Capítulo 5°

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POV Yasmim

📍Rocinha 15 de março 19h59 PM

Já havia se passado dois meses desde todo o ocorrido no morro. A Mayara estava morando na casa do Igor, e tentando se recuperar do caos que vivemos. A Gabriela estava sempre por perto, e na semana passada, o Felipe me chamou de canto. A gente resolveu as coisas, ou pelo menos tentou. Sei que para ele não foi exatamente um "pedido de desculpas", mas parecia isso. A morte do Gabriel foi um baque na favela, o maior auê que eu já vi. Todo mundo comentava, em todo canto. E o nome do Rodrigo ficou pesado no ar, todo mundo temia ele. Desde aquele dia na casa da tia Suzana, não nos vimos de verdade. Cruzamos pelos becos, mas só seguimos nossos caminhos. O Luan continua sumido, e eu sigo me esquivando, sem dar brecha.

Minha vida mudou muito nesse tempo. Comecei a trabalhar numa loja de calçados em Ipanema e agora acordo todo dia às cinco da manhã. Chego em casa tarde, depois de pegar ônibus, metrô e ainda encarar a subida até o morro. Mas fiquei mais corajosa. Agora consigo sair à noite do trabalho sem ficar tão apreensiva. Desde que o Guilherme surtou comigo, dizendo que "fui um peso pros meus pais e agora tô sendo pra minha tia", nossa relação mudou bastante. Não digo uma palavra se quer com ele, com a minha tia Suzana, o carinho continua o mesmo. Ela é um amor, sempre me escuta quando conto como foi o meu dia. Hoje consegui sair mais cedo da loja e fui pra praça, tentar descansar um pouco a mente. Sentei num banco, sentindo o cansaço dos últimos dias.

— Yasmim, amiga! Que saudade! — a Gabi veio me abraçando apertado.
— Consegui sair mais cedo da loja, também tava com saudade - retribuí o abraço.
— Amiga, hoje é sexta, dia de baile. Vamos? Você prometeu que ia comigo.
— Ah, Gabi, não sei... Amanhã trabalho cedo e vou ficar um caco.
— Bora, Yasmim. Beber, dançar. Você mesma disse que tava precisando fugir dos pensamentos.
-— A Maya vai com a gente?
— Não, o Igor pediu um tempo na boca e os dois estão em casa — ela respondeu, meio cabisbaixa.

Ficamos conversando um bom tempo até que decidi ir pra casa. Precisava arrumar meu quarto e me preparar pro baile. Quando cheguei, o Guilherme estava jogado na sala, e minha tia Suzana já estava dormindo. Arrumei meu quarto, tomei um banho e sentei na beira da cama, encarando minhas roupas no guarda-roupa. Escolhi algo simples, mas com estilo: um vestido preto, tênis branco e acessórios prateados pra completar o visual. Fiz uma maquiagem leve, soltei meus cachos e me olhei no espelho. Estava me sentindo poderosa, gostosa. Peguei minha bolsa, coloquei batom, chiclete, e passei meu perfume favorito. Avisei a Gabriela que estava pronta.

Já era meia-noite e meia quando saí de casa, sabendo que o baile só fica bom de madrugada. Por um instante, cometi um deslize. Entrei num beco, sem iluminação. Um arrepio percorreu pelo meu corpo, e meu coração começou a bater mais rápido.

— Cê e essa mania de entrar em beco escuro — a voz do Rodrigo ecoou pelo beco. Senti um misto de medo e excitação.
— Sabe, Rodrigo, eu gosto da sensação de perigo — respondi, tentando manter a voz firme, mas provocativa. Ele se aproximou, seu corpo quente colado ao meu.
— Tu gosta de brincar com fogo, né? — ele disse, me puxando pra mais perto.
— Quero te beijar, te mostrar o que eu sei fazer. Te dar prazer, mas você não é pra ser beijada em beco, não — ele sussurrou no meu ouvido, sua voz grave me fazendo arrepiar.

Ele pegou minha mão e me guiou até a moto dele. Subimos até o alto do morro, entramos numa rua que eu nunca tinha visto. Ele desceu da moto em frente a um portão preto, que se abriu. Estacionou a moto na garagem e abriu a porta da casa. Quando entrei, nossos olhares se cruzaram, e senti o peso da situação. Eu estava na casa dele, na casa do Chefe do tráfico. Sentei no sofá, observando ele parado na minha frente.

— Relaxa. Não vou fazer nada contigo. Vou tomar um banho, e depois cê vai pro baile comigo, no meu camarote, se ligou?

Ele subiu as escadas sem olhar pra trás, e não tive tempo para exitar, fiquei ali olhando em volta. A casa era linda, por dentro e por fora. Móveis planejados, uma mesa de sinuca. Tudo do jeito dele, cada canto tinha traços da sua personalidade. Comecei a explorar um pouco mais e encontrei um quarto que me chamou a atenção. O som do chuveiro me indicava que era o dele. Entrei e vi algumas fotos em porta-retratos. Uma delas me fez parar. Rodrigo estava com uma mulher ruiva, no topo do morro. Meu coração acelerou. Será que ele era casado? O que eu tava fazendo aqui? Me peguei imaginando mil coisas, sentindo horrível e bastante culpada.

Fiquei tanto tempo perdida nesses pensamentos que não notei quando o barulho do chuveiro cessou. A porta se abriu, e lá estava ele, só de toalha, o abdômen molhado, com gotas de água escorrendo. Seu cabelo grisalho e corpo miletricamente perfeito me fizeram perder o fôlego. Meu coração errava as batidas, e a tensão entre nós crescia a cada segundo.

— Não esperava te ver aqui. Aquela mulher na foto... É minha ex-mulher, Mariana. Ela foi embora faz alguns anos — ele disse, me tirando do transe.
— Confesso que pensei outra coisa... — falei, meio sem jeito.
— Sabe, Yasmim, desde aquele dia no beco... Eu não consigo parar de querer isso.

Ele se aproximou, e antes que eu pudesse responder, me puxou pra si. Nossos lábios se encontraram, e o beijo foi intenso, nossas línguas se exploram. O calor e o desejo no ar eram palpáveis, e eu me entreguei completamente. Quando nos separamos para respirar, nossos olhares se encontraram de novo, e voltamos a nos beijar, um beijo cheio de desejo e luxúria. Eu o queria de todas as formas, queria sentir seu toque. Sua mão deslizava pelo meu corpo, e pude sentir seu pau, duro sob a toalha fina. Meu corpo reagia de forma incontrolável, minha lingerie já estava encharcada de tanto tesão.

— Hoje, não! Primeiro você vai ter que me conquistar — me soltei dele e saí do quarto rapidamente.

Aquele beijo, o calor, o tesão... Tudo me fez querer mais, mas eu queria provocar, queria deixá-lo no limite. Voltei para o sofá, esperando ele descer. O tempo passou devagar, e acabei cochilando. Acordei com as mãos firmes dele no meu ombro, e sabia que aquela noite ainda estava longe de acabar.

Quando chegamos ao baile, a energia era inexplicável. O som das batidas do funk, e a multidão se agitava em um ritmo frenético. Rodrigo, como o chefe do tráfico, tinha um respeito quase sagrado ali. Assim que ele pisou na entrada, os olhares se voltaram para nós, e uma onda de sussurros percorreu o lugar. Eu podia sentir o peso dos olhares em cada passo que dava ao lado dele.

Subimos para o camarote, e o tudo só ficou mais intenso. O camarote de Rodrigo era o mais alto, o mais luxuoso, com uma vista panorâmica do baile. De lá, dava para ver toda a movimentação lá embaixo, as pessoas dançando e curtindo como se não houvesse amanhã. As mulheres ao redor lançavam olhares de pura inveja, e eu sabia que elas se perguntavam o que eu estava fazendo ali, ao lado do homem mais temido e respeitado da favela. Assim que entramos, ele pediu uma bebida para mim. O garçom me trouxe um copo com uma bebida forte, que desceu queimando, mas logo comecei a me soltar, me sentia cada vez mais à vontade. A música alta, com batidas pesadas, fazia o corpo inteiro vibrar.

Ele estava ao meu lado, de olho em cada movimento. E foi então que decidi me soltar de verdade. Fui para o centro do camarote e comecei a dançar. No início, os olhares se fixaram em mim, como se ninguém esperasse que eu fosse tão ousada. Mas eu estava ali para curtir, para esquecer tudo o que estava fora daquele lugar. Enquanto eu dançava, sentia o olhar dele sobre mim. Ele estava boquiaberto, completamente fixado nos meus movimentos. As mulheres ao redor, que antes me olhavam com desprezo, agora me fitavam com um misto de inveja e curiosidade. Elas podiam sentir a química entre mim e Rodrigo, e isso as deixava ainda mais incomodadas.

A cada movimento, a cada rebolada, sentia o poder que tinha sobre ele. Rodrigo, que costumava ser tão seguro e imponente, agora estava ali, hipnotizado, sem conseguir tirar os olhos de mim. Eu me sentia no controle, e isso só me fazia querer dançar mais, me entregar completamente àquela experiência. A música, o ambiente, os olhares. Tudo conspirava para tornar aquela noite inesquecível. Eu estava no topo, ao lado do homem mais poderoso da favela, e sabia que, a partir daquele momento, nada mais seria como antes.

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