Capítulo 15

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[Diego]

A Lucy é tão diferente da imagem que meu irmão sempre colocou em minha cabeça. Eu lembro dela brincando com a prima no parque, quando meu irmão mandou eu me aproximar e perguntar coisas a ela, mas ela era fofinha e me fez lembrar da minha irmã Nena. Quando meu pai foi preso e minha mãe se matou, ficamos sem lar e nos levaram para um orfanato, como ela era a menor, foi adotada por um casal cheio da grana, meu irmão fugiu aos 16 anos e voltou para me buscar quando achou um lugar para a gente poder dormir. Meu irmão fazia coisas erradas, mas eu não quis e o cara logo me mandou embora de lá, mesmo eu tendo só nove anos. Meu irmão disse que iria embora também, porque ele nunca me deixaria sozinho, mas falou com o cara, o tal de Caveira, que ia continuar o trabalho e como ele não ia morar mais lá, ele queria uma porcentagem maior. O cara não queria aceitar, mas como meu irmão era o melhor no que fazia (que até hoje não sei o que era), ele ia aceitar. Ficamos morando na rua até ele completar 18 anos e poder pagar um lugar para a gente. Era apenas dois cômodos, um espaço grande e banheiro. Ele me matriculou na escola e como sempre fui muito inteligente, logo consegui ficar na minha série certa, recuperando os anos que perdi. Estudei muito, por enquanto que meu irmão ficava fazendo coisas erradas. Ele sempre me contava a mesma história, que a família da Lucy acabou com a nossa família, que ela não prestava, que ninguém prestava. Então minha vida toda foi fazer parte de uma vingança.
Passei em segundo para a faculdade e ganhei uma bolsa de 100%. Quando estava no terceiro período de arquitetura, fiz outra prova e fui um dos cinco alunos a ser escolhido para estudar em Londres com tudo pago, me deram cinco dias para aceitar. Não queria ir e deixar meu irmão sozinho, mesmo ele falando para eu ir. Dois dias antes de dar minha resposta, um amigo me chamou para ir numa festa de quinze anos, disse que ia ser um festão e eu iria me divertir. Quando cheguei na casa, meus olhos foram direto para uma menina linda, encolhida em um canto, não sorria e tinha um olhar perdido e parecia triste. Fiquei olhando para ela por bastante tempo, até ela sair por uma porta, sem pensar duas vezes, eu a segui e encontrei ela sentada num balanço sozinha.

...

- Desculpa, não quis assustá-la.- A assustei quando cheguei perto dela.

- Nada, eu que estava aqui com meus pensamentos e não te vi chegar.- Quando ela olhou para mim, meu coração quase saiu pela boca, percebi que eu estava na casa da família Clark e a menina triste era Lucy.

- O que uma menina tão linda como você, faz sozinha aqui fora?- Não sei porque disse isso, na verdade seu olhar triste estava me deixando angustiado. Mesmo meu irmão falando mal dela, seus olhos me falavam outra coisa e não sabia em quem acreditar, mas eu não a conhecia.

- Sozinha aqui fora ou la dentro não faz diferença, de qualquer forma, estarei sozinha.- E estava outra vez, aquele olhar triste

- Por quê?- Pergunta curioso, porque ela é linda e não vejo motivos para estar sozinha.

- Desculpa se pareço grosseira, mas por que eu falaria para você? Eu nem te conheço.

- Verdade. Me chamo Diego.- Estendi a mão em sua direção.

- Hum.- Pegou a minha mão um pouco desconfiada.- Me chamo Lucy.- Eu sabia, mas fingi que não a conhecia.

- Então pequena Lucy, o que faz aqui sozinha?- Ela me olhou com a sobrancelha levantada.- Você agora me conhece. Vai, é bom desabafar.- Ela ficou me encarando, como se estivesse em uma briga interna pensando se contava ou não.

- Por isso aqui.- Mostra uma bota.- Eu nasci fora de hora e teve uma complicação, tive que fazer uma operação e hoje eu manco por isso. Mês passado eu caí e tive que colocar isso. Ninguém vai querer dançar com uma menina estranha que manca.

- Só se a pessoa for doida. Você é bonita e não deixe que ninguém fale ao contrário. Você parece uma princesinha.- Não sei o que estava acontecendo comigo, mas quando eu percebia, tinha falado.

- Se você diz.- Começa tocar uma música do Bruno Mars e ela fecha os olhos como se estivesse sentindo.

- Senhorita.- Ela abre os olhos e fica em encarando.- Me faria a honra dessa dança.- Me curvei, colocando a mão para frente como um príncipe, a fazendo rir. Então aceitou, pegando minha mão.

- Não sei dançar, então me desculpe se pisar no seu pé.- Mesmo com a pouca luz, pude ver suas bochechas ganhar uma cor vermelha.

  Começamos a dançar, a música era lenta e como eu era muito mais alto que ela, seu rosto batia no meu peito e quando estava quase chegando no final da música, meu coração começou a acelerar e estava batendo tão forte que parecia que iria sair pela boca. A música acaba e demoramos um pouco para nos afastar. Olhei para ela, tentando entender tudo que aconteceu ali, ela é pequena, filha da família que destruiu a minha e eu estava com muita vontade de protegê-la do mundo e de todos, até do meu irmão, mas minha vontade de beija-la, me assustava.

- Meu Deus, o que estou fazendo.- Eu pensei, mas assim que olhei para ela, percebi que pensei alto demais.

- O quê?- Ela me perguntou confusa.

- Nada. Tenho que ir. Fique bem.- Por impulso, beijei sua testa e sai apressado e assustado com tudo que senti.

....

Naquele momento eu decidi o que era para fazer, era para eu ir embora e estudar em Londres e assim eu fiz. Tirei meu passaporte e visto para estudar fora, em menos de 1 mês de mudei para outro país, mas minha cabeça sempre esteve em Nova York, até porque meu irmão nunca deixou eu me esquecer da Lucy.
Quando acabei a faculdade e o estágio que fazia em uma das melhores empresas de Londres, voltei para Nova York e não sei se sorte ou azar, mas ela me encontrou na rua e por minha culpa quase foi atropelada.

..........

- PORRA DIEGO. O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?- Rafael grita comigo assim que entro em sua casa. Meu irmão está com raiva por não ter levado Lucy como o combinado.

- Ela não quis sair comigo. Disse que tinha algo importante na faculdade.- Menti, porque eu não tenho coragem de fazer o que ele está me pedindo. Ela confia em mim, não tem nada a ver com o que aconteceu no passado entre nossa família. Eu não posso e não quero machuca-la, eu a amo. Sim, eu amo e isso me assusta demais.

- Mas já tem tempo que você está com ela, ela não confia em você? Você não faz as coisas direito. Acho que temos que mudar esse plano. Eu mesmo vou sequestrar ela.

- NÃO.- Gritei, fazendo ele se assustar.- Ela anda com segurança, você acha que conseguiria? Não sei para que a pressa. Uns dias a mais não faz diferença.

- Você está estranho.- Me olhou desconfiado.- Mas vou dar mais algum tempo para você.

- Tá bom. Agora já vou.- Virei as costas e quando cheguei na porta escutei suas últimas palavras.

- O tempo está correndo, irmãozinho.

Última chance (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora