Capítulo 41

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"A vida é uma tempestade, meu amigo. Um dia você está tomando sol e no dia seguinte o mar te lança contra as rochas. O que faz de você um homem é o que você faz quando a tempestade vem."

O Conde de Monte Cristo, Alexandre Dumas

As coisas pareciam tão corridas que nem estava saindo com Bem direito.

Nós nos víamos na escola, mas não podíamos conversar sobre nós e sobre as coisas. Eu apenas sentava do lado dele na igreja e depois tinha que ir embora. Já fazia um tempinho que nós não conversávamos por telefone, e eu senti que estava meio distante dele. E não queria isso. Justo agora que precisava tanto dele.

Resolvi tomar a iniciativa e perguntei se poderia ligar pra ele. Ele disse que sim então eu liguei logo em seguida.

-Oi. -Disse ele.

-Oi.

-É bom ouvir sua voz. -Disse ele.

-É bom ouvir a sua também.

-O que está fazendo agora?

-Só sentada no sofá falando com você. E você?

-Peraí, você está falando comigo sem fazer mais nada, nada mesmo? -Perguntou desconfiado.

-Isso, porque é tão difícil de acreditar?

-Porque você sempre está muito ocupada, só isso. Nunca fica só conversando comigo.

-Bom, agora estou só conversando com você. Aliás, quem está andando muito ocupado é você, nem está falando comigo direito. -Reclamei.

-As coisas andam como sempre foram. Escola, trabalho e todo o resto. Sempre foi corrido. E eu estou falando com você sim sua dramática.

-Na escola não conta. E mesmo com tudo corrido você sempre arrumava um tempinho pra gente.

-É, mas você não. -Disse na lata.

-Como assim?

-Ah, sei lá, sempre sou eu que tenho que mandar mensagem, que tem que ligar, que tomar a iniciativa. Eu me sinto mal de fazer isso, sinto que estou incomodando.

-Mas não está. Sabe que eu amo quando você faz isso.

-Como eu vou saber? Você não fala.

-Falo sim. E quem ligou hoje fui eu.

-Por quê?

-O quê? -Perguntei.

-Por quê ligou hoje?

-Porque queria falar com você. -Disse eu.

-É isso. É só isso que eu quero. Que faça algo que para que eu sinta que não sou só eu. -Disse ele.

-Nunca foi só você. Sempre amei suas iniciativas.

-Eu também amei minhas iniciativas. -Disse ele.- Você queria me contar algo?

-Não. Eu preciso ir, tchau. -Disse eu desligando antes que ele pudesse dizer algo.

Me levantei e corri para o quarto segurando as lágrimas.

Não queria ficar longe do Ben. Não queria que ele tivesse as impressões que tinha. Me arrependi de ter desligado o telefone.

Por quê eu fiz aquilo? Talvez eu esteja com os sentimentos à flor da pele.

Peguei a minha caixa de coisas pessoais e tirei de lá a carta que Bem me deu quando eu voltei de viagem da casa do vovô.

Qual é o seu Norte?Onde histórias criam vida. Descubra agora