Capítulo 3 - Feira de Domingo e Colégio Novo

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Naquela noite, Ana Clara rolou na cama durante horas. Com seus fones plugados no celular, deixava Everything Changes do Soja tocar e embalar seu momento de desespero. Realmente, pensar em tudo que estava para começar aquela semana a fazia estremecer dos pés a cabeça.

Apesar de terem se recolhido cedo, por volta das 21:00, a adolescente só conseguiu, realmente, dormir quando já passavam da meia-noite e, quando pensou que embarcaria no verdeiro sono REM, ela foi puxada por toques na porta e o som da voz de Angélica a chamando.

– Anda, Ana Clara! Não podemos demorar! – A mulher falou acendendo a luz e tendo como resposta a garota enfiando a cabeça embaixo do travesseiro.

– Meu Deus! Por favor, me deixa dormir mais um pouco. – Murmurou com voz de reprove.

– Não dá, menina! – Angel retrucou já com a voz com sinais de perda da paciência. – Preciso alimentar os animais e regar a hortaliça antes de sairmos. – Falou e Clara pode ouvir o barulho de algo que parecia líquido, o que a fez erguer os olhos e encarar a mulher assustada, dando de cara com ela segurando um balde com água.

– Não acredito que ia me molhar de novo! – Exclamou perplexa com a atitude da mulher.

Se fosse preciso. – Angélica respondeu com um sorriso sádico na face. – Mas eu sei que não vamos precisar chegar nesse ponto, né?!

Diante da ameaça nem um pouco velada da mulher, Ana Clara bufou revoltada, mas, buscando não arrumar mais confusão, resolveu levantar.

– É assim que eu gosto! – Angélica disse animada, uma disposição que irritava ainda mais a jovem. – O café já está na mesa, se troca, toma e vem no galpão me ajudar. – Completou, saindo dali e deixando Clara sozinha com seu desgosto.

Puta que pariu! Eu devo merecer, hein?! – Exclamou pegando o celular, que estava sobre a cama e olhando as horas: 05:20 da manhã. – Porra... essa mulher é o que?! Galinha pra acordar tão cedo! – Falou se levantando e se arrastando para pegar suas roupas e se trocar.

A passos ligeiros, pois precisava acompanhar a anfitriã, Clara fez seu desejum e ajudou a mulher a cuidar dos porcos – tendo em vista que Angélica já havia alimentado as galinhas – e também regar as plantas da horta, saindo da chácara por volta das 06:20 e pegando a estrada em direção a Córrego.

– Poxa vida! – Ana Clara falou entre um bocejo, encostando a cabeça no encosto do carro. – Por que a gente tem que acordar tão cedo assim?! Mano, você disse que a feira começa por volta das 07:30... não tinha a necessidade de correr tanto. – Falou reclamando e fazendo Angélica rir.

– Não é tão simples assim, menina. – Angélica falou, mas sem se virar para olhar a garota, pois precisava manter sua atenção na estrada de terra à sua frente. – Quando vou pra feira, não retorno antes de meio dia... nunca aconteceu. Precisava alimentar os animais e também regar as plantas... não posso ser negligente com meu ganha pão. – Explicou.

– Os animais eu até entendo, mas a horta?! – Clara retrucou, olhando para fora e agradecendo que pareceria que havia caído uma chuva durante a madrugada, pois assim a poeira amenizava e sua rinite não ficava atacada.

– Não é tão simples, minha jovem. – Angélica disse entre risos. Ela estava se divertindo com o jeito reclamão da adolescente. – Se eu não molho as verduras da horta bem cedo, quando o Sol ainda não nasceu ou ainda está bem fraco, os raios queimam as folhas devido ao sereno da madrugada acumulado nelas. – Explicou, desviando o olhar rapidamente para a garota. – Não posso deixar meu sustento ir por água a baixo por falta de cuidado.

O Sol Sempre Brilha (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora