Ao L'eu

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Coisa com Coisa
Ouvir dum pensamento,
Jogando ao léu
Palavras ao vento,
Mirando pro céu
Praguejando o tempo.

Pobre coitado!
Do mundo; desconectado
Amante da própria lua
vagabundo, desorientado!
Engenheiro das ruas
Notável oriundo.

Lá se vai mais uma vez
Passos perdidos
Com histórias de português
Há quem lhe empreste os ouvidos
Que o torne freguês
Ao menos esquecido.

... de quando era padeiro,
Do forno a lenha,
do suor, do cheiro,
Dos colegas,
das resenhas,
Dos amores mal resolvidos,
De como se perdera na vida
Dos sonhos perdidos.

...Do duro danado,
Do pão mal'assado
e assando
Do vender fiado
A quém o pagava
Choramingando.

...Murmurava!
Pelas madrugadas.
De tudo, por nada,
Das amantes perdidas,
Das noites às claras,
Da vida bandida,
Da alma algemada,
Da infância esquecida!

A isca amarrada no anzol
Era a sua faísca vegetal,
De sementes de gira sol.
Comida pra animal?
Náilon surtido de nó.

Pescava como quem
Soltasse pipas aos ares,
Cada fisgada:
umas gargalhadas:
Não pelos peixes?
-Pelas pipas cortadas.

-"Quém dera fosse eu um ator"!
 -recitava ele mirando um pairado beija-flor.

Abraçava-se às árvores
Espalhadas na praça.
Como outrora seus amores
Quando a vida tinha graça.

Riscava as paredes comerciais.
Dizia ser artista,
Pichava nos muros seus "ais"
Cambaleava como malabarista!
Arriscava palavras alegoristas.
Sílabas por sílabas.

Cantava na chuva,
Dançando às turbas
Como quem tivesse no palco,
Ouvindo aplausos da sua fiel  plateia:
-"Bravo! Bravo!

Ruivava feito o líder
Da sua própria alcatéia.
Correntes, escravos
Mesa farta, bancateia.

Seu momento seria aquele.
Ao ponto de dó!
Seu destino e sensatez
Não lhe permitia perceber
O Quanto estava só.

De conceitos tão complexos
O ingênuo era eu!
O anadrilho consigo se encontrou:
Quando dessa louca vida
Se perdeu.

RE-fle-XO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora