Ao ouvir o grito estridente de Glória ecoar por todo o espaço, Angélica e Ana Clara se afastaram assustadas e afoitas, encarando a mulher que mostrava uma feição nem um pouco satisfeita. Estava claro que ela nunca imaginou flagrar sua filha caçula e sua melhor amiga numa situação como aquela.
– Mãe... – Clara tentou falar, mas a sua voz falhou, enquanto Angélica estava com os olhos arregalados e respirando nervosamente, sem saber o que dizer ou fazer.
– Eu não acredito que você foi capaz de fazer algo como isso, Angélica! – Glória exclamou apontando para a mulher, que abriu a boca, mas não conseguiu falar nada. – Ela é minha filha... – Disse apontando para si e dando um passo para frente. – Uma adolescente de 17 anos... uma MENINA! – Gritou atordoada, levando as mãos para os cabelos.
– Mãe... a gente pode explicar... não é nada disso que você está pensando... – Clara tentou falar, mas nem conseguiu terminar sua frase, sendo interrompida pela sua genitora.
– Cala já a boca, Ana Clara Tomas Lima! – Glória proferiu irritada. Sua voz estava carregada de desgosto e raiva. – Eu estou falando com ela... – Apontou para Angélica. – Não se mete que isso é assunto de adultos, não seu.
– Mãe?! – Samanta, que acordou atordoada após ouvir o grito de sua mãe deu, chamou aparecendo ali naquele instante. Ela ainda não estava entendendo muito bem o que havia acontecido, mas, pelo clima e feição das três, ela já conseguiu ter uma ideia.
– Samanta, leva sua irmã para o quarto, preciso ter uma conversa séria com essa mulher. – Glória respondeu sem olhar diretamente para a mais velha, ainda encarando Angélica de maneira intimidadora.
– Mãe... – Clara tentou falar novamente, mas em vão.
– Ana Clara... eu já falei! Entra já com sua irmã, porque meu assunto é com ela e não com você. – Glória retrucou apontando para Angélica.
A atmosfera naquele momento estava carregada, pesada a ponto de poder ser cortada com uma faca, fazendo uma analogia simples. As quatro mulheres estavam tensas, era uma mistura de revolta, decepção, medo, tristeza, tantos sentimentos que não seria possível mensurar. Elas se olhavam, cada uma com uma expressão diferente, mergulhadas em seus pensamentos, em seus silêncios necessários.
– Clara... o que aconteceu aqui? – Samanta perguntou, cortando a quietude e fazendo a mais nova a olhar.
– O que aconteceu aqui, Samanta?! – Glória falou com a voz cortante. – O que aconteceu foi que eu peguei minha melhor amiga... a mulher que eu nunca pensei que fosse me trair, aquela em quem eu confiaria minha vida sem pensar duas vezes, agarrada, aos beijos com sua irmã mais nova... uma adolescente menor de idade. – Completou, vendo como neste instante as lágrimas escorriam pela face de Angel.
Ao ouvir o que sua mãe terminara de dizer, Samanta fechou os olhos e levou a mão ao rosto. Ela sabia que a mãe um dia descobriria essa situação, porém, esperava que fosse de uma forma mais branda, contada pelas duas namoradas depois de uma conversa e a preparação mental da mulher que, apesar de estar mostrando uma leveza fora do comum, superação do momento que passou com Antônio, ainda carregava consigo a dor da traição do homem com quem havia formado uma família, com quem construiu uma vida que ruiu de um dia para o outro. "Por que vocês foram tão imprudentes?!" foi a única coisa que passou por sua cabeça naquele segundo.
– Clara... – Sam falou, chamando a atenção da irmã mais nova que transbordava aflição. – Vem comigo... mãe, você também... vamos conversar, esfriar a cabeça e depois... – Tentou terminar, mas foi logo interrompida.
– NÃO! – Clara respondeu em tom alto, nervosa e apertando os punhos.
– Clara, por favor, cabeça quente nunca é bom pra decidir nada, falar nada. – Tentou novamente, mas sem resultado.
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O Sol Sempre Brilha (Romance Lésbico)
RomansaEm um pequeno povoado no interior de Minas Gerais vive Angélica... uma mulher assombrada por uma tragédia no seu passado e que se afundou na vida reclusa para expurgar seu sentimento de culpa. Vivendo calmamente, como uma pequena produtora, solícit...