Capítulo 9

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Ser escritor num país onde dizem que poucas pessoas gostam de ler, não é algo tão glamoroso quanto pode parecer

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Ser escritor num país onde dizem que poucas pessoas gostam de ler, não é algo tão glamoroso quanto pode parecer. Vemos filmes inspirados em biografias de grandes autores, ou aqueles filmes fictícios que contam histórias de escritores, e ficamos com impressão de que ser escritor é algo cheio de momentos de pura exultação, e frases de efeitos que arrebatam as pessoas. Isso é uma enorme besteira! Devo ter vendido quase dois milhões de livros em breve, já apareci algumas vezes na televisão, e fui a programas de radio, mas aposto que o padeiro do meu bairro não sabe disso, eu ando pela rua e não há uma legião de fã me cercado. Ser escritor não é ser celebridade instantânea, ou qualquer coisa que a grande maioria das pessoas aprecia. Ser escritor é passar horas e horas diante de uma máquina de escrever, ou um computador se você for mais moderninho. É fazer dez paginas de anotações, e rascunhos, para depois usar apenas um terço antes da primeira revisão. Se tiver alguma sorte, e a mídia gostar de você, talvez você consiga ter alguma nota num jornal falando de uma leitura aberta, ou uma entrevista com algum estagiário da sessão de cotidiano. A sessão de cultura é destinada aos autores que tem uma obra consolidada, leia-se que já tinha obras primas escritas antes de você nascer.

Ser escritor é abrir mão de ir a encontros com amigos nas noites de quarta feira, porque tem que aproveitar algumas horas para organizar um capítulo que ficou confuso. É muitas vezes ouvir as pessoas dizerem que escrever não é profissão, e que se continuar vai desperdiçar anos valiosos de sua vida com um sonho de criança. É ouvir comentários que seus livrinhos só vendem porque tem um rostinho bonito, e as garotas se impressionam. Mas principalmente ser escritor é amar as palavras, e saber que contar histórias é o único modo eficaz de perpetuar nosso modo de viver, desde os tempos da caverna. E que não importa se o que escreve é ficção, ou fatos históricos você está contribuindo para que a experiência e sabedoria humana seja passada para as futuras gerações. Escrever é partilhar partes intimas de seu próprio ser.

Foi pensando nessas coisas que decidi que desde o ano de dois mil e um, eu iria criar um grupo de escritores talentosos, quer fossem experientes, ou novatos, onde pudéssemos trocar experiências, e nos apoiar. Eu tinha consciência de que tive uma grande sorte porque a minha família sempre esteve inserida no universo literário, mas existiam autores como eu, e até mais talentosos, que não tinha suporte nenhum para mostrar ao mundo seu trabalho. Com ajuda de alguns amigos da editora eu identifiquei alguns escritores que tinham submetido seus originais, mas que não tinham tido sucesso em publicar, e ainda alguns que não tinham uma rede boa para divulgação de seus livros, que acabavam empacados. Depois convidei autores de sucesso de minha editora, e de outras casas, afinal o grupo não seria da editora, mas de autores, uma rede de apoio, e sustentação. Alguns autores recusaram o convite por não se interessarem na ideia de ajudar autores iniciantes, mas sei que muitos se ressentiam porque eu era um garoto de dezesseis anos, e vendia mais livros que eles com tantos anos de carreira. Não os julguei, afinal tinham o direito de escolher seus parceiros. E eu sei que alguns aceitaram pelo mesmo motivo, para embarcar na onda de vendas que seguia meus livros. Isso também não me importou.

O nosso primeiro encontro foi em BH, e doze autores participaram, foi ótimo de muitas maneiras, tanto pelo bate papo que tivemos, e dicas que foram trocadas, quanto pela disponibilidade que todos mostraram de ajudar. No segundo duas semanas depois foi melhor ainda, vinte pessoas participaram, como o primeiro foi na Livraria Torres, mas dessa vez em São Paulo. Como já tínhamos um bom numero de participantes, resolvi que devíamos fazer os encontros bimestralmente, para não ficar pesado para ninguém. Fiquei feliz em ver que as pessoas compraram minha ideia de que juntos poderíamos fazer bem mais do que disputando um espaço que poderia caber todos.

A Valentina estava comigo nessa empreitada, e foi muito importante para convencer alguns autores mais experientes. Um lindo sorriso e uma fala firme de uma mulher sempre tem um bom efeito nas pessoas. Nunca houve hierarquia no grupo, ele não nasceu para ser uma organização, mas um encontro de pessoas que tem interesses comuns, para traçar parcerias vantajosas para todos. Se as pessoas me viam como líder do grupo era simplesmente para ter alguém para indicar, não por imposição minha. Com o passar do tempo tivemos que ser mais seletivos com quem convidávamos para o grupo, mas naquela altura aceitávamos as pessoas desde que tivessem interesse em aprimorar seus conhecimentos do mercado editorial, e fossem participativos. Chegamos a ter reuniões bem grandes, ao ponto de a livraria ficar cheia, e pessoas ficarem para fora. Mas não no começo, estou adiantando a história a um ponto que não sei se chegaremos aqui.

A vida de escritor na maioria das vezes é bem solitária, e sozinha, então esses nossos encontros se tornaram momentos únicos que podíamos ser nós mesmos, e as pessoas ao redor entenderiam. É indescritível ver bons livros sendo discutidos antes de serem publicados, e depois ver se tornarem sucesso, como você já sabia que aconteceria. Só que ama de verdade livros, e é apaixonado pelas palavras pode entender essa sensação.

Quando "Depois do Amanhã" ficou pronto e eu enviei para a editora a versão final do manuscrito, eu compartilhei com os colegas de grupo, e a reação deles foi tão efusiva, que ali soube que apesar de necessitar de ajustes finos, aquela tinha sido uma das melhores ideias que eu já tive na vida. O livro ficou extremamente melhor por que tive com quem discutir ideias, e esclarecer pontos importantes. Por exemplo, o Rodrigo Borges, um escritor brilhante de ficção realista, e formado em geografia pela federal do Rio Grande do Sul, me ajudou muito nas referencias geográficas para as descrições dos lugares que personagem principal Gabriel Rodrigues viajou em sua busca de seu lugar no mundo. Sem ele eu não teria tido a acuidade nas descrições, que tanto recebeu elogios. E tantos outros que me apoiaram quando estava cansado demais, e sem ferramentas para descrever o que era preciso.

A Valen dizia eu era o príncipe dos escritores, não apenas pelos motivos que a mídia anunciava (beleza, bom papo, e minha idade), mas principalmente por minha generosidade, e cuidado com as pessoas. Eu nunca me vi dessa forma, às vezes até me achava um pouco egoísta, porque apesar de todos os benefícios que tinha por nascimento, ainda usufruía o que era gerado no grupo. Mas Deus sabe que eu não o criei para tirar proveito das pessoas, e isso me consolava.

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