Capítulo 2 - Rebeldia e Rotina

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Fazia quase 5 dias que Glória havia ido embora de Simão das Águas, se debulhando em um pranto, deixado sua filha mais nova para que Angélica cuidasse.

Antes de aceitar essa tarefa de cuidar da jovem rebelde, Angélica ponderou demais e também conversou diversas vezes com a amiga, tentando achar uma saída para aquele "problema". Ela entendia o medo de Glória, dos perigos que sua filha estava se submetendo ficando em São Paulo, mas entendia também que a garota rebelde iria se rebelar muito mais ao se sentir deixada para trás.

Depois de ver o desespero estampado no rosto de sua melhor amiga, de sua irmã de alma, Angélica, mesmo a contragosto, acabou topando cuidar da adolescente, mesmo sabendo que teria uma das maiores dores de cabeça de sua vida.

Ana Clara, como era de se esperar, estava fechada, revoltada e evitava todo e qualquer contato com Angélica. Acordava, isso se dormia, todos os dias antes das 07:00 e saía para os fundos da chácara, só voltando no final da tarde, para tomar banho e se trancar no quarto.

Durante esse período Angélica até pensou em tentar se aproximar e conversar com a garota, mas ela sabia que aquilo não adiantaria muito, pois as coisas ainda eram recentes. O máximo que ela ia lograr seria uma discussão e, se bobeasse, que Clara fugisse de casa, então para evitar atritos desnecessários, ela preferiu deixar a jovem em "paz" por um tempo.

O problema era que, como dito, já havia-se passado, praticamente, uma semana e nesse período Ana Clara não compareceu ao colégio e nem vinha se alimentando direito, o que já começava a preocupar a mulher.

Já estava caindo as 18:00 e Angélica acendia o fogão a lenha para poder preparar o jantar, quando ouviu Amarelão, seu cachorro mais velho, latir, anunciando a presença de alguém. Ao se virar, logo conseguiu ver Ana Clara entrando na grande varanda e, como sempre, fazer menção de passar por ela sem nem mesmo dizer um simples "oi".

– Espera, Ana Clara. – Angélica falou, chamando a atenção da garota que parou, mas nem se virou para olhá-la. – Olha... eu sei que deve estar sendo um baque pra você viver num lugar como esse... comigo, uma pessoa que você mal conhece... mas... hmm... acho que já está na hora de você tentar se adaptar um pouco... – Tentou dizer, mas foi interrompida com um risinho baixo vindo da garota, o que a fez parar e a olhar. – Eu disse algo engraçado?!

– O que você quer?! – A garota perguntou em voz baixa, ainda sem olhar diretamente para a sua anfitriã.

Ao ouvir a pergunta de Clara, Angélica suspirou calmamente e levou uma das mãos a nuca, coçando levemente, um cacoete que ela levava consigo desde muito pequena e que saía a luz quando ela se sentia sem palavras ou constrangida.

– Bem... hmm... – Murmurou sem graça. – Eu só queria conversar com você... porque, você aqui comigo, sou responsável por você e você não come direito, faltou ao colégio todos esses dias...

– Olha só, Angélica... – Ana Clara falou, se virando lentamente e, finalmente, encarando a mulher. – Eu sei que estou na sua casa, que minha m... – Hesitou, mordendo o lábio inferior, era claro que ela estava muito ressentida com a atitude de Glória e isso não passaria tão rapidamente. – Minha mãe me deixou aqui, no meio desse fim de mundo contigo... mas não pensa que palavras bonitinhas vai me fazer mudar minha atitude e nem que eu vá agir como se nada estivesse acontecendo.

– Eu não queria... – Angélica tentou falar, mas logo foi interrompida novamente.

– Que se dane o que você queria! – A adolescente falou de forma ríspida, mas sem subir o tom de voz. – Eu pouco me lixando para o que você quer ou deixa de querer... – Disse, fazendo Angélica arregalar os olhos espantada com a atitude da jovem. – Me deixa em paz e não teremos problemas, tá legal?! – Finalizou, entrando na casa e deixando a mulher parada na varanda.

O Sol Sempre Brilha (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora