"Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado."
Senhor dos Anéis - A sociedade do anel, J.R.R. Tolkien
Sábado
O dia estava ensolarado, e eu estava me sentindo animada. As coisas pareciam estar se encaixando. Papai, mamãe e eu temos aprendido a lidar com o que tem acontecido, a comer o jantar sem ficar triste por Priscila não estar ali. Não estamos sendo ruins, mas estamos dando uma chance a nós mesmos de viver de novo. Papai tem sido muito forte, nós temos conversado mais e ele ama contar piadas pra mim. Mamãe também tem melhorado de certa forma.
Como estava empolgada hoje, -não sei porque acordei assim, mas não dispenso um dia bom quando o tenho- resolvi fazer alguma receita. Mamãe sempre quis que eu fosse boa com a cozinha e antes não demonstrava tanto interesse, mas agora queria tentar.
Tenho certeza que se conseguisse fazer algo bom, sem destruir nada, ela ficaria feliz.
Peguei uma receita na internet e comecei a seguir os passos. Só que eu tinha dúvida de tudo, acho que só estava nervosa porque não cozinhava com muita frequência. Também tinha muito problema com o forno, não lembrava o que tinha que fazer.
Subi as escadas para ir até o quarto tirar uma dúvida com mamãe. Estava toda as pressas fazendo barulho no piso que só fui perceber que ela estava chorando quando já estava em frente ao quarto.
A porta já estava semiaberta, então só terminei de abrir.
-Mãe? -Chamei.
Ela estava sentada no chão encostada na cama. No chão estava alguns desenhos que Pri havia feito.
-Eu não devia... -Dizia ela.
Ver ela daquele jeito doía o meu coração. Senti um entalo na garganta e as lágrimas ameaçaram vir. Antes que eu questionasse o que ela estava dizendo, ela disse:
-Não devia ter deixado ela ir a escola.
A primeira lágrima desceu e eu sabia que aquele era só o começo.
Eu tinha me sentido culpada, e agora ela estava se sentindo assim.
Simplesmente porque deixou Pri ir a escola.
A culpa me agarrou de novo. Se ela estava se sentindo culpada sem motivo, por que eu não me sentiria?
Mas aquilo não ia adiantar nada. A cura não viria com isso.
Abaixei e abracei ela.
-Não é culpa sua.
-Eu sinto tanta falta dela. -Disse ela entre soluços.
Todos sentem. Mas acho que dói mais pra mamãe pelo fato de Pri ser sua filha mais nova. A menininha. A doce Priscila. Mamãe tinha algo especial com ela. Eu não estava com ciúmes, só queria que ela se sentisse bem.
-Eu também mãe.
Não era a primeira vez que estávamos em uma situação assim. Foi aqui que eu descobri que poderíamos perder Priscila.
-Eu quero ficar sozinha. -Disse mamãe.
Sem demora, me levantei e saí do quarto. Aquilo doeu. Eu sempre soube que ela amava mais Priscila, mas entendia, só que agora não conseguia compreender nada.
Fui para o meu quarto me sentindo triste e culpada. Abri a porta do guarda-roupa onde tinha algumas orações e versículos colados. Me sentei no chão e meus olhos encontraram a carta que eu escrevi para Deus a um tempo atrás, no dia em que eu conheci Ben. Me lembro que o pastor tinha pedido que cada um escrevesse uma.
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Qual é o seu Norte?
EspiritualCONCLUÍDA Capa feita por @EudenisPeclat Livro 1 Quanto uma vida pode mudar a partir de um acidente? Ariana é uma garota posicionada, que conhece bem os seus sentimentos e sua fé, mas um acidente pode mudar muitas coisas. Mas como era antes de tudo...