Capítulo 23

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Mesmo depois de tudo que Magnus já tinha suportado em sua vida, uma das tarefas mais difíceis foi sentar-se para jantar aquela noite e conversar sobre amenidades com Audrae. Roger era um homem bastante agradável, mas algum tempo atrás o teria considerado inferior, uma pessoa simpática que quer agradar a todos. A grande verdade era que homens como Roger, estáveis, constantes, bem-intencionados, sempre o haviam feito sentir-se mal.

Desse modo, foi uma revelação descobrir que o apreciava.
E era gratificante ver a sogra tão contente. Gostava dela, e depois de saber o que passara com o marido, desejava que Audrae fosse feliz. Caroline estava nervosa, percebeu Magnus.

James, o misterioso irmão ficou em silêncio durante toda a refeição. Embora não tivesse muito costume de estar com crianças, notou que o comportamento de seu cunhado era extremamente incomum. Um garoto diferente. A julgar pelos olhares curiosos que recebia, ele notou que James estava intrigado.

Teve então uma ideia. Com o término do jantar, Magnus o convidou para ficar com os homens. O garoto arregalou os olhos. Olhou para a mãe e depois para Caroline. Audrae sorriu, dando seu consentimento.

Quando as mulheres se retiraram, Magnus não soube se agira corretamente. James parecia assustado.

— Sente-se — disse ele, apontando uma poltrona. — Não vou forçá-lo a fumar um cigarro.

— Ainda bem — respondeu James com a voz trêmula. — Mamãe não iria gostar.

— Sabe que minha mãe não se importaria se eu fumasse com sua idade? Eu já tinha experimentado vários tipos de vinho antes de completar dez anos. No dia de meu décimo aniversário, ela me apresentou às bebidas mais fortes.

— Que extraordinário — comentou Roger.

— Ela acreditava que um garoto deveria aprender a beber logo cedo.

— Você deixará seu filho beber antes de ele se tornar um homem? — indagou o menino.

— De forma alguma. Não pretendo seguir os passos da minha mãe.

James mostrou-se aliviado.

— Roger, peço licença, mas gostaria de levar James para dar uma volta. Sinta-se à vontade.

Roger não se importou por ter de ficar sozinho, fumando seu cigarro.

— Avise às senhoras que não demoraremos. Venha, James. Sua mãe não se incomodará.

Ele seguiu o conde com passos inseguros até o hall de entrada, onde vestiram suas capas. Em seguida, saíram para a rua.

— Olhe — disse Magnus, apontando o parque. — Estamos bem perto de onde a rainha mora.

— Eu sei, Cara me mostrou ontem.

— Cara. Você também a chama assim?

— Sim. Sempre a chamamos de Cara. E você?

— Sempre preferi Cara, pois acho Caroline muito sério.

— Ela tenta ser séria, mas não é — observou James.

— Não, não é mesmo — respondeu o conde, sorrindo, continuando o passeio pelas ruas de Londres.

— Você gosta dela? — perguntou James de repente.

— Sim, James, eu gosto muito de sua irmã.

— Ela também gosta muito de você. E está preocupada pois acha que você não gosta dela. Ninguém me contou nada. Eu sei. 

— As crianças são muito espertas. E ninguém reconhece seu valor.

— Eu achei que você não gostava de mim, e que por isso eu tinha de ficar em segredo, escondido. Mas acho que gosta.

— É verdade, você é um excelente garoto.

— Por que quis conversar sozinho comigo?

Magnus espantou-se com a sensibilidade do pequeno.

— Porque Caroline me disse que você estava doente. Ela demorou para me contar pois achou que eu ficaria bravo e poderia não a ter escolhido como esposa.

— Eu sei. Ela me falou que você a queria só para você.

— Vamos até a esquina, depois voltamos, está bem? — disse Magnus, antes de continuar o assunto. — Sobre Caroline, sim, ela achou que eu a queria apenas para mim, mas na verdade, James, não faria a menor diferença. Sabe, quando eu conheci Caroline, soube no primeiro instante que a queria.

— Paixão à primeira vista?

O conde caiu na risada.

— Creio que sim. E eu o chamei para um passeio para lhe dizer que não me importo com sua doença. Fiquei muito feliz em conhecê-lo e, se Cara tivesse me contado antes, eu teria ficado muito contente em ajudá-lo. Não precisa mais se preocupar. De agora em diante eu cuidarei de tudo.

— Você já falou com Cara? Ela está muito preocupada e infeliz. Acho melhor contar essa sua decisão para ela.

— Tem razão. Vou falar com ela. Estive bastante ocupado nos últimos dias, mas já resolvi vários assuntos. Vamos conversar na primeira chance que eu tiver.

— Acho melhor, pois as mulheres não gostam de ficar esperando. Sei porque passei a vida toda com mamãe e Cara. Se você não conta o que está pensando, elas acham que há algo errado.

Magnus espantou-se por estar conversando sobre casamento com um garoto de sete anos. E o mais surpreendente era que as reflexões de James eram extremamente sábias.

— Chegamos. Podemos entrar?

— Sim, milorde.

— Pode me chamar de Magnus, afinal somos cunhados. Posso chamá-lo de James?

—Sim. 

O conde olhou para a porta e viu Caroline parada. Seu coração disparou. Estava linda com os cabelos ao vento, e a barriga já começava a despontar. Queria abraçá-la e não a soltar nunca mais.

— Eu não sabia que tinham saído — disse ela com a voz indiferente.

— Fomos dar um passeio para nos conhecermos melhor, não é James?

— Sim, Magnus.

— Vamos entrar, James, acho que está na hora de você ir para a cama.

— Está bem, Magnus.

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Algo havia mudado, Caroline podia senti-lo. Magnus se movimentava de maneira diferente, exalando uma aura de alegria e excitação. Percebia como ele a encarava com os olhos cheios de emoção.

Algo realmente havia mudado. E algo estava prestes a acontecer.

Depois de Roger, Audrae e James terem partido, ela foi para seus aposentos. intranquila, ficou andando de um lado para o outro, com o coração disparado e sentindo um nó no estômago.

Não podia continuar naquele estado de tensão, poderia prejudicar o bebê. Seu instinto maternal a fez pensar assim. Então sentou-se na cadeira e respirou profundamente, com calma.

Quando escutou uma batida na porta, quase pulou de susto.

— Magnus?

O conde entrou. Caroline sentiu a boca seca. Ele estava muito parecido com a noite do casamento. Tinha a camisa aberta, as mangas dobradas. Usava uma calça preta e sapatos brilhantes.

— Quero conversar com você — foi tudo que ele disse antes de se acomodar em uma cadeira na frente de Caroline. 

Ficaram bem próximos.

— Quero saber da verdade, Cara — disse Magnus. — Conte-me sobre seu pai.

Rosas à Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora