Capítulo 9°

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POV Rodrigo

📍27 de março, Rocinha - Rio de janeiro , 09h05 AM

Mano, esses últimos dias foi só correria, tá ligado? Nem deu tempo de respirar, era só rajada de fuzil no Morro da Penha, acerto de conta com os rivais, e ainda teve aquela reunião com o Luan no Complexo do Alemão. Tava com a mente na guerra, nem consegui colar na Rocinha pra ver a Yas. Só pancadaria, irmão, sem folga. Guerra é guerra, né? Mas, agora que voltei, o bagulho apertou de vez.

Cheguei na Rocinha achando que ia dar uma respirada, trocar uma ideia tranquila com o Felipe e a Yas, mas qual é? Logo de cara, vi a minha mulher naquele estado frágil, mó vulnerável, na casa do mano. Não acreditei no que meus olhos tavam vendo. Nunca tinha visto ela assim, mó quebrada. Aquela mina alto astral, que sorria por qualquer besteira estava com o olhar triste. Não sei o que rolou na minha ausência, mas cê é louco, aquilo me deixou mal. O que será que a minha mulher passou?

E, pra piorar a situação, vem o Felipe me falar que durante esses dias que eu tava fora, levaram uma carga nossa, mano. Quinze mil de armamento, só preju. Como que deixaram vacilar desse jeito? Tô tentando entender até agora. Já tô bolando as ideias de como vamos reverter essa situação, mas o coração tá pesado, porque além da carga, minha mente tá presa na Yas. Tem algo maior acontecendo e eu preciso descobrir o que foi.

Ontem mesmo, eu tentei passar lá na casa do mano pra ver a Yas, trocar uma ideia, mas o bagulho apertou. Não deu. Tô com a sensação de que tá rolando algo muito mais sério do que eu imaginava. Não é só a carga, nem só a guerra. É ela, tá ligado? O que fizeram com ela que a deixou desse jeito? Minha cabeça não para de rodar com essas perguntas.

Hoje vou tentar desenrolar essa fita. Preciso descobrir o que pegou de verdade. A guerra não pode ser só no morro, às vezes a maior batalha tá dentro de casa, na nossa própria quebrada, nos nossos corações. E eu não vou sossegar até entender o que fizeram com a Yasmim e quem foi o vacilão que nos roubou. Agora é a hora de agir com a mente fria e o coração quente, se liga!

— Fala tu, Igor, valeu pelo corre aí.
— Fala, chefia. Tá tranquilo. Sobre a carga, o Sabiá disse que vai passar a visão.
— Suave, tô na paz. Mas quando eu trombar com aquele filha da puta, vai arder no inferno. — Aí, Igor, e a Yasmim? Que rolou? — perguntei de cara fechada.
— Sei de nada, chefia. Na boca não chegou nada, tá ligado? Mas, ó, a Suzana foi pro hospital, os moleque falaram que depois da químio ela desmaiou e foi direto pra UTI. Ela escreveu essa carta antes de tudo e deixou comigo.

Carta da Suzana - dias atrás

Meu querido Rodrigo,

Eu sempre te vi como meu filho, mesmo sabendo que não fui capaz de ter um. Desde o momento em que você entrou na minha vida, eu soube que era você quem iria preencher o vazio que eu sentia no peito. O amor que sinto por você é imenso, maior do que qualquer coisa que eu poderia imaginar. Mas agora, enquanto escrevo essa carta, sinto o peso de uma verdade que não posso mais esconder. O câncer tomou conta de mim de uma forma que não tem volta. As dores têm sido insuportáveis, e a quimioterapia, que era minha última esperança, não está surtindo efeito. Estou cansada, meu filho, cansada de lutar contra algo que sei que vai me vencer.

Quero que você saiba que, apesar de tudo, eu quero que você se cuide. Nunca se esqueça que você não está sozinho. Eu sempre vou estar no seu coração, te guiando, te protegendo. Nunca vou esquecer aquele dia em que você quebrou meu vidro e entrou na minha vida. Foi a melhor coisa que aconteceu comigo, e sou eternamente grata por ter tido você como filho, mesmo que não seja de sangue.

Rodrigo, eu sei que você se preocupa muito com a Yasmim, e você está certo em fazer isso. Desde que você saiu do morro, as coisas pioraram muito por aqui. Guilherme está cada vez mais obcecado por ela, e eu vejo o medo nos olhos da Yasmim. Eu queria tanto poder fazer mais por ela, mas minha condição me deixou impotente. Eu só posso te pedir, do fundo do meu coração, que você cuide dela. Ela precisa de você agora mais do que nunca.

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