Capítulo especial: maratona 1/4

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POV Yasmim

📍16 de maio, Rocinha - Rio de janeiro , 02h03 AM

Acordei com a cabeça pesada, distraída pelos pensamentos sobre Gabriela e Felipe. Enquanto Rodrigo estava fora, resolvi tomar um banho, esperando que a água quente lavasse não só o cansaço, mas também essa sensação amarga que insistia em ficar. A realidade da nova vida no morro era difícil de engolir: um lugar que misturava paz aparente com desafios pesados.

Ao sair do banho, o vapor ainda embaçava o espelho. Fiquei um tempo ali, encarando meu reflexo, me enganando seriamente. Como foi que eu vim parar aqui? Perguntei em silêncio, mas a resposta não vinha. A cama onde me deitei mais cedo ainda carregava o cheiro de perfume amadeirado e maconha, aquele cheiro familiar que era a marca do Rodrigo. Fechei os olhos por um momento, tentando sufocar uma avalanche de pensamentos, mas eles vinham sem piedade.

Rodrigo voltou mais tarde, com o olhar distante, parecendo pensativo.

— Passei na casa da Gabriela e ela me entregou essa mochila com umas roupas — disse ele, largando a mochila pesada sobre a cama.

Senti um aperto no peito. Gabriela... Como ela tá? Não queria perguntar, mas as palavras escaparam dos meus lábios antes que eu pudesse pensar.

— E como eles estão? — minha voz falhou.

Rodrigo deu de ombros, puxando o ar como se as palavras pesassem.

— O Felipe saiu numa missão com o Luan. Gabriela... — Ele parou por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras certas. — Tava chorando quando cheguei lá. Papo reto, o namoro deles tá afundando. Não vai durar.

— Que horror, Rodrigo — comentei, sentindo uma pontada de tristeza pela situação dos meus amigos.

Ele suspirou antes de mudar abruptamente de assunto:

— Bora pra Angra? Agora tá suave, sem polícia.

Concordei, e enquanto Rodrigo arrumava suas coisas, coloquei minha mochila no porta-malas do carro. O interior do veículo estava limpo e com cheiro amadeirado, e os vidros escuros que impactavam ao redor. Assim que me sentei no banco da frente, liguei a rádio, buscando algo que pudesse quebrar o silêncio que estava entre nós. Escolhi um pagode para animar um pouco o ambiente. Rodrigo deu um sorriso de canto, e soube que acertei na escolha.

— Essa viagem vai ser boa pra gente, né? — perguntei, tentando puxar a conversa enquanto observava a paisagem que passava rapidamente pela janela.

— Vai sim. precisamos desse tempo, sabe? Distância do caos — respondeu ele, mantendo os olhos na estrada.

Nossas conversas eram vagas, intercaladas com longos períodos de silêncio. Cada um perdido em seus pensamentos. Eu lutava para encontrar um sentido em tudo o que estava acontecendo, enquanto Rodrigo parecia cada vez mais distante, preocupado com seus próprios problemas no morro.

A estrada para Angra dos Reis era cansativa, porém a vista e magnífica. Mesmo iniciando o amanhecer, o sol já aparece no horizonte. O ambiente e uma fuga visual das preocupações que nos atormentavam, mas o peso delas ainda estava presente. Aos poucos, meu olhar se tornou distante e meus olhos pesaram; sem perceber, acabei adormecendo ao som suave da música e ao ritmo da estrada.

Ao abrir os olhos, a luz do amanhecer invadiu o carro. A estrada dava lugar a uma trilha de terra, até uma casinha aconchegante próxima à praia. A casa não ostentava luxo, mas exalava um conforto rústico, tão ao meu gosto, com suas janelas abertas para o mar e móveis de madeira desgastados pelo tempo.

— Chegamos — disse ele, estacionando com um sorriso. — Olha esse nascer do sol, Yasmim. Dá uma energizada só de olhar, né?

Eu concordo. De longe, ouvia os barulhos das ondas quebrando. O deslumbre da vista à beira-mar me encantou, e o fato de estar com ele me fascinou. Esse seria o momento que tanto imaginei para nós dois.

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⏰ Última atualização: Oct 13 ⏰

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