Capítulo 2°

1.1K 126 544
                                    

POV Yasmim

📍 Rio de Janeiro 27 de janeiro - 19h34

Depois de alguns minutos andando, chegamos a uma praça que estava lotada de crianças brincando de bola, soltando pipa e com muita gritaria. Mas não era confusão; pelo contrário, a felicidade era notável naquele ambiente. Achei o lugar bastante refrescante. O vento forte fazia várias crianças correrem com suas pipas. Alguns homens armados estavam vigiando o local e, novamente, me olharam de forma estranha e voltaram a falar em um radinho. Isso deixava o ambiente pesado, criando um clima estranho. Acho que o medo de estar em uma favela perigosa habitava no meu coração: a insegurança, o medo de morrer. Sentamos em um banco e Gabriela começou a me contar um pouco sobre a Rocinha. Ela estava fazendo faculdade de advocacia, mas o mais engraçado disso tudo é que Felipe, seu namorado, é traficante.

— Amiga, vou te apresentar os nossos amigos. Eles acabaram de chegar.

— Você percebeu que alguns homens estão observando a gente? Gabriela, fiz algo de errado? Por que estou com as mãos suadas? — perguntei, nervosa.

— Calma, Mona, eles são informantes do Rodrigo, são apenas da contenção. Relaxa, você não fez nada de errado.

— Quem é esse Rodrigo de quem vocês tanto falam? — disse, curiosa, me lembrando de quando minha tia mencionou seu nome mais cedo.

— Ele é o dono do morro. Manda em tudo por aqui — disse, gesticulando com a mão.

Fomos caminhando em direção a um grupo de pessoas que estavam reunidas perto da praça. Assim que me viram, alguns olhares curiosos e desconfiados se voltaram para mim. Já esperava por isso, afinal, sou nova na favela, e é normal as pessoas desconfiarem de quem não conhecem. Mesmo assim, o clima parecia tranquilo. O som de risadas ao fundo e algumas conversas jogadas ao vento traziam uma sensação de leveza, apesar dos olhares que me seguiam. Enquanto passávamos, ouvi sussurros e percebi que algumas pessoas comentavam sobre mim. Eu podia sentir o peso de ser a "novata", mas, honestamente, preferi não dar importância. Já tinha decidido que ignorar seria a melhor estratégia, pelo menos por enquanto.

— Pessoal, essa é a minha amiga Yasmim. Ela acabou de se mudar para cá — disse Gabriela, tentando quebrar o gelo com um sorriso acolhedor.

Senti o rosto corar, não estava acostumada a ser o centro das atenções. — Oi... me chamo Yasmim — falei com a voz um pouco hesitante, mas tentando parecer simpática.

— Prazer, eu sou a Mayara — disse uma moça, estendendo a mão de forma amistosa, o que me surpreendeu. Não esperava tanta receptividade de imediato.

Hesitei por um segundo, mas logo sorri de volta, apertando sua mão. Senti que aquele simples gesto podia ser o começo de algo bom. Mayara era realmente linda, com uma presença que chamava atenção sem esforço. Seu sorriso era aberto e sua postura transmitia confiança, mas havia algo de muito acolhedor em seu jeito, o que logo me deixou mais à vontade. Enquanto conversamos, ela me contou que, apesar de morar na Zona Sul, passava bastante tempo aqui na favela. Parecia conhecer todo mundo.

— Eu adoro os bailes daqui — disse ela, com um brilho nos olhos. — E pode deixar, você é minha convidada VIP no próximo. Vai ver como a galera se solta de verdade.

A maneira como ela falou dos bailes me deixou curiosa sobre como seria participar de algo tão diferente. Conversamos por mais um tempo, rindo e trocando histórias. Mayara tinha um jeito fácil de se conectar, e sua risada era contagiante. Enquanto isso, as pessoas ao redor pareciam relaxar, talvez percebendo que eu não era uma estranha qualquer, mas alguém disposta a se enturmar. Logo, os meninos que estavam no grupo se aproximaram, se inserindo na conversa com piadas e comentários descontraídos, como se já me conhecessem há tempos. O clima ficou leve, e comecei a sentir que, ali, naquele espaço, poderia haver lugar para mim também.

TranscendênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora