Clara, que havia sido carregada por Samanta para o quarto que "ocupava", andava de um lado para o outro, feito uma fera enjaulada no zoológico sendo incomodada por uma criança qualquer em passeio, louca para sair dali e ir até o quarto de Angélica, onde esta se encontrava com sua mãe.
Sam observava o vai e vem agoniado de sua irmã caçula em silêncio. Ela também estava nervosa com tudo que acontecia. Seu papel, ela já estava fazendo, pensava, até que bem. Havia ficado ao lado de sua mãe que estava totalmente desestabilizada após descobrir o envolvimento de Clara com sua melhor amiga, conversou com ela, explicou o que sabia e o que achava dessa situação toda e agora, estava de "âncora" de sua irmãzinha para que as duas mais velhas tenham uma conversa franca entre amigas.
– O que será que elas estão falando? – Clara sussurrou, roendo as unhas da mão e caminhando de cabeça baixa pelo quarto. – Será que elas estão discutindo?! – Perguntou alarmada, parando e encarando sua irmã mais velha, que sorriu de lado com o jeito preocupado da jovem.
– Calma, Clara! – Falou estendendo a mão em direção a menor, que respirava aceleradamente. – Senta aqui antes que você abra um buraco nesse chão ou coma os dedos, vem!
– Não tem como ficar calma, Sam! – Clara respondeu passando as mãos pelos cabelos, que neste instante estavam presos em um rabo de cavalo. – Meu coração parece que vai sair pela boca de nervoso! – Completou, arrancando um riso de Samanta, que se levantou e foi até a mais nova.
– Ei... fica calma, pirralha. – Falou pegando as mãos geladas da caçula. – Se elas estivessem brigando nós escutaríamos. – Disse, a puxando para sentar na cama consigo e buscando acalmá-la. – Fica tranquila, mamãe agiu daquela forma porque, além de ter sido pega de surpresa, estava nervosa, confusa com tudo isso. – Sentou-se com Clara ao seu lado e aproveitou para olhar detalhadamente para a área no rosto da mais jovem onde Glória havia acertado o tapa. A marca ainda estava lá, avermelhada, mas, graças aos cuidados de Angel, estava bem menor que antes. – Deixa elas terem esse momento, elas precisam acertar as coisas. – Concluiu, acariciando levemente a bochecha esbofeteada.
– Eu... – Clara tentou falar, mas se sentia confusa, nervosa até as tampas com isso tudo. – Só queria que elas se acertassem e nós pudéssemos seguir nossas vidas sem brigas, desentendimentos... sabe?! Como uma família. – A menina falou abaixando a cabeça desanimada. Podia pesar muitas coisas, mas, ela devia admitir, a reação exagerada de Glória ao flagrá-las, mesmo nessas circunstâncias, a estava preocupando muito.
– E quem disse que não vamos?! – Sam questionou, cruzando as pernas e apoiando o rosto na mão cujo o braço estava apoiado em seu joelho.
– Eu sinto que algo pode dar errado... – Clara sussurrou hesitante. Ela estava com medo, essa era a verdade.
Samanta observava o jeito cabisbaixo da mais nova, detalhava seu aspecto e sua feição. Aquele semblante cansado e chateado de Clara cortava seu coração, porém, ela sabia que tudo era questão de uma conversa franca entre todas. Obviamente que algumas coisas teriam que ser esclarecidas, alguns pontos colocados e "regras" criadas, mas, nada que não se resolveria com a cabeça fria, os neurônios funcionando.
Diante dessa constatação, ela sorriu cortesmente e se aproximou da mais nova, a puxando para um abraço apertado, cheio de carinho e apoio, algo que ela percebia que era necessário para acalentar o coração angustiado da sua irmãzinha.
– Não deixa o medo te cegar... te enganar diante das coisas. – Falou em um tom baixo, confortável, enquanto acariciava os cabelos de Clara, que suspirava pesadamente. – Mamãe está em choque, isso não é uma mentira... creio que ela nunca esperou vivenciar algo assim. – Disse apoiando seu queixo sobre a cabeça de sua irmã. – Mas, ela é uma mulher madura, inteligente e de um excelente coração. Deixa a Angel e ela conversarem, se acertarem, e depois fale com ela sobre seus sentimentos, seus desejos, para o que se seguirá... tenho certeza que ela vai buscar o melhor para todas. – Completou, afastando-se de Clara e, num ato carinhoso, levando as mãos ao rosto da mais nova e erguendo-o para que ficasse frente a frente com o seu.
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O Sol Sempre Brilha (Romance Lésbico)
RomanceEm um pequeno povoado no interior de Minas Gerais vive Angélica... uma mulher assombrada por uma tragédia no seu passado e que se afundou na vida reclusa para expurgar seu sentimento de culpa. Vivendo calmamente, como uma pequena produtora, solícit...