Capítulo 22 - Isabelly

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Há dois dias a pergunta de meu filho não sai da minha cabeça. "Perdoar é fácil, mamãe?". Para muitos a resposta é simples, sendo ela afirmativa ou negativa. Para mim, ia muito além do sim e do não. A consciência me acusava a todo instante que se eu estava neste ponto do caminho, a culpa era minha, totalmente minha. As justificativas, os meus receios, tudo ficaria mais simples se eu tivesse dito a verdade. 

Confesso que não escondi por vergonha do Théo ou medo de Amin rejeitá-lo. Meu receio era colocar alguém em sua vida que poderia não permanecer, ou melhor, que tinha tudo para não permanecer. Amin não mudaria para o Brasil e eu não deixaria tudo o que construí e superei e nem minha família para ir para Dubai. Confesso que, desde o início, apostei que o nosso envolvimento não daria em nada, seria apenas os dias intensos que vivemos e só. Lego engano. Aqui estou eu, sentada em frente ao computador, tentando alinhar mais uma matéria, mas falhando miseravelmente, pois meus pensamentos estão em Amin. Perdão... Será que ele seria capaz de me perdoar? Será que ele realmente tinha seguido em frente? Será que eu deveria mesmo dar uma chance ao Duda e a sua insistência? Pela primeira vez em meus 26 anos, estou realmente confusa e indecisa. Sou tirada dos meus devaneios pelo telefone que toca alto, causando um susto.

- Alô? - atendo sem olhar.

- Isabelly, aqui é a Joana. 

- Oi, Joana. Aconteceu alguma coisa com o Théo? – Começo a ficar aflita. A escola só liga para mim em caso de emergências. Qualquer outro motivo, minha mãe é quem é comunicada. - O Théo reclamou de dor de cabeça bem depois do recreio, agora ele começou a chorar dizendo que além da cabeça, os olhos estão doendo também. 

- Estou indo. – Desligo o telefone, pego a minha bolsa e saio. 

- Jana - encontro minha amiga no caminho. - , o Théo não está bem, estou indo leva-lo ao hospital. – Aviso minha amiga. – Por favor, comunique a todos.

- Belly, dê notícias e pode deixar que ligo para sua casa. – Apenas assinto e saio em disparada rumo ao carro. Antes de dar a partida, ligo para o médico que acompanha o Théo desde a descoberta de seu problema.

- Alô. Isabelly? – Ouço a voz do Dr. Umberto.

- Dr. Umberto, sou eu sim. O Théo está com muita dor de cabeça e nos olhos, vou busca-lo na escola e levá-lo ao hospital. O senhor... – Sou interrompida.

- Já estou aqui, Isabelly. Traga-o o mais rápido possível.

- Ok. – desligo.

Durante todo o percurso, peço a Deus que proteja meu menino. 

 Senhor, ele é só um bebê. Tem misericórdia. Não permita que seja algo sério. 

Em poucos instantes, chego a escola e Joana já me aguarda no portão. Quando vejo meu filho encolhido no colo dela, não tenho dúvidas: é algo sério.

- Isabelly, eu vou com você. – diz já abrindo a porta do lado do passageiro e entrando com Théo no colo. 

- Amor, mamãe está aqui. Vamos ver o tio Umberto e ele vai nos ajudar. - digo olhando para ele através do retrovisor. Ver o meu príncipe todo encolhido me parte o coração, a vontade chorar é imensa, mas preciso ser forte.

Chego ao hospital o mais rápido que posso, talvez tenha até levado alguma multa por ultrapassar alguns semaforos fechado, mas tudo o que mais me importa é a saúde de Theo e nada mais. Assim que chego no hospital, entrego a chave ao manobrista e abro a porta de tras, pego Theo em meus braços e o aninho em meu colo, beijo sua cabeça e ele não retribui sinto lágrimas inundarem os meus olhos. Ele continua com as maos no olhos e gemendo de dor, ando mais alguns passos e vejo o Dr. Umberto e sua equipe já a nossa espera.

- Bom dia. Sigam-me, por favor. – Acompanhamos o Dr. Umberto até a sua sala no pronto-socorro, coloco Théo sobre a maca e afasto-me um pouco para que o médico faça seu trabalho. - Campeão, conte para o tio o que aconteceu.

- Tio, minha cabeça começou a doer um pouquinho assim – mostrou o polegar e o indicador bem pertinho, confirmando suas palavras. -, mas depois doeu muito mais forte e passou a doer meus olhinhos também. 

- Vamos observar esses olhinhos. - Doutor Umberto diz carinhosamente. 

*

Após Théo ser examinado e medicado, o Dr. Umberto pediu para falar comigo a sós. Joana e meus pais, que estavam na sala de espera, levaram meu menino para fazer um lanche, enquanto eu ficava a par da situação real. Seguimos novamente até o consultório, tomei assento diante do médico e respirei fundo, preparando-me para a realidade.

- Isabelly, o que aconteceu hoje já era esperado. Na verdade, não agora, ele está para completar cinco anos, esperávamos que isso ocorresse mais adiante. Vou recapitular com você os passos dados até hoje e o que faremos daqui em diante.

- Obrigada, doutor. 

- Quando você nos procurou, há mais de dois anos, nós o diagnosticamos com catarata congênita. Sabemos também que no caso de Théo, ela é hereditária e surgiu um pouco mais tarde e em apenas um olho. Na cirurgia extraímos o cristalino e implantamos uma lente intraocular. Por causa da ambliopia, que é a diferença muito grande de grau entre os olhos, houve a dificuldade do cérebro em formar imagens. Por isso, ele tem feito o tratamento para a compensação e estímulo visual. O uso dos óculos, tampões e lentes de aumento, têm ajudado muito no tratamento dele, o que não impede de ele ter a visão embaçada, não conseguir distinguir cores ou ver imagens distorcidas. Assim que ele completar seis anos de idade, a estrutura ocular estará mais desenvolvida e ele será submetido a uma nova cirurgia para trocar a lente implantada anteriormente por uma nova que o acompanhará pela vida.

- E mesmo depois dessa nova cirurgia, quais as chances de ele voltar a enxergar perfeitamente?! - pergunto um pouco esperançosa. 

- Isabelly, uma visão cem por cento perfeita ele não terá, porém o grau irá se igualar e ele passará a enxergar bem melhor. Vamos continuar monitorando e se as dores continuarem, adiantaremos a cirurgia. - Respirei um pouco mais aliviada e não consegui conter as lágrimas. Meu bebê ficará bem. Tirei mais algumas dúvidas com o Dr. Umberto e segui rumo à lanchonete para encontrar o meu amor.

*

Depois que saimos do hospital pude respirar mais aliviada, estava com o meu pequeno quase dormindo em meus braços com a cabeça apoiada em meu ombro. Para ele eu era sua fortaleza, mas, na verdade, quem me mantinha em pé era ele. Ve-ló todo encolhido mais cedo deixou-me sem chão, eu sabia que a sua patologia tinha suas fases ruins mas não imaginei que ele as fosse ter tão novinho assim, ainda bem que a escola já sabia da deficiência do Theo e o aceitarão ali. No início foi bem complicado, mas com muita paciência e amor logo aquele rapazinho gostou o coração de todos. 

Mesmo tendo sua dificuldade Theo sempre se esforçou para aprender, era lindo acompanhar o seu desenvolvimento e claro, não posso esquecer da Laura, sua psicopedagoga, que me ajudou e ajuda até hoje. 

- Filha... - me pai me chama. - Irei com vocês, no seu carro pra casa e sua mãe levara a Joana pra escola, nós viemos de carro também, mas prefiro te acompanhar. Assim, você pode ir no banco de trás com o Theo no colo, sei que sentira mais confortavel assim. - balanço a cabeça  confirmando.

- Belly, fique bem. Nosso pequeno é muito forte... - Joana diz. 

Nos despedimos em frente ao hospital e cada um vai para o seu carro. Entro com o Theo em meu colo e papai na direção, ele me olha pelo retrovisor preocupado. Abaixo minha cabeça e começo a beijar o rostinho sonolento do Theo e sem perceber lágrimas rolam pelo meu rosto.

- Mamãe não chora... - Theo diz passando a mãozinha em meu rosto. - Vai ficar tudo bem...

- Me perdoa meu filho... - digo o apertando mais em meus braços, fecho o meus olhos, e sem entender Theo retribui o carinho.

Não sei como eu pude um dia deixar o meu filho oculto em minha vida, me arrependo de não ter dito ao Amin sobre a sua existência e tudo o que eu mais queria fazer nesse momento é voltar atrás e agora ter o abraço reconfortador  de Amin, enquanto tudo isso que aconteceu seria só apenas um momento.

Um amor em Dubai [[Completo]]Onde histórias criam vida. Descubra agora