Capítulo 3°

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POV Mayara

📍 Leblon Rio de Janeiro 29 de janeiro - 06h48 AM

Acordei bem cedo e já sentia uma angústia forte no peito. Abri a janela e fiquei observando a vista do mar e as ondas quebrando. Tomei coragem, e fui tomar um banho, vesti uma calça jeans branca, uma blusa preta e um tênis branco. Sentei em frente ao espelho e me senti estranha; a angústia ficava cada vez mais forte. Fiz uma maquiagem simples, tentando disfarçar o que eu sentia, mas a angústia era impossível de esconder. Ela estava impregnada em mim.

Peguei o celular e, sem pensar duas vezes, mandei uma mensagem para Igor: "Estou com uma angústia estranha, um pressentimento ruim. Não sei explicar, mas algo parece errado." Minhas mãos tremiam levemente enquanto digitava, e essa confissão de vulnerabilidade só aumentava o peso do que sentia. Havia algo no ar, algo que eu não podia ver, mas que estava ali, presente, à espreita.

Joguei o celular na mochila junto com o notebook. Peguei a carteira, com a ideia de vaga de tomar café na padaria, como se isso pudesse me distrair. Desci as escas e minha mãe estava parada, imóvel, com os olhos marejados e uma expressão de cansaço que eu nunca tinha visto antes. Era um cansaço que não era só físico, mas emocional, como se ela estivesse prestes a desabar. Fui até ela, segurando sua mão em busca de conforto, mas o que eu encontrei foi o oposto. Ela soltou minha mão rapidamente, algo que ela queria evitar. O gesto me feriu, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, meu pai entrou na cozinha.

Seu rosto estava tenso, os olhos carregados com algo que eu não conseguia identificar. Desdém? Raiva? Frustração? Não sabia, mas ambos me olharam de uma forma que fez o peso no meu peito aumentar ainda mais. O silêncio entre nós era sufocante, e a sensação de que algo terrível estava por vir só se intensificava. Eu senti que estava à beira de um abismo, mas não sabia como nem por quê. Algo estava profundamente errado, e eu não tinha ideia de como enfrentar o que quer que fosse.

— Pergunte à sua filha a que horas ela chegou ontem — a voz do meu pai ecoou pela cozinha, com uma força que eu jamais tinha presenciado antes. O tom era tão carregado de fúria que fez meu estômago revirar.

— Pai, eu estava na casa da Gabriela ontem, cheguei no mesmo horário de sempre — tentei me explicar, mas antes que pudesse sequer processar o que estava acontecendo, ele me surpreendeu com um tapa no rosto. A força fez meu rosto arder, o impacto me deixou em choque.

— Diego, não! Isso não! Ela é nossa filha! — minha mãe gritou, sua voz carregada de medo e arrependimento. Mas logo ela se calou, como se soubesse que não podia intervir.

— Nossa filha? — ele retrucou com desprezo, os olhos cheios de fúria. — Vagabunda, é isso que ela é. Criamos você com tudo do bom e do melhor, você sempre teve tudo que uma pessoa poderia querer. E o que você faz? Joga tudo fora para se meter com gente da favela! Com qual bandido você está se envolvendo, hein? — O ódio em suas palavras era palpável, e ele se aproximou de mim, sua presença era sufocante.

Eu mal conseguia respirar. — Pai, o senhor está enganado, eu estava na casa da Gabriela! — insisti, tentando manter a calma, mas a voz tremia.

— Mentirosa! — ele gritou, sem me dar chance de continuar. — Eu já cansei, Mayara. Você acha que pode enganar a gente? Você é uma vergonha! Vergonha para essa família! — Ele estava fora de controle, cada palavra cheia de desprezo. — Aquele Igor... — ele cuspiu o nome como se fosse nada, era nítido o seu desprezo. — ...aquele traficante nojento! Ele é um desgraçado, e você se envolveu com ele! Eu sinto nojo de você, nojo!

— Pai, eu juro, não é isso! — mas minha voz parecia tão pequena diante do ódio dele. O silêncio entre nós três era insuportável.

— Saia da minha casa agora! — ele ordenou, cada palavra carregada de uma frieza que eu nunca havia escutado antes.

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