3. Não há ninguém em casa.

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Eu não saberia te dizer o porquê ela se sentia daquela maneira. Ela se sentia assim dia após dia. E eu não podia ajudá-la, eu só a via cometer os mesmos erros novamente. Os sentimentos ela esconde, os sonhos ela não consegue achar. Ela está perdendo a cabeça, ela não consegue achar seu lugar, ela está perdendo a sua fé, ela caiu em desgraça. Ela está despedaçada.

Yoongi desembarcava em São Paulo ainda pensando se tudo aquilo não passava de um devaneio. "O que aquela garota tem na cabeça? Escondendo uma coisa dessas por tantos meses. Eu nem sabia que ela era capaz de guardar um segredo por tanto tempo." dizia a si mesmo enquanto pegava suas malas. Lembrou-se de ligar para Hoseok apenas quando entrou dentro do carro.

— Onde você se meteu? Fale com ela que você tem que ir. — Falou repreendendo-o. — Namjoon está precisando de nossa ajuda. — Olhava as ruas da cidade passarem pela janela.

— Você por acaso já voltou da Itália? — Não tinha medo de confrontar o mais velho. — Pensei que ficaria mais. O marido dela apareceu e você saiu pela janela? — Brincou.

A cada piadinha de Hoseok, Yoongi ficava mais bravo. Não queria contar a ele que estavam no mesmo país, mas tinha prometido a Kristin que não faria nada antes de conversar com Ariel. Iria imediatamente ao apartamento onde arriscava que ela ainda morava. Caso estivesse errado, seria obrigado a pedir o colega de grupo que descobrisse com Marina a sua localização.

— Eu estou falando sério. Nossas férias estão no fim, precisamos nos preparar para começar tudo de novo. — Lamentou.

— Estou no Rio de Janeiro. E por que você está me ligando e não Jin? — Retrucou Hoseok. Era possível ouvir o barulho de algo fritando no fundo da ligação.

— Ele sabe que você está com ela. — Respondeu revirando os olhos, destruindo as expectativas do amigo de enganar alguém sobre o motivo de sua viagem. — Pensei que estava em São Paulo. — Descobriu que não seria fácil encontrá-lo. — E ele não quer ter contato com você sabe quem.

— Ela não é Voldemort, pode dizer o nome. — Disse sério, piscando para Marina. Ela não podia entender a conversa, mas o olhou confusa quando ouviu o nome do vilão.

— Isso não importa. Me avise quando estiver saindo daí, eu tenho que resolver uma coisa antes de voltar. — Percebeu que o carro estava parando. — Com sorte, chego alguns dias depois.

Ao desligar o telefone, pediu que o motorista o esperasse naquele mesmo local. Tinha parado o carro um pouco longe do prédio onde a brasileira vivia. Enquanto andava pela rua, pensava em como a abordaria. Não podia ser grosso e nem queria ser educado demais. Estava chateado com a atitude dela.

— A senhorita Ariel está? — Perguntou ao porteiro, em inglês. Ele o olhava desconfiado, sem entender o que Yoongi queria.

— Não é permitido coreanos. — FApenas se lembrou das palavras de Ariel: "Se algum homem de olhos pequenos aparecer, diga isso e não deixe entrar".

— Isso é algum tipo de brincadeira? — Caminhou até o portão de grades que ficava ao lado do cubículo onde o pobre homem que o atendia se encontrava. Foi barrado pelo mesmo porteiro que ficava repetindo "não é permitido coreanos" em um inglês sofrível.

Saiu emburrado e começou a andar pela rua de volta para seu carro, já pensando em como executaria seu plano B. Longe, em outro quarteirão ele pode avistar quem procurava. Ariel andava com seus fones de ouvido, bem devagar. Mesmo com o vestido solto azul, sua barriga podia ser notada. Seu rosto e pés pareciam inchados. Seus lábios se moviam próximos ao buraquinho do microfone, não era possível decifrar o que ela dizia. Simplesmente esperou que ela se aproximasse, escondido dentro do carro.

— Por que você não voltou, Marina? Eu tenho uma melancia grudada em mim. A comida acabou, tive que ir na padaria comprar algo. — Reclamava ao mesmo tempo que retirava um pão de queijo de um dos sacos de papel que carregava em sua sacola.

— Me desculpe, amanhã eu estarei ai pra te ajudar. Não saia mais, ok? — Sentiu-se culpada por estar se divertindo. Não tinha obrigação de cuidar da amiga, mas sabia que ela não tinha ninguém que pudesse ajudá-la naquele momento. — Deite-se e coloque os pés pro alto, em cima de um travesseiro.

— Mari, eu não consigo ver meus pés já faz um bom tempo. Nem sei se eles ainda existem ou são só duas bolas. — Abaixou a cabeça. Não sabia muito bem como lidar com aquela situação.

Não estava pronta para ser mãe. Ariel sempre dizia que nunca teria filhos. Estava sempre ligando para Kristin e pedindo conselhos, afinal a europeia sabia melhor que ninguém como estava se sentindo. Tinha algumas roupas que havia ganhado de um chá de bebê surpresa que sua mãe tinha feito.

— Estarei ai o mais rápido possível. — Marina notava que a amiga agia de forma bastante fria em relação ao bebê. Ariel não sabia o sexo e sempre se mostrava perdida quando perguntada sobre como cuidaria da criança.

— Não precisa correr, só não me deixe sozinha por muito tempo. — Finalizou a chamada quando se aproximava de seu destino. Parou um pouco, ainda cabisbaixa, respirando fundo. Colocou uma das mãos dentro da sacola para pegar as chaves.

Quando chegou ao portão, ouviu alguém sussurrar seu nome. Andou um pouco mais rápido, sem olhar para trás, imaginando que aquilo fosse apenas uma brincadeira de mau gosto de seu cérebro. Sabia muito bem de quem era aquela voz.

— O que aconteceu? — Yoongi estava agora ao lado dela.

— Eu engordei. A comida daqui presta, sabe como é... — Tentou disfarçar com um sorriso. A presença dele ali a deixava bastante desconfortável. Aquilo significava que havia falhado em guardar o próprio segredo. Pensar em todas as complicações que aquele encontro causaria lhe fazia sentir uma grande frustração.

— O que? — Sacudiu a cabeça. — Pare com isso, não estamos brincando. — Cruzou os braços de frente para ela. — Por que não disse nada a ninguém? — O casal se encontrava parado, no meio do passeio discutindo.

Falso Amor #3  [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora