Harry
As noites que passei em Creekside estavam sendo as melhores noites de sono que eu já tinha tido em toda a minha vida, definitivamente as mais tranquilas e de um sono renovador. Na qual um simples travesseiro e um cobertor eram o suficiente para acalmar meus nervos que estavam sempre à flor da pele, não sendo necessários calmantes ou qualquer outro relaxante como antigamente. Daqui não se podia ouvir sirenes, buzinas ou qualquer som proveniente do tráfego que lhe deixava alarmado. Apenas o vento, os animais noturnos e um céu estrelado límpido que abraçava a noite. Era algo que antes achava hipoteticamente impossível.
Talvez não fossem apenas boas noites de sono, mas sim o cansaço e fadiga acumulado durante todos esses anos que extravasavam numa cama.
E mesmo eu odiando esta cidade, não poderia negar que em quesito de dormir, ela era a melhor escolha. Talvez o Brooklin não me permitiria um belo descanso físico e emocional.
Portanto, ao mesmo tempo que Creekside me proporcionava os melhores sonhos, também me proporcionava as mais pensativas noites. Eu perdia as horas pensando em minha vida, em minhas escolhas enquanto encarava pela janela as árvores balançando sobe um vento frio de outono e uma lua que nunca tinha sido tão brilhante para mim.
Era como se ainda fosse um garotinho em minhas noites de verão, pensando em como eu poderia me desculpar com o papai por não ser um bom filho que consegue controlar sua raiva, perdido em seus próprios medos e crises existenciais.
Sobrecarregado por algo que não queria ser, mas que não conseguia lutar contra o impulso de se tornar.
Estavam sendo noites confusas e intensas, gerando um turbilhão de emoções sutis que quando eu menos esperava, escorriam por minhas bochechas e eu não conseguia mais controlá-las. Era como se em todos esses anos, eu me sentisse forte e independente, mas na verdade estava fraco e sozinho. Mesmo que eu nunca admitiria isso a ninguém.
Esses quatro dias que estou aqui, foram os dias mais pensados que últimos meses. Tantas coisas estavam acontecendo comigo e eu não conseguia administra-las mais. Eu sempre optava por ignora-las, beber uma cerveja, dormir com alguma garota ou fazer qualquer outra coisa que me distraíssem e me fizessem pensar que nada disso era importante. Mas no fundo eram, mais importantes que qualquer coisa, porque estavam dentro de mim.
Na noite passada quando acompanhei Jena numa casa qualquer para um reunião com adolescentes tão superficiais quanto ela, cumprindo minha parte do trato. Eu observava quanto eles também muitas vezes ignoravam o que importava com atitudes completamente vazias e imaturas que no final só se acumulariam com os seus sentimento mal resolvidos. Eram rasos demais, sem nada a oferecer além de corpos e materiais.
Eram como eu.
Mas ao menos, eu já havia me dado conta da minha condição.
Mas aquilo não me incomodou por muito tempo naquele instante, já que, logo eu estava a misturar diversas bebidas e ingeri-las sem qualquer preocupação. O álcool era por conta da casa, então não tive nem tempo de me conter.
Lembro que encheram um grande recipiente e tive de virá-lo inteiro até meus olhos revirarem e de pular numa piscina e quase me afogar.
E de novo, como o ótimo e enganador efeito do álcool, lá estava eu sorrindo para pessoas que só sabiam dizer o quanto eu era rico e sortudo por morar em Nova York e beijando garotas completamente desesperadas para contar para as amigas que beijaram um milionário. Para piorar, a cidade é um cubículo e com certeza eu viraria um assunto nada agradável por ela.
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AS NOITES
Roman pour Adolescents🥇 PRIMEIRO LUGAR NO CONCURSO DA LIGA BR WRITERS " Sempre te guiarei para casa não importa o que aconteça." A história de um rapaz vazio que coleciona fracassos e frustrações e uma menina que sempre busca seguir seu coração, mas se perde em seus pró...