Transcendência

Capítulo 4°

POV Rodrigo

📍Rocinha Rio de janeiro 10 de janeiro - 05h15 AM

Acordar hoje foi mó sufoco, zicado mesmo. Noite foi um lixo total, irmão. Dei mole de cair no sono na casa de uma dessas minas interesseira, sempre um terror aquilo lá. O corpo pedia arrego, mas o sono que é bom, nada. Levantei com o ódio estampado no peito, pesadão mesmo.

Hoje o dia é de correria na favela, mas antes vou dar um pulo na casa da Tia Suzana, tia da Yasmim. A véia é chave demais, valorizo ela como se fosse minha coroa, sacou? Caminho pensando na Yasmim. Desde que rolou aquele rolo com a Mayara, a mina tá lá, colada na amiga, dia sim, dia também, lá no posto.

A parada com a Vanessa ontem foi furada. Mesmo rolo de sempre, depois do corre ela vem com esse papo de "Quando é que tu vai me assumir? Quero ser a primeira dama". Isso mó me irrita, mano. Essas minas só querem status, ficar no trono, mas não tão ligadas no que rola por trás de tudo isso. Hoje eu levantei virado, só no ódio!

— Bom dia, amor, acordou cedo hoje — ela murmurou, acariciando meu abdômen suavemente.

— Vanessa, corta essa de 'amor'. Tu sabe que entre a gente não tem mais nada? — falei, levantando bruscamente e me vestindo rápido.

— Poxa, sempre tão grosso? Só comigo é assim? E pras outras, você não economiza, né? Silicone, lipo...

— Cala essa boca, Vanessa! Não vem com esse papo furado logo cedo! — gritei, minha voz subindo um tom. — Vai procurar um emprego decente, para de tentar sugar os outros. Quer mordomia? Acha um trouxa pra te bancar, porque aqui já deu!

— Rodrigo, por que você...

— Chega! — interrompi, sem paciência. — Acha que eu sou banco? Vai jogar esse teu jogo barato pra outro lado. Eu trabalho duro, não estou aqui pra sustentar aproveitadora.

Ela tentou dizer algo mais, mas eu já estava de saída, batendo a porta com força, o sangue fervendo com irritação. Chega desse teatro todo. Eu não sou homem de ficar enrolando com mimimi, irmão. Relacionamento? Tô fora dessa. Já passei pela roubada de ser casado, e essa merda eu não desejo pra ninguém, não mesmo. Só de pensar já sinto o estresse subindo, a raiva tomando conta. A única que conseguiu bagunçar minha cabeça foi a Yasmim. Eu preciso da presença dela, sentir o cheiro dela, o gosto. Só de lembrar daquele corpo... Mano, a gente trocou umas ideias rápidas e foi o suficiente pra eu querer mais, muito mais. Naquele dia no beco, quando nossas respirações se misturaram, eu só queria sentir a boca dela na minha, queria ela de verdade, sem jogos, sem drama. Subi na moto e rumei pra boca. Ainda tava cedo, mas eu precisava ver o movimento, sentir o clima do lugar. Mas no fundo, eu tava ansioso pra ver ela, pra sentir a vibe dela de novo. Era isso que me movia agora.

— Caralho, que susto, Rodrigo! — Felipe exclamou, colocando a mão no peito, parecendo um doido girando a cadeira de um lado para o outro.

— Tá devendo nessa porra, né? — provoquei com deboche.

— Manda o papo, o Gabriel disse que tu dormiu na casa da Vanessa, mano. Dormindo na casa da mais rodada do morro, é isso mesmo?

— Vai se foder — respondi, mostrando o dedo para ele.

— Hoje o dia tá foda. Parece que a Gabriela tá naqueles dias de neurose, enchendo minha mente com papo de piranha, morro, droga. Tô limpo faz tempo e ela não vê isso. Aquele dia, bateu a neurose de ver ela no colo do Igor, papo de ciúmes mesmo. Quando chego em casa, a Gabriela começa a encher meu saco. Vim pra boca bolado!

— Caralho, virei psicólogo agora? Mermão, ouve aqui com atenção: essa parada tá te consumindo demais, tá ligado? A situação com a Gabriela tá difícil, eu sei, mas tenta pegar leve. Comunicação é chave, irmão. Senta lá com ela, olha no olho dela, e fala com sinceridade sobre como tu tá se sentindo, sobre o esforço que tu tá fazendo pra ficar limpo, sobre os ciúmes, tudo. Mostra que tu quer o melhor pros dois. É fundamental ela ver o teu lado também, entender que tu tá tentando.