Capítulo 8°

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POV Yasmim

📍25 de março, Rocinha - Rio de janeiro , 00h05 AM

Estou tão exausta que mal consigo andar direito. Hoje foi um daqueles dias na loja que parece nunca acabar, e meu corpo está no limite. Sinto que a qualquer momento vou desabar. Tudo o que eu quero é sair da casa da minha tia Suzana, porque cada dia que passa, o olhar do Guilherme se torna mais ameaçador. Ele me encara de um jeito que me deixa com uma sensação de medo e angústia, e eu não consigo mais dormir sem trancar todas as portas e janelas. Já tentei conversar com a minha tia várias vezes, mas ela está sempre ausente, trancada no quarto, como se não quisesse enxergar o que está acontecendo.

Desde o baile, o Rodrigo sumiu, e com ele, qualquer esperança que eu tinha de que as coisas poderiam melhorar. O Luan também ficou para trás, porque simplesmente sumiu da minha vida. Subindo o morro sozinha, sinto o peso de tudo que aconteceu nos últimos dias nos meus ombros. A noite está tão escura e as ruas tão vazias que cada passo meu ecoa pelos becos, como se eu estivesse sendo seguida por alguém.

Quando entrei naquele beco, o ar ficou pesado de repente. E então, eu vi ele. Guilherme, parado no meio do caminho, com aquele sorriso cínico que me dá vontade de vomitar.

— Tá me seguindo, Guilherme? — minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, mas era o medo que falava por mim. Ele riu, uma risada fria que fez o meu coração apertar meu coração.
— Seguindo? Eu vejo tudo, Yasmim. Você acha que pode brincar de se envolver com traficantes e me ignorar? Tá achando que pode fugir de mim? Você tá louca pra transar comigo, eu sei disso.

O tom sarcástico dele me deixou assustada. Senti um pânico crescente tomar conta de mim. Eu precisava sair dali, mas minhas pernas pareciam presas no chão.

— Se toca, Guilherme! Respeita a minha tia. Eu não quero nada com você, e minha vida não te diz respeito. — Tentei parecer firme, mas minha voz tremia de medo. Ele se aproximou lentamente, o olhar fixo em mim, como um predador que sabe que já venceu a caça.
— Você acha que pode me evitar pra sempre? Não vai fugir de mim, Yasmim. Mais cedo ou mais tarde, você vai ser minha. E hoje, você é toda minha, quer queira ou não.

O desespero tomou conta de mim. Eu comecei a recuar, mas ele foi mais rápido, me encurralando contra a parede. Meu coração batia tão rápido que eu mal conseguia respirar. As lágrimas já estavam escorrendo antes mesmo de eu perceber.

— Sai, Guilherme, me solta! — Minha voz falhou, e eu senti que estava prestes a desmoronar. Ele agarrou meu braço com força, e o pavor me atingiu como uma onda. Tudo o que eu conseguia pensar era em minha mãe, e em como eu precisava dela agora. "Por favor, mãezinha, me ajuda... não me deixa sozinha..." Eu estava aterrorizada, completamente apavorada, e não sabia como sair daquela situação.

Eu quase morri. Meu Deus, eu quase fui... Eu não consigo parar de tremer. Ele estava tão perto, tão... tão certo de que ia conseguir o que queria. E eu não conseguia me mover, não conseguia gritar, nada. Tudo o que eu pensava era que ia acabar ali, naquele beco sujo, sem ninguém para me ajudar. Mas aí, de repente, ouvi a voz da Gabriela quebrando o silêncio, sua voz intensa cheia de fúria.

— Guilherme, se você encostar nela, eu juro que vou te fazer pagar — a voz dela tremeu, mas seus olhos estavam fixos nele. — Você não vai querer arrumar briga com o Felipe e principalmente com o Rodrigo.

Ela estava totalmente empoderada. Como se nada no mundo pudesse derrubá-la. E então ela tirou um radinho da cintura e começou a falar como se estivesse chamando alguém. Guilherme, aquele desgraçado, me soltou na hora e saiu correndo, sem olhar para trás. Se não fosse por ela a mesma correu até mim, o rosto dela ainda cheio de tensão.

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