The song

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No começo do turno fiquei pensando no porquê daquele mistério com o caderninho, qual o motivo desse segredo todo? Parecia que eles não queriam que eu notasse a existência dele e isso só havia me deixado mais curiosa, precisava perguntar para alguém, a vítima seria a pessoa que dividiria o balcão comigo hoje
-Matt, o que é aquele caderno?- o garoto se engasgou com o gelo que chupava, o cuspiu na pia e tossiu algumas vezes olhando para mim com os olhos arregalados
-que caderno? Nossa, acabou a tônica, vou buscar mais- Helders respondeu andando rápido para a cozinha, não sem antes esbarrar na parede quando havia olhado para trás, droga, eu morreria de curiosidade. A noite foi agitada para uma quarta, a banda convidada tocava covers de bandas de rock, como Metallica e Nirvana, enquanto Matthew batucava no balde de gelo e eu cantava, era uma das minhas pessoas favoritas de dividir o balcão, nós sempre fazíamos uma bagunça, Joe tentou nos dar um sermão uma vez mas desistiu quando notou que os clientes gostavam
-vem cantar na Arctic Monkeys-
-e o Alex?- perguntei entrando na brincadeira, o baterista deu de ombros me jogando uma garrafa de vodca, tínhamos uma sincronia quase perfeita
-não quero saber do Turner, ele pode ficar como contador oficial do Joe-
-acho que o Joe também me prefere- disse com uma voz falsamente convencida e o baterista riu alto negando com a cabeça
-ele vai precisar ganhar de mim em uma disputa de...-
-espadas?-
-não mesmo, ele ganharia fácil- gargalhei imaginando o Helders e o Joe em uma luta de espadas, ambos com roupas de náilon e aquelas máscaras de esgrima.

Consegui me distrair pelo turno inteiro, porém quando estávamos fechando Nick veio se despedir e eu vi o caderno no bolso lateral da sua mochila, junto com fones de ouvido e meias limpas
-ei, Alex disse que quer ir no cover do Michael, vamos amanhã?- Jamie perguntou colocando o casaco, depois se olhou no pequeno espelho para arrumar o cabelo e virou sua atenção para mim
-eu topo, que horas?- falei enquanto Nick e Matt abriam a boca em uma exagerada reação de surpresa, era tão exagerada que facilmente caberia uma bola de tênis ali
-ela topou ou eu tô louco?-
-acho que nós estamos loucos, eu também ouvi-
-até parece que vocês já me chamaram pra sair milhares de vezes-
-claro que não, tem que mandar um convite formal assinado pela rainha-
-meu Deus, vocês são manés, só digam o horário logo- disse empurrando levemente o baixista que dançava aleatoriamente ao meu lado, eles eram uns bobos, precisava me segurar para não rir
-a gente se encontra aqui amanhã, no mesmo horário, o Rex é na esquina do lado- confirmei com a cabeça, estava verdadeiramente animada, não tinha saído muitas vezes com amigos, no máximo íamos comer alguma coisa perto do colégio, então aquilo era verdadeiramente empolgante. Alex demorou um pouco para aparecer, pensei em sair sem ele mas achei que seria muito idiota da minha parte, afinal, Turner havia se oferecido para me deixar em casa e eu precisava no mínimo avisá-lo
-vamos?- o vocalista disse aparecendo do nada e abrindo a porta, concordei com a cabeça, não fazia mal deixar que ele me acompanhasse hoje, só dessa vez, certo?

Ele me entregou um dos seus fones que tocava Last Nite do The Strokes, começamos a cantar e dançar o máximo possível sem que os fones caíssem
-os meninos disseram que você topou em ir com a gente pro Rex- Alex disse após algum tempo, estávamos quase chegando, a playlist dele era incrível e bem parecida com a minha
-topei, quero muito ver o cover do Michael-
-vai ser divertido-
-ei, posso te perguntar algo?-
-pode...- Turner me encarou meio receoso, olhei para o chão antes de voltar minha atenção para ele enquanto apertava minhas mãos
-o que é aquele caderno que vocês passaram uns pros outros o dia inteiro? Perguntei pro Matt mas ele fugiu- Alex riu, aliviado, e eu não consegui evitar de fazer o mesmo, sua risada era engraçada
-é o caderno que uso pra escrever umas ideias de músicas, pedi pra eles serem discretos mas aparentemente é impossível-
-discretos por que? Eu não podia saber?-
-ainda não tá pronta-
-é a que você disse que ia me mostrar?-
-sim- Alex respondeu com um sorrisinho, encarou o chão e chutou uma pedrinha, mordi a parte interna da minha bochecha, aquela ansiedade voltou ainda mais forte, queria muito ler a letra dessa música
-por que você é tão misterioso? Que droga-
-é o meu charme, mas relaxa, daqui a pouco vai tá pronto- Turner disse passando o braço ao redor do meu ombro e me balançando aleatoriamente, meu coração começou a bater de uma maneira surreal, como que esse menino mexe tanto comigo? Quando o fone caiu do meu ouvido ele me soltou e o devolveu, fone idiota, por que tinha que cair? O resto do caminho foi silencioso, tirando as batidas do meu coração que pareciam tambores, não sei se estava ficando louca mas era quase possível sentir a pulsação no meu dedão do pé
-seu irmão tá te esperando- Alex disse vendo que o Ben nos encarava da porta, meu host brother entrou quando percebeu que o notamos, aposto que ele estaria vermelho de vergonha
-parece um porteiro- falei e rimos juntos, quando paramos nós nos encaramos por alguns segundos, queria convidá-lo para entrar novamente mas minhas bochechas coraram só de imaginar, como poderia falar? Será que algo como...
-no que tá pensando?-
-no Brasil- falei rápido e Turner sorriu, foi a coisa mais aleatória que eu podia dizer, mas não consegui pensar em nada melhor que isso
-saudades de casa?-
-um pouco, da minha família, principalmente-
-você é do Rio de Janeiro, né?-
-não, do Ceará-
-não faço ideia de onde fica- o vocalista disse sincero, concordei rindo, nenhum dos meus amigos fazia ideia
-os gringos só conhecem São Paulo e o Rio-
-de fato- Bejamin abriu a porta devagar e o garotou deu um sorrisinho
-eu vou andando, te vejo amanhã?- concordei com a cabeça enquanto Turner dava as costas e seguia pela rua, subi alguns degraus sentindo as borboletas no meu estômago se acalmarem um pouco, parecia que a montanha russa havia chegado ao final
-ei, M- Alex falou alto de onde estava e a sensação voltou, virei na sua direção
-vou trabalhar na música e te mostro amanhã- sorri concordando com a cabeça, o garoto acenou com a mão e a colocou no bolso da calça, entrei em casa rápido, mal podia esperar para o outro dia, o que será que a letra dizia? Coloquei a mão sobre o coração e respirei fundo algumas vezes.

Stop making the eyes at meOnde histórias criam vida. Descubra agora