Capítulo 6°

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POV Rodrigo

📍 16 de março, baile da Rocinha, 03h05 AM

O baile tava lotado, cheio de piranha rodando, mas minha cabeça só pensava na desgraçada da Yasmim. Ela dançava daquele jeito, mão no joelho, jogando o cabelo pra trás, rebolando com aquele sorriso safado pra mim. Só de lembrar do beijo dela, meu corpo todo ficava anestesiado. Comecei a virar o whisky puro e a fumar, enquanto os manos me chamavam pra embrazar na pista. Dançamos umas três músicas, só pra aquecer.

Foi aí que o radinho apitou, avisando que os alemão tinham chegado. Não vou muito com a cara do Luan, mas a aliança tá firmada, então deixei ele e os aliados subirem o morro, ainda mais pra curtir o melhor baile do Rio.

— Fala tu, meu bom — Luan chegou com aquela cara cínica de sempre.
— Fala, meu mano, veio curtir o baile? — peguei meu cigarro e dei uma tragada, soltando a fumaça devagar.
— Não só o baile, tô na intenção hoje — ele se jogou do meu lado, todo folgado.

O silêncio pesou, constrangedor mesmo, até que ele avistou a Yasmim dançando. O olhar dele mudou na hora, ficou boquiaberto, secando ela de cima a baixo. A gente se entreolhou e a maldade tava estampada na cara dele. Queria minha mulher, eu já sabia.

— Tá ligado que essa daí é minha, né? — soltei seco.
— Relaxa, Rodrigo, tô só admirando — Ele deu um sorriso, mas era aquele sorriso de sacana, tá ligado?
— Admira de longe então, mano. Aqui o papo é reto. — Minha voz saiu firme, mas o sangue já tava fervendo.
— Tu tá nervosinho por quê, mano? — Luan deu uma risadinha, se levantando devagar. — Mulher não é dono de ninguém não.

Nesse momento, minha mão já coçava pra sacar a peça. Me aproximei dele, firme, encarando de perto, minha mente tava tonta já, não só por ela, mas pela nossa rivalidade. Nego entra no meu morro e ainda vem me tirar de otário.

— Te liga, Luan. Respeita meu território ou vai dar ruim pra tu. A Yasmim já tá no meu nome.

O clima ficou tenso. O baile rolando, mas nós dois ali, prontos pra resolver na bala se fosse preciso.

— Fica na tua, Rodrigo. — Luan recuou, mas os olhos dele diziam que essa história ainda não acabou.

E foi aí que eu soube: essa noite ainda ia dar merda. O filho da puta ficou o tempo todo secando ela com os olhos, e a Yasmim, sem se importar com nada, continuava descendo doses de bebida. Meus consagrados finalmente deram as caras. O Felipe não vem mais nos bailes porque, se ele bebe, automaticamente vai querer se drogar, então ele fica só na contabilidade.

Fiquei um tempão parado, bem posturado, bebendo meu whisky e tragando meu cigarro. Em um ato inesperado, a Yasmim se aproximou e me beijou. Nossas bocas se encaixavam perfeitamente, e geral na pista olhava de relance pra gente. Quando nos separamos, o Luan me olhava com aquela cara cínica. Tocaram várias músicas e a Yasmim já tava sentada do meu lado. Depois de um tempo, ela quis ir embora. Me ofereci pra levar ela e ela aceitou. Antes de levar ela pra casa, recebi uma mensagem: "Boa noite, filho. Estou passando mal em casa. Enrola a Yasmim para que ela não perceba."

Minha mente bateu a maior neurose. Não podia levar ela pra casa, ela desconfiaria. Então decidi levar ela pra minha casa, sem maldade.

No caminho, Yasmim começou a vomitar por causa do excesso de bebida. Parei o carro, ajudei ela, limpei tudo. Quando chegamos em casa, deixei ela dormir no meu quarto e fui pra sala. Fiquei lá, encostado no sofá, pensando em tudo. O baile hoje tava lotado de mulher, mas minha cabeça só pensava na Yasmim. Ela dançando daquele jeito, me provocando, e agora aqui, dormindo na minha cama. Eu só queria que essa confusão com o Luan não acabasse mal, mas algo me dizia que essa história ainda ia render. Papo reto, escorei um pouco no sofá e a minha mente viajou.

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