Harry
Quando o punho de Mackenzie Phillips socou a minha mandíbula enquanto eu apenas desempacotava caixas, eu realmente pude ver um pouco de mim. Seus olhos arregalados e sob alerta de qualquer movimento brusco, a boca entreaberta, o coração acelerado e a adrenalina corroendo suas veias. Era um perfeito vislumbre, como se eu me visse há alguns meses atrás brigando nos Hamptons com alguns playboys imbecis ansiando pelo sangue deles escorrendo entre meus dedos. Contudo, mesmo que a fúria de Mackenzie fosse insana, seu soco era devidamente como um soco de um fundador de um grupo de xadrez. Fraco e inseguro, movido por um sentimento de ódio que se embaralhava com o medo. Uma clara evidência de um alguém que se preocupa com os bons modos.
Eu mal tive tempo de raciocinar o que estava acontecendo, apenas devolvi o soco como um reflexo maldito de minhas constantes brigas em Nova York. Mackenzie caiu no chão com o rosto machucado e logo um aglomerado de pessoas começou a se juntar ao nosso redor.
Mas o filho de Norman não desistiu, tentou novamente me socar, porém eu desviei e lhe desferi outro soco que o deixou atônito. Após isso, os meus parentes começaram a aparecer com as expressões de preocupação, porém nenhuma delas carregava algum traço de "surpresa". Acredito que todos esperavam que o filho de Tom não tardaria a arrumar outra confusão. Mesmo que dessa vez eu não tenha tido quaisquer intenção de me envolver com a violência. Mas óbvio, ninguém acreditaria em mim.
Porém, estranhamente, Jane fugiu à regra.
Jane Mellark conseguia me surpreender de todas as maneiras com suas atitudes. É como se eu achasse que já tivesse uma certa previsão sobre o seu próximo passo mas acabasse sendo pego de surpresa todos os dias por sua personalidade peculiar e bondosa. Aliás, Jane me deixava intrigado apenas por ser Jane, inclusive por seu beijo.
Eu me sentia estranho após a noite passada.
É, acredito que "estranho" seja a melhor palavra.
Na verdade, havia sido um turbilhão de emoções diferentes para mim. Uma sensação de adrenalina com uma mistura de curiosidade que haviam sido respondidas pela "surpresa".
Quando toquei os lábios de Jane, senti algo que não sentia há anos, uma pequena sensação de ter feito algo certo. Mesmo que fosse moralmente incorreto me envolver com algum membro da sua família, não senti culpa alguma, na verdade, senti que deveria ser assim.
Mesmo que no início eu não tivesse qualquer intenção de beijá-la, sendo a proposta apenas uma forma de deixá-la sem saída e tendo que me responder à pergunta sobre Scott, no final eu havia sido surpreendido pela emoção que ocupou meu peito. Não, não era paixão, era algo diferente, era como uma conexão, uma conexão entre Jane e eu. Tudo bem que havia sido apenas um selinho e que não dava para descobrir muito sobre os segredos labiais da Mellark irritante, mas fora o estopim para desencadear meus pensamentos confusos.
Entretanto, talvez para ela não tenha tido qualquer significado.
— Vocês não podem simplesmente acusar o Harry sem prova alguma, apenas por seus achismos! — Jane me tirou de meus devaneios, cujo o motivo era ela, para me defender.
— É só você usar o seu cérebro para pensar em tudo o que ele fez nessa semana! — Cooper se levanta se exaltando feito um valentão de ensino médio.
Era cômico como Cooper perdia quaisquer suavidade no modo de falar quando o assunto era eu me dar mal.
— Ei, Cooper, pode ficar quietinho aí! — Tio Anthony ordena.
— Então porque o Mackenzie não se defende? — Jane questiona no intuito de prosseguir com sua defesa.
Sinto-me grato por seu questionamento perspicaz.
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AS NOITES
Teen Fiction🥇 PRIMEIRO LUGAR NO CONCURSO DA LIGA BR WRITERS " Sempre te guiarei para casa não importa o que aconteça." A história de um rapaz vazio que coleciona fracassos e frustrações e uma menina que sempre busca seguir seu coração, mas se perde em seus pró...