Pintando o Amor

(Re)Começo

Emma

— "Eu não sabia mais sonhar, eu preferia só ficar, sozinha nessa estrada... Eu esquecia quem sou eu, eu refletia como o breu..." — cantarolo, assim que ultrapasso a porta do meu apartamento. Descobri algumas músicas brasileiras e, ultimamente, tenho me aventurado em cantá-las.

E sim, eu tenho um apartamento ao lado da casa dos meus pais, porém, quase não passo tempo algum aqui. Foi herança de vovó e, no início da Faculdade, da rebeldia da adolescência e do fogo no rabo de "precisar de mais espaço".

"Minha boca não consegue mais,

desgrudar da tua pele, da sua saliência, dos teus sais.

De tudo que emana aqui, quando o amor a gente faz e nunca é demais..."

Largo a bolsa sobre o sofá e vou largando várias peças de roupa pelo caminho, chegando ao quarto somente de calcinha. Tiro-a, pego uma toalha no guarda-roupa e vou para o banheiro tomar uma ducha.

Faz uma semana que estou tendo aulas com Regina e, sinceramente, não estou sentindo diferença alguma em relação ao meu humor. É claro que isso depende muito do dia e do clima. Regina é, de longe, uma das pessoas mais calmas que eu conheci. Ela tem uma paciência para explicar, para pegar em minha mão e traçar uma linha, perfeitamente, reta, com o pincel de ponta fina.

Hoje, sexta-feira, combinamos de fazer a aula ao ar livre, em um parque que tem aqui em nosso bairro. Regina quer que eu me sinta influenciada pela natureza, pelas pessoas e, assim, tentar fazer a minha primeira pintura de paisagem.

"Ah se eu pudesse descobri de onde vem o seu poder

Onde mora o seu mistério, o seu remédio

Prescrito pra me absorver do mundo que ficou

Pra trás..."

Entro sob o chuveiro e o ligo. A água batendo em meu corpo, chega a fazer meu corpo dar espasmos, devido a baixa temperatura não esperada. Começo a pular, enquanto giro a alavanca que tem ao lado da ducha. Com a temperatura da água ajustada, volto a entrar sob o chuveiro e, dessa vez, suspiro, tentando encontrar um ponto de relaxamento naquela espécie de massagem que recebia nas costas, devido a pressão forte com que a água saía.

O som da água me faz relaxar de uma maneira ímpar e, para quem se pergunta sobre o que é ASMR, eu digo. Segundo o Google, ASMR é a sigla para: Autonomous Sensory Meridian Response (em português significa: "resposta sensorial autônoma do meridiano"), neologismo para uma experiência sensorial que consiste em uma sensação de prazer e relaxamento intenso bem característicos.

Mas, para mim, é como um orgasmo cerebral. Mamãe tem pavor, nem gosta de ouvir sobre isso. Porém, não é sobre gostar e não gostar. É sobre ter o ASMR ou não ter, entende? E, por sorte, eu tenho! Lembro-me de Regina ter ficado surpresa, de forma positiva, ao me ouvir dizer que sua voz me causava uma boa sensação. Inclusive, vou perguntar a ela sobre isso, hoje.