Capítulo 1

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Você já viu as estrelas? 

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Você já viu as estrelas? 

Elas não precisam de autorização para brilhar, assim também é você.


Tínhamos acabado de passar pela apreensão do "boom do milênio", e o medo velado de que o mundo acabasse na virada de ano. Não que eu, ou qualquer pessoa conhecida por mim tivesse pirado, mas soube de história bem malucas. Mas a maioria tinha aguentado bem, e até tentado ignorar essa coisa de ter a navalha sobre a cabeça. Na época eu tinha recém completado dezesseis anos, e só queria aproveitar o período de férias para escrever meu segundo romance, o primeiro tinha conquistado relativo sucesso, então eu não podia deixar os leitores esperando pelo segundo. Segundo meu agente, que também é meu tio.

Como um garoto de quatorze, para quinze anos tem um agente literário, e lança um livro de sucesso? Acho que um ponto importante é que minha família está no mercado literário a cinco gerações. E como eu disse meu tio é meu agente desde então, o que foi mesmo providencial, pois ele é um dos melhores agentes do país. Tê-lo como agente foi uma das condições que meu pai colocou para autorizar a publicação de "Até o Último Suspiro". Nós acreditávamos muito na história, e não estávamos errados, pois no primeiro ano 100 mil cópias foram vendidas, em três tiragens, e o livro figurava em todas as listas de mais vendidos. De repente de adolescente comum, eu era uma estrela literária, confesso que estava muito bem com isso. Ir a programas de televisão, e dar entrevistas nunca foi um problema para mim.

Naquela altura todos queria saber sobre o próximo livro do precoce Narciso Torres, o que não sabiam é que em eu estava empacado na história, num bloqueio criativo, embora eu não confessasse isso às pessoas. Sempre dizia que tudo ia de vento e polpa e que o livro estaria em breve nas livrarias. Às vezes completava dizendo que pelo menos nas Livrarias Torres estaria. Numa alusão aos negócios da família. Eu não me importava se as pessoas achavam que eu era um sucesso por conta da história de minha família, no mínimo se eles estivessem certos eu tinha sorte de ter nascido naquela família, e sempre serei grato. Por isso eu mesmo fazia brincadeiras com isso, e também porque sempre tive certeza da qualidade e verdade, do que escrevo.

Após meu aniversario decidi que iria me dedicar a vencer o bloqueio criativo, e terminar o romance antes do final das férias, mas não ajudava muito meu melhor amigo insistir em me levar a festas, e sociais. Eu sempre fui uma pessoa totalmente social, e amo festas, mas naquele momento eu precisava focar em escrever a história que estava em minha mente, mas eu não conseguia colocar no papel. Levei dias para conseguir convence-lo que teria que ir as festas sem mim, ou quase isso, porque nunca foi fácil convencer o Gustavo que escrever podia ser divertido, e me satisfazer mais que ir a uma festa.

Numa sexta feira ele chegou a minha casa de surpresa.

-Cara, você tem certeza que não vai a festa da Betina? Você pode escrever a qualquer momento, mas essa festa vai ser demais. Um final de semana inteiro de festa no sitio da família dela. – Ele disse me abraçando – E eu sei que seus pais estão fora nesse fim de semana.

Beijo de Verão [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora