Capítulo 23 - Amin

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- Bom dia, Mary. – cumprimentei minha governanta com entusiasmo.

- Bom dia, meu menino. Que bom que está melhor, mais disposto. Nesses cinco dias desde o telefonema que recebeu, é a primeira vez que te vejo assim, como o Amin que eu conheço. -  Aproximei-me de Mary e deixei um beijo em sua testa.

- Eu estou bem, Mary, já pode avisar minha mãe. – Ela arregalou os olhos e eu gargalhei de sua reação.

- Está me chamando de fofoqueira? – Fez uma cara de brava.

- Longe de mim, apenas anunciando o óbvio. Afinal, tudo o que se passa comigo aqui, mamãe sabe de lá. E antes que você fique chateada, não me importo com os relatórios. Sei que assim minha mãe fica muito mais tranquila. 

Sigo para a mesa e desfruto de um delicioso café. Assisto ao jornal e leio alguns e-mails pelo celular, estou concentrado na leitura, quando recebo a notificação de mensagem pelo whatsApp de Rufino Sá Monteiro, o detetive que contratei para desvendar todos os segredos de minha preciosa. 

Detetive: Sr. Amin, bom dia. O relatório está pronto e foi encaminhado para o e-mail informado. Aguardo contato.

Amin: Obrigado, Rufino. Assim que analisar tudo, passo maiores informações.

Sigo para o escritório, abro meu notebook e entro na minha caixa de e-mails pessoais e clico no arquivo anexado e começo a leitura.

"Isabelly de Oliveira Araújo, nascida em 04 de abril de 1993 em São Paulo - SP. 

Filha de Lourdes Maria de Oliveira e Anestor Rafael Monteiro Araújo. 

Formada em Jornalismo pela Universidade Estadual de São Paulo, com pós-graduação em MBA Executivo em Gestão Estratégica de Publicidade e Propaganda. Ainda na faculdade começou a trabalhar no Jornal Folha de Ouro, onde ficou por seis anos. Há dois anos é funcionária da Rede Seja de Televisão e trabalha como repórter do programa Manhã Esplêndida. 

É mãe de Théo de Oliveira Araújo, nascido em 30 de agosto de 2014. 

A criança estuda pela manhã, tem acompanhamento de uma psicopedagoga três vezes por semana devido a um problema de baixa visão, faz natação duas vezes por semana. 

Isabelly e seu filho moram com os pais e o irmão Nicholas, de 30 anos, advogado e tem um escritório de advocacia junto a um amigo."

No final do relatório estava um endereço e em outro anexo no e-mail, várias fotos. Na primeira foto que vi, Isabelly estava saindo de casa. O rosto mais fino o que era um claro sinal que ela havia emagrecido. Em outra ela estava saindo da emissora com uma mulher mais velha. Deduzi ser sua amiga Jana, de quem ela falou em algumas de nossas conversas. Passei mais algumas fotos, porém uma me chamou atenção. Isabelly entrava em um hospital com uma criança nos braços. Na foto seguinte dava para ver nitidamente seu semblante angustiado e na próxima, o rosto da criança, um menino, que parecia sentir dor. 

Não me preocupei em ver as três fotos restantes, liguei para Nacib que atendeu no terceiro toque.

- Senhor.

- Organize tudo e avise ao piloto para preparar o jato, iremos viajar amanhã cedo para o Brasil.

- Sim, senhor. - Saí de meu escritório e encontrei Mary na cozinha.

- Mary, arrume minha mala, por favor, irei viajar amanhã e não tenho data para voltar. E sobre essa viagem, minha mãe não deve saber. – Pelo meu semblante, Mary percebeu que eu falava sério.

- Clima quente ou frio?

- Vou ao Brasil. – Ao ouvir o nome do país, os olhos de Mary se arregalaram e notei um início de um sorriso. - Desculpe, Amin. Você vai buscar a menina Isabelly?

- Vou me acertar com a minha mulher, Mary. Eu a amo e precisamos ficar juntos.

*

 Cerca de meia hora depois, eu já estava na sede da Mansour. Assim que cheguei no andar da presidência, onde minha sala e a de papai ficavam, Lísia, nossa secretária veio ao meu encontro.

- Bom dia, Sr. Amin. O Sr. Mansour aguarda o senhor na sala dele.

- Bom dia, Lísia. Já vou. E, Lísia, viajarei amanhã, sem data prevista para retorno, remarque meus compromissos, favor.

- Sr. Amin, tem duas videoconferências marcadas na quinta e essas são urgentes.

- Tente remarcar para hoje, independente do horário. Resolverei tudo. - Segui para a sala do meu pai e o encontrei lendo o jornal. - Bom dia, papai. – Segui até ele e beijei-lhe a face, me sentando em frente a sua mesa.

- Bom dia. Amin, estive pensando e conversando com sua mãe. Penso que está na hora de você formar a sua família. Na sua idade eu já era casado e você já tinha nascido. Não quero morrer sem ver meus descendentes. 

 - Pai, eu... – Ele ergueu a mão e eu me silenciei.

- Como estava dizendo... Respeito sua decisão de não seguir o islamismo, mesmo não concordando. Sei de seus casos com mulheres aleatórias, inclusive com a jornalista brasileira. - Senti meu sangue bombear mais forte. Nunca escondi meus relacionamentos, mas também não permito a intromissão de ninguém, muito menos meu pai. – Mas espero que você saiba escolher uma moça descente, de boa família e principalmente da minha religião. Não aceitarei na minha família uma qualquer.

As palavras de meu pai fizeram a ira se acender em mim. Nunca bati de frente realmente com ele, conversávamos e resolvíamos as nossas diferenças. Mas esse era um assunto meu. Minha vida, meus interesses. Isabelly é a minha escolha e ninguém, nem mesmo o poderoso Said Mansour mudaria isso. Levantei-me, olhei bem no semblante de meu pai e disse:

- Respeito muito o senhor, seus conselhos, seu estilo de vida, porém na minha vida pessoal quem manda sou eu. E só para conhecimento do senhor, já que seus informantes não fizeram direito o trabalho deles, a brasileira se chama Isabelly e não é qualquer uma. Ela é a pessoa que eu escolhi para ser minha mulher. Estou indo para o Brasil resolver minha vida com ela e nem o senhor, nem ninguém me impedirá.

- Eu te deserdo e coloco seu primo Ramyr como presidente da...

- Faça isso. Entregue de bandeja tudo o que construímos para um mau-caráter, desonesto e inescrupuloso como o Ramyr e veja ruir o sonho do meu avô. Eu abro mão do seus bens, de todo o seu império para ter Isabelly ao meu lado. Para eu ser feliz. – Saí sem olhar para traz. 

Tranquei-me em minha sala e pedi que Lísia passasse apenas as ligações urgentes e avisasse-me dos horários das videoconferências. Eu abriria mão de tudo, menos da mulher da minha vida.

Um amor em Dubai [[Completo]]Onde histórias criam vida. Descubra agora