Vitória levantou a cabeça para encarar os olhos verdes – Isso pode ser uma coisa boa ou ruim.

- É uma coisa boa.

- Posso saber o que é? – Vitória perguntou voltando a deitar a cabeça sobre os seios da morena.

- Você, algum dia, pensou que sua vida seria assim?

- O que quer dizer?

- Alguma vez você pensou que se tornaria o que é hoje?

- Não – Vitória fechou os olhos sentindo os dedos de Ana passearem por seu couro cabeludo – Pelo menos nunca imaginei ter exatamente tudo o que tenho hoje.

- O que você tinha em mente antes?

- Crescer no banco, comprar minha própria casa, me casar com uma mulher carinhosa que me amasse e ter minha própria família. Mas tudo mudou.

- E quando foi que tudo mudou? – Ana perguntou e Vitória levantou a cabeça para lhe encarar. Ela tinha um brilho diferente nos olhos, sem contar o pequeno sorriso.

- Tudo mudou quando você entrou toda estabanada na minha vida –Vitória respondeu sorrindo divertida e Ana bufou.

- Eu já disse que tropecei naquele dia. Eu não queria derrubar o vinho em você.

- Sim, e acabou sujando todo o meu vestido novo.

- Peço desculpas a quase dez anos, amor. Supera de uma vez – Ana revirou os olhos e Vitória riu.

- Não tem como superar, amor. Era um belo vestido. Eu fiquei realmente triste.

- Eu lembro, você quase chorou na minha frente. E você nem sabia o meu nome.

- E eu precisava? Você destruiu o meu vestido, acha mesmo que eu queria saber seu nome?

- Sim, você queria. Tanto que acabou se casando comigo e tendo uma filha linda – Ana respondeu arqueando as sobrancelhas convencida e foi a vez de Vitória revirar os olhos.

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